OS ENROSCADOS NA VIDA
O problema do frio que me agride até à Alma é pensar nos que enroscados na vida, aos cantos das portas, envoltos em cartões, cobertores, jornais ou plásticos, desligados do mundo que os rodeia, absortos nos silêncios sem exigências e sem luz, ficam noite após noite, dia após dia, a fingir que vivem ou a viverem aconchegados de recordações que ainda lhes povoam os sonos. Não consegui saber quantos sem-abrigo existem em Portugal. Parece que, em Lisboa, há mais de mil e, horroroso, cada vez se encontram mais jovens, mais mulheres, mais pessoas que conheceram o ritmo de uma vida normal e as surpresas atiraram-nos para as noites em céu aberto.
Esse frio é mais cortante que todo o nosso e por muito que se vista, se lembrarmos os que a esta hora estão espalhados pelo gelo das ruas, com as suas fraquezas, os seus medos no centro dos seus vendavais ou já sem medos, anestesiados por uma dor que já dilacerou e já não conta, não podemos deixar de ficar profundamente infelizes.
A riqueza de uma nação mede-se pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes.
(Adam Smith)
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