Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

sábado, 5 de julho de 2008

A LIBERDADE DE INGRID


Ingrid Betancourt, senadora e activista franco-colombiana, raptada no exercício das suas funções de campanha como candidata às eleições presidenciais, em Fevereiro de 2002, por um grupo de guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), passou 2323 dias na selva colombiana, como refém, ultrapassando sucessivas humilhações, doenças, terrores, pensamentos suicidas. Foi resgatada no dia 2 de Junho, pelas 15 h.16 m (hora da Colômbia) numa operação que ocorreu através da infiltração de elementos do exército colombiano (disfarçados de trabalhadores humanitários), diz-se com ajuda americana, avisada duas semanas antes, embora nenhum avião ou militar dos EUA tivesse estado na execução da operação. Os soldados colombianos infiltrados no comando das FARC que tinha os reféns em seu poder, conseguiram convencer os sequestradores a reuni-los num só grupo. O resgate foi feito por helicóptero, sob o pretexto de levar esses reféns a uma inspecção humanitária.


A política franco-colombiana foi libertada, junto com os reféns americanos Thomas Howes, Marc Gonsalves e Keith Stansell, que trabalhavam para o departamento de Defesa dos EUA, e onze membros das forças de segurança colombianas. De acordo com Ingrid, inicialmente os reféns pensaram que os agentes do Exército eram guerrilheiros.


-Quando o helicóptero chegou ao acampamento, subimos com dificuldade, porque nos ataram as mãos, e isso foi muito humilhante. Ao voarmos sobre a selva, disse a mim mesma que os detalhes sórdidos ali passados não deveriam ser conhecidos. Ingrid nunca perdeu a esperança e o mundo não a esqueceu. É justo referir a França que sempre esteve na linha da frente nessa defesa. Segundo a senadora os reféns só souberam que estavam a ser resgatados quando o comandante da operação gritou:


-Somos o Exército Nacional, vocês estão livres. Aí, saltamos, gritamos, choramos, abraçamo-nos. Não podíamos acreditar, era um milagre!


A operação, Xeque-Mate, dividida em três partes e com um plano B, no caso de a primeira tentativa não ser bem sucedida, foi a concretização de uma arriscada infiltração nas FARC. Os reféns só souberam que estavam a caminho da liberdade no helicóptero, toda a operação decorreu sem um único tiro e sem qualquer violência. À primeira vista não se pode deixar de ficar maravilhado com a lisura dos acontecimentos. Uma operação cirúrgica, isto é, limpa. Sem baixas. Parece uma cena de um filme trepidante ou lembra outras acções de resgate com a mão de Israel. Com efeito, apesar dos soldados deste país não terem estado na operação esta contou com a assessoria de especialistas israelitas em segurança, mas a imprensa local adiantou:


-Não se deve exagerar o seu envolvimento, o crédito da operação é da Colômbia.


Israel ajudou na sua elaboração. Também há quem afirme que ela só foi possível ou porque soldados colombianos foram comprados para se infiltrarem nas fileiras da FARC, e a eles se deve o passo principal para o êxito ou, então, Bogotá e Washington teriam pago 20 milhões de dólares para a libertação de Ingrid e dos restantes reféns. Todavia, os respectivos governos negam tê-lo feito. Apesar da França não ter sido nomeada na possibilidade de ter pago qualquer resgate o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, Eric Chevallier, disse:


-Não estivemos envolvidos nesta operação, não estivemos envolvidos em questões de financiamento, nem sabemos se existiram modalidades de financiamento.


Para trás ficam anos de horrores que a senadora fará tudo para esquecer. Em relação à operação em si não sei se algum dia se saberá o que efectivamente se passou. Sabe-se, sim, que 15 pessoas foram salvas do inferno. Que não foi disparado nenhum tiro, não houve uma única baixa. A política voltará por certo, em forma, à continuação das suas actividades já que confessou publicamente o desejo de, um dia, governar a Colômbia. O mundo rendeu-se ao seu regresso e, depois de ter sido recebida com todas as honras em Paris, no aeroporto militar de Villacoublay, pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy (desde sempre um apoiante persistente, nunca perdeu a esperança de resgatá-la) e, mais tarde, no Eliseu, ao lado da mulher, Carla Bruni, ao ver Ingrid e a família reunida e feliz, ali, sã e salva, por certo que se emocionou.


O Papa Bento XVI vai recebê-la na próxima semana. A ex-candidata presidencial ( é católica e rezar nos seis anos de cativeiro foi, segundo a senadora, uma forma de superar o desespero e as dores de toda a espécie) já reagiu:


-Bendito seja Deus, é um encontro que não se pode perder.


Por seu lado os Eurodeputados do PSD propõem Ingrid Betancourt para Prémio Sakharov 2008, atribuído pelo Parlamento Europeu desde 1998, que já distinguiu individualidades como Nelson Mandela, Xanana Gusmão, ou Kofi Anan. Para os deputados do PSD, Ingrid Betancourt preenche todos os requisitos previstos pelo Regulamento do Prémio e é uma das faces mais visíveis do combate pela liberdade de expressão no mundo inteiro.


Ingrid, recuperou a liberdade, mas não conquistou o sossego! Ao lado da família, dos amigos e, principalmente dos filhos, Melanie e Lorenzo, que sempre lutaram pela libertação da mãe, passarão umas semanas tranquilas e, juntos, tentarão iniciar o processo lento e, por certo, psicologicamente doloroso, de esbater recordações e pesadelos. Esquecer, não lhe será possível. Faz parte do seu percurso, da sua travessia no deserto, do seu amadurecimento como ser humano.




Há duas maneiras de viver a vida. Uma, como se nada fosse milagre. A outra, como se tudo fosse milagre.
(Albert Einstein)

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