O CHARME DESCONHECIDO DE MARIA
O Presidente da República, Cavaco Silva, na sua recente viagem a Moçambique, ia correndo o risco de John Kennedy ( um dos melhores Presidentes que o Tio Sam já teve) quando ao visitar a França e, enfrentando o fulgurante e um pouco inesperado sucesso de sua mulher, Jacqueline, junto da população e círculos oficiais. Charles de Gaulle e o público renderam-se aos seus encantos e ao seu francês e a revista Time revista escreveu:
-Havia também aquele companheiro que veio com ela… (o presidente).
Até mesmo John Kennedy brincou com a situação ao dizer, creio que no discurso de abertura de um banquete oficial, não tenho a certeza.
- Eu sou o homem que acompanhou Jacqueline Kennedy a Paris e gostei muito!
Correu bem a viagem do nosso Presidente a Moçambique e apreciei a forma como, ali, foi recebido. Apreciei-a no seu todo e deliciei-me com a felicidade contagiante do casal presidencial que não se inibiu de a mostrar nos três dias da visita oficial (24 a 26 de Março), onde foram abordados temas relevantes e se abriram novas directrizes (com Cavaco Silva foram 45 empresários) avivando ideias para uma colaboração bilateral mais vigorosa entre Portugal e este país do Índico, vivendo já uma democracia consolidada. A visita de Cavaco Silva (primeira a um país africano de expressão portuguesa) foi acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Defesa, Educação e Cultura.
Sucederam-se cerimónias, encontros, discursos e promessas de cooperação mais estreita e vigorosa. O Presidente não deixou de agradecer ao seu homólogo Armando Emílio Guebuza e ao povo moçambicano a defesa da Língua Portuguesa, defesa que fazem quando a falam, mantendo-a viva. O futuro não se faz com os fantasmas do passado. Ontem, fomos colonizadores; hoje, devemos ser parceiros. Folheando o Livro da História não se encontram países perfeitos, isentos culpas de fragilidades e de feridas. A solução harmoniosa, equilibrada, sensata e actual será a de, em conjunto, desbravar obstáculos que ainda possam existir a nível de bloqueios (de toda a espécie) que dificultem a interligação no tempo já de novos ciclos e novos desafios.
Antecedendo essa visita oficial o Presidente, acompanhado pela mulher, quatro netos e dois filhos, passaram uns dias (por certo deliciosos) em Bazaruto, destino de rara beleza, numa ilha rodeada de azul onde apetece mergulhar. Por isso chegaram bronzeados e felizes -estava lá, na Alma, era impossível disfarçar- a Maputo (ex-Lourenço Marques), recebidos com a rigidez protocolar e, simultaneamente, vibrante calor humano. E foi aqui que começou a delinear-se o êxito (inesperado) que sua mulher, Maria Cavaco Silva, professora de Língua e Cultura Portuguesa poderia vir a ter nesta visita. Digo inesperado porque, sinceramente, só há muito pouquinho (inho mesmo) é que comecei a encontrar na fisionomia da primeira-dama (eu sei que detesta o termo) uma abertura humana que me despertou interesse. Perdoe-me (como se me fosse ler! Delírios de uma bloguer, às três da madrugada…) mas achava-a, como vou dizer isto?
Achava-a mandona, antipática, com mau feitio (posso dizer carrancuda?), com um péssimo gosto, um penteado sem it, uma maquilhagem nada inspirada. Sabia do seu valor cultural e pronto, ficava-me por aqui. Longe de mim pensar que, um dia, inesperadamente, romperia essa espécie de casulo e, por artes mágicas de alguma equipa sabedora do ofício, a mulher do Presidente da República ressaltaria radiosa para as páginas dos jornais. E a primeira das suas muitas conquistas oficiais começou em Moçambique (o mundo que a aguarde), um país queridíssimo para o casal que ali viveu nos anos 1963/65, onde passou a lua-de-mel e dois primeiros anos de casados. Quando nesta visita oficial, no segundo dia, Maria Cavaco Silva voltou à escola (Secundária Josina Machel, ex-Liceu Salazar), onde há 44 anos deu aulas de português e francês, a emoção e a alegria, foram patentes. Foi vibrante e foi autêntica. Conquistou sem reservas e sem esforço.
-É com uma grande emoção, uma carga enorme de afecto que regresso aqui hoje. Só me apetece chorar de alegria…
Foram umas férias de Páscoa e três dias de visita oficial ao país de coração (do qual, hoje, têm a Chave da Cidade) deste casal de algarvios, actuais locatários do Palácio de Belém que, apesar das décadas já passadas, lembram a emoção dos tempos vividos em Moçambique, onde o Presidente cumpriu o serviço militar, da aventura de atravessarem o país num carro que não era topo de gama, dos filmes do desconhecido realizador Cavaco Silva que fazia tudo: guião sonorização, montagem, diálogos etc., para estar em contacto com a família. A saudade é verdadeira e a recordação daquelas paragens do Índico serão indeléveis. Seguramente.
-O nome da nossa filha (Patrícia) surge da predilecção que a minha mulher e eu tínhamos por uma rua em Maputo, cheia de jacarandás (quando florescem é uma sinfonia envolvente de lilás), que se chamava rua Princesa Patrícia, disse Cavaco Silva.
Por isso, seguindo os ecos do sucesso da viagem e do casal e, principalmente do clima encantatório vivido e transmitido por Maria Cavaco Silva, até então, penso, mostrando-se (apenas) risonha ao lado do marido e pouco mais do que isso, creio que este abrir de asas, num voo prometedor pode, algum dia, obrigar o Presidente a confidenciar mais ou menos assim:
-Eu sou o homem que acompanhou Maria Cavaco Silva a…(?) e gostei muito!
2 Comentários:
Quarto comentário em cinquenta e uma crónicas, a terceira do mesmo indivíduo em menos de vinte e quatro horas.
Este blogue devia ser mais lido. Esta crónica está muito boa. Aliás, acredito que todas estejam, mas não desejo tomar a parte do que li pelo todo do que acredito ser.
Tenho uma impressão favorável à mulher do nosso Presidente. Parece-me ser uma mulher espontânea, com sentido de humor. A minha observação leva-me a ter essa ideia.
Mas comparar Maria Cavaco Silva e Jacqueline é passar a fronteira... e aterrar para os lados de Mérida.
Aí é que está. Eu não comparei! Eu bati na temática do fascinante abrir de asas que, julgo, se aperfeiçoará no futuro. Além disso, eles amam-se! Com eles, Mérida,será o Dubai, Florença, Paris...
As suas palavras são melodias nas minhas madrugadas de escrita. Obrigada.
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