Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Os Tambores de Taiko

Era domingo e a tarde de Inverno tinha o toque suave de uma doce Primavera antecipada. Sentada num degrau do Palácio Nacional de Sintra, enquanto aguardava pelo espectáculo vindo de Miyazzaki (uma das quatro maiores ilhas do Japão), através de um grupo de jovens (Kunimitsu, Kyoichi, Yoshito, Masaru, Shingo e Shunsuke) que têm na alma, no espírito e estilo de vida, o ritmo do Taiko -um género musical para mim desconhecido, confesso-, mas que mais tarde reconheceria, ser empolgante.


Vim a saber que os tambores que olhava eram conhecidos por Nagadó Taiko, Okedó e Shimé Duiko. E soube, ainda, que o maior Taiko que existe tem um diâmetro de 267cm,foi feito em 1966 e, para isso, foram necessários 5 anos. Pensei logo que o som deve dar para comunicar de Sintra para o Alasca. Pelo menos.
O largo do palácio estava salpicado por poucas pessoas que vinham olhar mais de perto os belos tambores expostos no palco montado para o espectáculo que se anunciava para as 15 horas. Pela pouca afluência pensei que podia arranjar um bom lugar, que era capaz de comparecer pouca gente e que estava ali muito bem a admirar a paisagem idílica que me rodeava.


Em frente, o rendilhado do Castelo dos Mouros a flutuar no Monte da Lua. Lindo. Atrás, o meu palácio. Vivo cá, é meu! Conheço-lhe os cantos, os recantos, a história e a minha imaginação liberta-se pelas escadarias que já trata por tu as memórias do passado deste Paço Real que recebeu D. Manuel II antes de partir para o exílio em Richmond (Inglaterra).


Faço uma vénia a D. Isabel, D. Beatriz. D. João I (esteve em câmara ardente na sala dos 27 Cisnes que o monarca mandou pintar em homenagem à filha, Isabel, no pedido de casamento feito pelo duque de Borgonha), D. Filipa, D. Sebastião, que adorava sentar-se no pátio num banco de pedra, colocado estrategicamente para o paraíso de Sintra. Se não estiver errada creio que foi nesse mesmo banco que O Desejado se encontrou com Luís de Camões e este lhe leu os Lusíadas. Estarei a fazer confusão? Como vou saber a esta hora da madrugada!


Passo por D. Afonso VI e sinto a amargura da sua clausura que durou nove anos, num quarto agora gasto pelos passos então dados. Olho a sua cama e vejo-o frágil, desapegado da vida. Esboço um sorriso malicioso quando olho a Sala das Pegas, onde D. João foi apanhado pela mulher, D. Filipa de Lencastre, a beijar uma dama da corte. Irritado, o rei mandou pintar 136 pegas (o número das damas existentes no Paço) mas todas com uma rosa no bico, homenageando a benevolência com que a esposa soube enfrentar o deslize matrimonial.


Perdida nos pensamentos históricos só recuperei (será que Camões esteve mesmo aqui?) quando começo a ouvir toques de tambores que desciam lentamente as escadarias do palácio. Já no largo, agora completamente lotado, passam pelo público que abre alas para passarem.São seis jovens (um não terá mais de 10-12 anos, penso) que sobem ao palco e nos conquistam com os sons, fortes, fortíssimos, serenos ou apoteóticos. Indescritível. Diferente e arrebatador. Sons renovados, na mais pura tradição do Taiko, transmitindo-nos poderosas emoções.


Ainda bem que acedi ao convite e vim ver os Tambores Japoneses Taiko, em Sintra. Olhei em frente, as árvores tinham florescido, estavam cobertas de flores de cerejeira, rosa e brancas; as árvores, agora mais verdes, salpicavam-se de cor, de plantas exóticas, luxuriantes; do planador que nos sobrevoava caíam flocos matizados, sedosos, deixando o local inebriante de cheiros apetecidos. Balouços, feitos de flores entrelaçadas, moviam-se por cima das nossas cabeças.


Na muralha do Palácio dos Mouros e nas janelas do Paço, damas vestidas à época, jovens e menos jovens, envergando vestes reais, sorriam e acenavam aos sons que, por mais de uma hora, envolveram a sétima vila mais bonita do mundo: Sintra!


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