PARA ELE, BASTOU!
Particularmente nunca achei que Filipe Menezes conseguisse levar a bom porto o seu barco, na liderança do PSD. Sentia nele uma certa fragilidade (a vida já me provou que sensibilidade com política, não resulta e as suas lágrimas de despedida, ontem, no discurso do Congresso Nacional do PSD revelaram como é sensível) mas não sei explicar bem o porquê, ou talvez aquela dualidade Menezes-Santana me confundisse, provocava-me duas sensações bem diferentes: Santana era o líder e Menezes apenas estava. De vez enquando.
Não quero ser injusta para com o ex-presidente do PSD uma personalidade esclarecida, honestíssimo, inteligente, com um carácter muito humano, admirado por todos que com ele lidam diariamente. Mas, um partido político para não dizer que se assemelha a uma selva, é deselegante fazê-lo, posso dar uma imagem mais comedida: uma reserva, espaço amplo por onde correm com poder verdadeiras forças da Natureza. Na minha análise simplista imagino que não deva ser difícil liderar um partido político, quem chega a essa posição tem, seguramente, currículo para isso, difícil é conseguir ter coração e jogo de cintura para as conspirações dos bastidores, já para não falar em traições, decepções e afins. Por muito selectivo que se tente ser, ser-se-à sempre apanhado pela surpresa, nem sempre agradável.
Filipe Menezes, a partir do momento em que não se sentia bem com o ambiente que o rodeava, quer na Imprensa, quer no interior do seu partido e, principalmente, com aqueles que militavam na sua ala, fez o que tinha a fazer e fê-lo com dignidade. Disse basta e não voltou com a palavra atrás (sente-se que lhe deve ter custado, um sonho é sempre um sonho e deixar de lutar por ele por opção própria, requer análise consciente e uma frieza de emoção que mais não é do que lucidez). A partir desse momento abriram-se as portas às novas possibilidades e os futuros candidatos a líder do PSD começaram a aparecer. Sim, escolher quem consiga ganhar as eleições de 2009, vai ser uma tarefa destemida (muitos pensam que Sócrates ganha, com tranquilidade).
Neste momento fervilham as opiniões, os acordos, definem-se tácticas, arranjam-se e multiplicam-se apoios e fazem-se previsões. Tudo é tentado ao pormenor. Para muitos, o líder ideal, de todos os nomes já adiantados (surgiu, inesperadamente (!), Santana Lopes apoiado por João Jardim, que disse para Manuela Ferreira Leite prestar um bom serviço ao partido e não se candidatar) será a Salazar do PSD, Ferreira Leite (conhecida pelo seu rigor financeiro). Se for outro qualquer nome não lhes parece que vá vingar. Se a ex-ministra vier a ser escolhida, alguns pensam que passará para o povo o sinal de agora é a sério e a doer. E o povo vai apreciar. Conseguirá arrumar o partido que corre o perigo de ver a malta nova demais a pensar que já chegou a hora deles.
Diria eu, então e Marcelo Rebelo de Sousa? É inteligente (pertence ao grupo de pessoas que nasce de 30 em 30 anos, uma geração), arguto, atento, sabedor, reúne uma diversidade de qualidades (e defeitos, por certo) que fazem dele o melhor comunicador televisivo e um político sempre dentro do vulcão, sem se queimar; fala, analisa, pontua, antevisiona. E quanto a futuro líder? Bom, julgo que essa não é a sua praia. Rebelo de Sousa há muito que tem um encanto pelo rosa do Palácio de Belém. Não o estou a ver concorrer, novamente, a líder do PSD. E Rui Rio? Tudo indica que ele não quer descer aos mouros. É pena, talvez pudesse ser o melhor de todos os candidatos. E o tão falado Santana Lopes? Está a ser aquilo em que ele é bom: um mestre de cerimónias bem falante e telegénico, mas esta não é, mais uma vez, a festa em que vá ganhar o Óscar. Todavia, tenho de acrescentar que achei pouco inspirada a forma como foi destituído do cargo quando era Primeiro-Ministro (assumido a 17 de Julho de 2004).
Por seu lado, Alberto João Jardim surgiu, inesperadamente, como potencial candidato. Foi por pouco tempo mas foi exaltante e apoiantes não lhe faltaram; portanto, já não pode argumentar que não tem soldados, mas o Presidente da Madeira é um político inteligente e, creio que, apesar de ter sentido o abraçar de uma aspiração (ser líder no Continente), resistiu. As razões só ele sabe e o futuro dirá se agiu bem ou não. João Jardim, ao longo dos seus 30 anos à frente dos destinos na Madeira fez bom trabalho, soube captar ajudas comunitárias e da República e traduziu isso em obra feita (Cavaco Silva disse no discurso de despedida, na sua recente visita à Madeira, que Jardim não precisava de elogios, a obra realizada falava por ele).
Outros argumentam que João Jardim não sabe fazer uma coisa importantíssima que Portugal precisa urgentemente: trabalhar em competitividade. E, outros ainda, definem-no como o Robin dos Bosques dos Tempos Modernos: soube tirar à CEE e à República para as sucessivas obras na Madeira. Mas ficará na História pelo trabalho feito na sua ilha. Fez dela uma verdadeira e sedutora pérola que trata por “tu” a linguagem do turismo. Se ele fosse menos extrovertido, muitas vezes desrespeitador, seria notável.
A 31 de Maio, segundo os resultados das directas antecipadas, haverá um presidente ou uma presidente do PSD erguendo a bandeira da continuação de algo que ameaçava autodestruição, já para não falar em fusão com o PS, segundo opinião de alguns treinadores de bancada política. Que ganhe o melhor. Parece uma frase feita e até pode ser mas, além disso, é já uma esgotado ambição de quem deseja uma Oposição esclarecida para enfrentar o Governo, ajudando-o, provocando-o, exigindo, com firmeza. Portugal fica a ganhar e os portugueses também. É que andamos numa fase em que, por vezes, o que apetece é emigrar.
Quanto a emigrar por emigrar, se quiser ir para onde o governo é profissional ao ponto dos governantes terem contratos por objectivos e passarem diversos graus ao longo de mais de 15 anos para chegarem a um lugar com poder político e decisivo, então vá, por exemplo, a Singapura, à Malásia. O futuro dos regimes políticos é o que estão a fazer nestes países em termos de classe política.
A Malásia ainda tem uns assuntos sobre direitos e liberdades para acertar mas, mesmo assim, está bem melhor do que aquele outro regime que revolucionou as democracias com os conceitos de Liberdade, Fraternidade e Igualdade, que inaugurou esse período de Luz da Civilização ... limpando os opositores com a guilhotina.
Winston Churchill
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