Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

domingo, 16 de dezembro de 2007

Saudades de Angola

Não é por estarmos quase a chegar ao Natal, uma época que tradicionalmente abre ao Mundo o convite da boa vontade e fraternidade entre os homens; nem sequer pelas Cimeiras, realizadas recentemente em Lisboa, onde de forma intensa se tentou desbloquear realidades cruéis, na tentativa de sucesso por muitos ambicionado; nem pelo frio rigoroso que ultimamente se tem feito sentir, contrastando com o calor tropical de África, que este continente ficou mais agarrado ao coração de quem, há muito ou há pouco tempo, o deixou.

Os portugueses, alguns portugueses, milhares de portugueses, andam tristes. Perderam o sorriso como se ele fosse esquecido involuntariamente numa bagageira sem destino, quais passageiros de uma aventura com Angola guardada na mão.
Senhores de sonhos que lhes marcavam o futuro, deixaram-na, voluntariamente ou à força, com uma tal paixão, com tal entrega, que, distantes de tudo, enfrentaram sucessivos desafios ao tentar superar obstáculos imensos e desmotivadores.

Muitos deles –negros, brancos, mestiços- venceram. Outros não. Desistiram de viver. Outros, apenas, estão! Estão aqui sem Alma, por isso não estão em lado nenhum!
Respiram e riscam as horas pensando e repensando na esperança de verem, um dia, o brilhar do Bengo, de beber da sua água; de se sentarem nas margens serpenteadas e musicais do Lumege; de verem o sol romper, poderoso, na idílica barra do Quanza; de uma qualquer tarde se poderem esparramar sem elegância, e muito menos etiqueta, nos densos campos, alvos e macios, de algodão, soprando as flores como crianças libertas e felizes.

Como eles, confesso, eu também visualizo a Tunda Vala, e, sonhando,deslizo pelos céus do magnífico Sul angolano, verdadeiro fascínio da Natureza, no seu estado mais puro. Inibriante. Passo para o Leste e deleito-me olhando as silhuetas de Luena (eterno Luso. Quanta saudade.
Fico minutos infindos sobre a cachoeira do Úcua e sinto que há lágrimas minhas misturadas no rendilhado das águas barulhentas. Emociono-me sobre a Praia Morena (Benguela) e encho-me de acácias rubras que vou espalhando pelas brisas mornas de Angola.

Abro os braços aos cafezais e beijo as gordas bagas rubras de cheiros loucos que atordoam e enfeitiçam. Todos juntos, embora desconhecidos, quantas noites não visualizamos já as águas mornas e transparentes do Mussulo, quais esmeraldas flutuando ao sabor das águas africanas? Quantas saudades da imensidão do Namibe? Do verde de Maiombe? Do ritmo de Angola? Das suas cores intensas? Do seu ritmo trepidante, contagiante, inesquecível?

Há demasiada saudade neste Portugal de hoje; há demasiados saudosos dos cheiros de África, do ritmo de África, dos sabores de África, até das simples palmeiras ondulantes, sempre ao alcance das mãos. São saudades torturantes de homens, mulheres e crianças que estão cá mas a Alma, essa, ficou lá

2 Comentários:

Blogger Pitigrili disse...

... e então foi inventada a Internet, e todos os dias podemos passear-nos por todos os lugares que constuiram a nossa alma.
Por isso, todas as noites, há tantos computadores ligados para o Google Earth, desvendeando matas, becos, picadas...

17 de dezembro de 2007 às 03:47  
Blogger MEB disse...

Brumas de Sintra

Concordo. É ritual diário antes de me deitar. Atiro-me ao mundo e saborei os lugares da minha saudade,da minha imensa saudade ou "toco" no que não conheço e torno-me dona dos meus futuros projectos:Lhasa,Alaska, Páscoa,N.Zelêndia... E, é sempre o Google Earth que me leva e testemunha a emoção. Claro que nunca termino o dia sem ver a Baía de Luanda!

21 de dezembro de 2007 às 19:25  

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