Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O BENFICA VAI DERROTAR O DRAGÃO


Tinha prometido a mim própria que não me meteria tão depressa neste aquário do futebol, porque não são as minhas águas, mas a verdade é que não resisti e, confesso, nem fiz muito esforço. É um desafio provocador que me impede de versar outros temas. Que adiantaria, hoje, tentar falar, sei lá, das eleições americanas (é um assunto fascinante, os resultados terão reflexos no mundo inteiro) se estou constantemente a tentar perceber o que teria levado Chalana a substituir Di Maria (a desgraça começou aqui, o argentino estava a irritar até à medula os sportinguistas, dentro e fora do campo de Alvalade…).


Não deixo, porém, de realçar que foi um jogo arrepiante, admirável, emotivo, apaixonante -puxou pelos 37 mil espectadores in loco-, bom, até para os derrotados (teve 10 minutos soberbos). Foi um derbi com as nuances próprias de encontros desta envergadura. Oito golos, é obra! Talvez tenha sido o melhor jogo do Sporting nesta época, e a dinâmica inicial do Benfica, confirmou que ali, ainda, há o potencial inerente ao prestigiado Clube da Águia. Como se passa de vencer por 2 a 0 a perder por 5 a 3?! Só pode ter si mesmo partida dos deuses. O que eles se devem ter divertido!


Antes de começar a explicar o que me fez a focar novamente os movimentos do esférico, acrescento que admiro Chalana, não me esqueço que ele apanhou um Benfica aos bocados, de um dia para o outro, depois de alguns iluminados se terem dado ao luxo de dispensar um treinador na primeira fase da época. E não se esqueçam que quando Camacho chegou, os bons do plantel já estavam a brilhar noutras paragens. Venderam tanto que fez impressão, nem o Simão escapou (também não sei se ele estava interessado em escapar…).


Então foi assim. Era uma quarta-feira calma, sereníssima, até ao momento em que o jogo se preparava para começar, na Televisão, e a Catarina, que é uma espevitada jovenzinha de seis anos, se equipou, como manda a lei e se sentou (emocionada, por certo) no sofá que deve ser uma bancada aberta, em directo, para o campo já que a Catarina vibra tanto (ela acompanha o desafio com um apito na boca, para total desespero da mãe, diga-se) que quem a aprecia fica tonta com os movimentos vertiginosos da pequena.


Eu não sei se ela percebe alguma coisa daquilo, pois basta entrar a bola na baliza, seja de quem for, para armar um verdadeiro carnaval. Ela é benfiquista até às unhas dos pés. E não sei porquê! Em casa ninguém aprecia futebol, os pais nunca a levaram a ver nenhum jogo, ninguém fala de futebol e a Dona Catarina, aos três anos, já era uma ferrenha benfiquista. Há cada mistério! Mas mais, se falarmos na Selecção Nacional, então o caso muda ainda mais de figura: vira loucura total. Ela berra, fala, chama pelo Ronaldo, mesmo que ele não esteja em campo. E o slogan Portugal...Portugal...Portugal, acorda oz vizinhos.


Acho que só sabe esse nome. Na verdade eu não entendo nada daquele entusiasmo. Sei que ela faz uma festa e que há três pontos fixos: Benfica, Selecção Nacional, Ronaldo, aliás, 4, esquecia-me do Scolari. E pronto, fica por aqui. Mas que se farta de divertir, lá isso farta. Só que ontem foi-se deitar a chorar e soluçava, dizendo, muito condoída:


-Isto não é justo. Não é justo... E o caso ficou feio a partir do momento em que a mãe se começou a rir do inesperado pranto. Senhores, a petiz ficou fera.


Vá lá saber-se da dimensão da desilusão. Ver o seu Benfica ganhar e acabar a perder foi muito complicado para a sua cabeça, mas foi muito emotivo. Hoje, acordou fresca como uma alface e já nem se lembrava, penso, do Benfica, nem do Sporting, nem sequer da bola. Isto faz-me tentar pensar no fenómeno que é o futebol, que galvaniza multidões em todo o mundo e ataca, todas as classes sociais, todas as idades e todos os sexos. Curiosíssimo. Gostava de entender o âmago da questão, mas não entendo. Voltando ao Benfica, recordo que ele vai enfrentar no próximo domingo, o poderosíssimo Tri Dragão, no seu campo, por certo esgotadíssimo, rodeado de apoiantes azuis, uma claque aguerrida, capaz de fazer tremer o mais temerário David.


Só que desta vez, a Águia vai voar tão alto que vai sair do Porto, com três golões, três pontos, debaixo do braço. E, a partir daí ruma a Angola para distribuir maravilha. Nesta sua derrota em Alvalade associo o caso ao que aconteceu com a terceira posição (injusta, claro) do Ronaldo, na classificação do Melhor Jogador do Mundo, desde logo achei que só lhe fez bem: ele é muito jovem, já tem tudo, se lhe faltam metas para alcançar, é insípido! Assim, Ronaldo, por certo furioso, tal como eu que votei nele, reuniu talento, raiva, directrizes e teve um 2008 empolgante.


Assim será com o Benfica. Já não espaço para panaceias. Se a culpa é do presidente, dos técnicos, dos preparadores físicos, do departamento médico, das botas, das meias, da forma como gerem o Clube, acabou. Terminou. Já foi. A partir de agora não há espaço para mais paninhos quentes. Façam ou não eleições antecipadas, pensem bem nos reforços que vão adquirir para a próxima temporada, não tornem o Benfica num entreposto comercial, resolvam o caso do Rui Costa (é um Maestro, merece apoteose), não continuem a obrigar o Petit a sair de gatas do campo, de tão esgotado que está. Parem, pensem e decidam cerebralmente. As emoções ficam para os relvados.



O Benfica não morreu em Alvalade; teve, apenas, um ligeiro desmaio na praia do desconforto

2 Comentários:

Blogger Psiquiatra Angustiado disse...

Não percebo, digníssima MEB, como é que uma pessoa do teu calibre intelectual pode nutrir alguma espécie de admiração por Fernando Chalana enquanto treinador. Foi um grande jogador, na sua época. É um treinador que já provou que não conseguiu pôr a locomotiva encarnada a funcionar dentro da bitola correcta. E enquanto comunicador é uma nódoa. É um Asterix, mas sem poção mágica. Compaixão, ainda vá.

18 de abril de 2008 às 02:58  
Blogger MEB disse...

Que bom ter novamente notícias suas. Eu não disse que Chalana era um excelente ou bom treinador. Disse que gosto dele:por ter sido um grande jogador no seu tempo; por não dizer não sempre que é chamado para apagar os fogos resultantes da decisão dos iluminados directores ao mandarem os treinadores porta fora e a equipa ficar à deriva. Isso tem mérito e não é fácil. Quantos jogos teve ele para nudar substancialmente tácticas ou mentalizações? Quanto ao dom da palavra é mesmo assim, nem todos têm a douta sabedoria de comunicar bem e o charmoso encanto do Mourinho! E, enfrentar jornalistas, tem que se lhe diga.O Chalana já se sabe que depois da próxima vitória no Dragão e da gloriosa digressão por Angola, vai voltar ao lugar de sempre até ao dia em que, vá lá saber-se porquê, haja novo incêndio na Luz, com a saída do futuro treinador que, seria magnífico, se acertassem na escolha. De uma vez por todas.

18 de abril de 2008 às 19:23  

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