Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Hino de Manuel de Oliveira

Já deve ter dado por si muitas vezes a indagar sobre a personalidade que, ao longo da História, mais o impressionou. Não é tarefa fácil -(conforme ficou mais ou menos demonstrado no programa "Os Grandes Portugueses" que a RTP, baseando-se num formato internacional, fez passar em Portugal, devidamente enquadrado na História portuguesa.

O resultado como se lembram foi, no mínimo, como é que hei-de dizer isto? Foi desconcertante! Um manancial riquíssimo para os Psis tentarem desatar o nó da personalidade dos portugueses. Desconfio que ainda devem andar nas primeiras tentativas)- chegar a uma conclusão porque, felizmente, em todos os tempos muitos homens e mulheres –pela sua estatura moral, pela capacidade inventiva, pela amplitude de horizontes, pela bravura e sensibilidade- autenticaram, notavelmente, a sua passagem pela Terra e souberam, apesar das dificuldades e incompreensões de várias épocas, encontrar a forma de irromper da multidão.

Leonardo da Vinci, Newton, Chopin, por exemplo, ao darem o passo em frente que os transportou aos espaços da imortalidade ainda hoje continuam a fascinar gerações. O que os terá feito diferentes? Um conjunto de causas e circunstâncias, onde a curiosidade e a insatisfação não estiveram ausentes. Só as pessoas permanentemente curiosas e insatisfeitas têm a marca da diferença e são capazes de impulsos geniais, tal como Galileu, quando marcava o tempo da queda dos objectos que deixava cair da Torre de Pisa.

Não era o desejo da glória que o movia, era o seu espírito curioso em acção. Recordar a vida de homens assim aviva-nos a necessidade de abandonarmos, de vez em quando, a estrada de asfalto e aventurarmo-nos pelos campos. É preciso descobrir, hoje, qualquer coisa nova. É preciso, hoje, ter um pensamento novo. Aproveite a vida. Como disse Wendell Holmes: “Quando uma nova ideia alarga o espírito do homem, ele nunca mais volta à sua dimensão primitiva”

Ao lembrar-me de personalidades portugueses notáveis ocorrem-me muitos nomes já que, felizmente, a lista é longa e de grande qualidade mas reportando-me aos dias de hoje, no campo das Artes, lembro Manoel de Oliveira. Fascina-me. Deslumbra-me mesmo e, confesso, não o conheço pessoalmente -cruzei-me três vezes com ele em Cannes e parece-me que pouco mais-.Não devo ter visto mais do que dois filmes seus; portanto, não sou fã. Nem aguerrida, nem serena, mas publicamente garanto que vou ver o seu último filme "Colombo". O tema interessa-me e sinto uma mão forte e invisivel que me empurra para uma sala onde a película esteja em exibição.

Como se sabe Manoel de Oliveira, há dias, tomou conhecimento -ele e todos nós, a notícia veio publicada nos jornais-, que a partir do próximo ano deixará de receber subsídio para fazer mais filmes. Bomba. Ora o"mestre", no mínimo, já deve ter em formação mental mais três filmes, ou serão sete? Ou mesmo nove?O que fará, então, com as suas ideias claras, definidas? Com aquele humor precioso e subtil? Com a determinação invejável que o orienta e estimula? Onde vai arrumar os sonhos e praticá-los numa realidade colorida que o alegra? Como vai ele coabitar (numa calma para onde querem empurrar) com o espírito independente e indomável que agora o caracteriza?

Deixar de fazer filmes?Manoel de Oliveira? Pela ausência de subsídio? Nunca! Pela idade? Que idade! 99 anos? Mas há quanto tempo, senhores, ele ultrapassou a barreira comum dos mortais! Já bebeu pelo Cálice da Vida e saboreou-o com tal prazer que se transportou para o caminho dos deuses. Apaixonou-se pelo gosto de viver e ponto final. Quem manda é ele e nessa festa, que é a sua vida, 99 anos apenas marca horizontes nas fronteiras dos seus projectos. Futuros projectos , queria dizer.

Ora é precisamente a capacidade de Manoel de Oliveira ter constantemente novas ideias, de ser um curioso e um insatisfeito, de ter impulsos geniais e saber destacar-se da multidão que me deslumbra e fascina. Estrear e participar num filme seu, aos 99 anos, é um Hino à Vida.

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