Sócrates, Tem Mau Feitio!
As sondagens valem o que valem mas, apesar das surpresas que por vezes sucedem em actos muito mediáticos, eleições, por exemplo, elas geralmente levantam bem o véu sobre os resultados finais.
Por isso, ao olhar para o painel de avaliação dos ministros do Governo, resultantes de uma sondagem do Correio da Manhã/Aximage, não é estranho ver quem são os últimos quatro classificados: Cultura (9,9), Obras Públicas (9,7 -o Jamais é vitalício), Educação(9,2) e Saúde (5,3). Mesmo assim acho que os portugueses foram flagrantemente benévolos na votação para com esses ministérios que não deveriam ter passado dos 3, qualquer coisa). É tudo muito mau. Além disso, confuso e, francamente, preocupante.
Não querendo plagiar Mário Lino (Obras Públicas) o sector da Cultura parece mesmo um deserto, com umas miragens de oásis aqui e além, mas nada de relevante.Um desconsolo. Além disso, Isabel Pires de Lima não tem demonstrado a mais leve aptência para comunicar seja o que for. Assim, quem espera obra do seu ministério, queda-se pelo desencanto.
A Educação tem dois contras: primeiro, os resultados positivos custam a chegar, embora se reconheçam algumas boas alterações, mas o balanço quer na situação dos professores, quer no funcionamento dos estabelecimentos de ensino, quer no próprio programa, não é positivo; segundo, a crispação e irritabilidade de Lurdes Rodrigues, incomoda.
Quanto a Correia de Campos a realidade é tão preocupante que, seguramente, alguma coisa importantíssima se esqueceram de dizer ao povo, em relação ao fecho dos Centros de Saúde, Urgências, Maternidades, Hospitais e afins. Jorge Sampaio diz que estas alterações corajosamente foram feitas mas faz questão de alertar para o facto da flagrante falta de informação e, por isso, os portugueses desesperam.
O caso não é para menos. Como o Governo não quer matar os idosos de ansiedade, stress e pavor, poupando nas reformas, é urgente que alguém diga onde está o brilhantismo do actual modelo em vigor. Não se esqueçam de ver bem o que se passa nos quartéis dos Bombeiros, pelo País, que se debatem -diariamente- com carências de toda a espécie. Conheço bem a situação e, garanto, que só a carolice de muitos impediu que o balão ainda não rebentasse. Há quartéis na total penúria. Como podem ser, então, os braços salvadores de populações angustiadas?
O Presidente da República, agrada a 62,3% dos portugueses. Eles reconhecem em Cavaco Silva o pilar da estabilidade na vida política nacional e premeiam-lhe a actuação (10% dizem ser má).
Quanto a José Sócrates o caso não é fácil. Ele é um político (já o disse neste blogue em Dezembro) brilhante que tem sabido manter com o Presidente uma saudável e necessária convivência política. Mas é um político só e com mau feitio. Fez inimigos no interior do seu próprio partido (PS) que no futuro não lhe facilitarão a vida, creio. Além disso, nem sempre é hábil frente à Oposição. Ele bem diz que quando tem razão pega e não larga!
O primeiro-ministro faz uma governação solitária e deixar cair algum dos seus ministros parece não ser muito viável, até porque todos dizem para o fazer e, isso, vai contra à sua maneira de ser. Claro que paga a factura e isso marca-o Por vezes o seu olhar traduz uma certa nostalgia. Embora choque muitos, como se viu recentemente no Parlamento, a sua atitude política em relação ao Tratado de Lisboa não podia ter sido outra.
Filipe Menezes está a subir na confiança dos portugueses mostra também este estudo. É uma realidade própria num estado democrático: o direito à opinião. É saudável. O que não quer dizer que não se deva estar atento. O tempo já nos mostrou que o lugar de primeiro-ministro não é para todos. É para quem pode! Eu, particularmente, achava que Filipe Menezes devia ser o líder do PSD, desvinculando-se do lugar de presidente de câmara.
Antes de terminar falo de Luís Amado. Acho-o um ministro dos Negócios Estrangeiros notável e gostaria de o ter visto colocado em primeiro lugar nesta avaliação feita pelos portugueses. Obteve 11,6 valores. Eu dava-lhe 18, sem pestanejar.
Terminada este brevíssima análise sobre o que pensam os portugueses dos seus ministros, recolhe-se facilmente o dado de que não estão, nem pouco mais ou menos, felizes. Andam tristonhos, preocupados, confusos. É preciso que Sócrates nos saiba dar esperança.Não sei se pode, mas deve! Já que nos aperta tanto o cinto, aperceba-se também dos nossos sonhos, vontade, empenho, projectos. Aperceba-se da nossa ânsia de vida. Das nossas esperanças.
Por falar num povo esperançado, e deixando bem claro que o caso de Eva Péron nada tem que ver com a realidade portuguesa, está visto, lembrei-me, vá-se lá saber porquê, do mito de Evita. Relembro a trajectória de uma mulher que, vinda do nada, soube agarrar a alma de um país e teve a audácia (apesar da sua aparente fragilidade física) de incutir a um povo desmoralizado energia, confiança e coragem. Desafiou poderosos e sistemas, moveu-se por entre armadilhas e despertou cóleras, ódios e traições.
Amou o seu povo e por ele foi idolatrada. Criou uma imagem de marca (rotina actual no staff de princesas, políticos e actores) revelando-se perita numa área ainda desconhecida na época. Foi vibrante, dinâmica e contagiou com a sua energia quando abanou a Argentina e lhe mostrou que não era proibido sonhar. Marchou ao lado de descamisados com determinação, intrepidez, iluminando os deserdados da sorte que na hora da sua morte a choraram dolorosamente, legando às gerações futuras uma saudade mítica.
Tornou-se imortal. Para una continua a ser a bandeira, o arco-íris, a santa; para outros a “pega”que, vestida de sedas, peles e pérolas, enganou os fracos e desprotegidos. Quem foi a verdadeira Evita? Julgue quem puder aquela que soube dar esperança a um povo.
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