Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A TEU LADO AS COISAS ERAM POSSÍVEIS


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
(E.A)

É urgente inventar a alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras
(Eugénio de Andrade)

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2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Um desabafo impressionante num poema belíssimo. Não é forçoso que o tempo tenha que fazer desvanecer o amor, a paixão, isso sim é inevitavelmente uma vítima do passar dos anos e da rotina. O amor não. Os anos devem apurá-lo e fazer com que seja vivido de uma outra forma, mas também não somos como eramos 30 ou 40 anos atrás, mas somos os mesmos. É triste quando o amor morre, mas quando isso acontece, não foram os anos que o mataram, e só há uma saída possível: dizer adeus.

Poema lindíssimo, repito.

Um beijo, querida amiga

30 de julho de 2009 às 11:27  
Blogger MEB disse...

Obrigada, meu amigo. Ainda bem que gostou. Um beijo

3 de agosto de 2009 às 21:00  

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