A ABNEGAÇÃO DO PINGUIM IMPERADOR
Se a esta hora da noite fizer uma pausa e me compenetrar na análise do mundo envolvente facilmente chego à triste conclusão que a violência não pára de ameaçar. De todas as maneiras e em todos os Continentes, como se fosse um ébrio e inexplicável caminhar para o abismo. Sem saída e sem salvação A ameaça é cega, não tem nem discernimento nem precisa de motivação. Precisa sim de amedrontar, semear o pânico, manietar esperanças e asfixiar futuros. E o mundo que deveria ser de inspiração, torna-se num mundo de terror, de dias lamacentos e intoleráveis.
O homem a matar o semelhante. Dia-a-dia. Friamente. Com ódio (o ódio gera ódio). Parece um comportamento animal mas a verdade é que na selva as regras de sobrevivência têm tido desde sempre linhas definidas e, ainda hoje, cumpridas nos mundos competitivos habitados, coabitados, pertencentes a perdedores irracionais.
Todavia, lá, onde o sol queima, elefantes, leões, búfalos, não matam por matar. Fazem-no por sobrevivência ou por defesa. Nas profundezas das selvas a vida animal decorre com equilíbrio e as mensagens primitivas mas universais são cumpridas escrupulosamente, como se de um código de honra se tratasse. Revela-se o espírito de entreajuda, autodefesa, competição, e os impulsos dos seus instintos vão da fraternidade à unidade, do companheirismo às alianças, aos pactos selados com tais manifestações de autenticidade e inteligência que confundem. Os animais sabem que da união lhes virá a força e que ela se revelará tão necessária como o sopro de vida, o que frequentemente transforma o trabalho de equipa em verdadeiras sociedades operantes.
Os biologistas podem penetrar frequentemente nos mistérios da Natureza e, apesar disso, nunca deixam de se maravilhar a cada nova descoberta, no cenário sempre emotivo e transparente onde vigoram as leis como Cuida de Ti ou Uni-vos, vitais à sobrevivência dos pequenos seres.
Lembro uma espécie ameaçada pelas drásticas mudanças climáticas (tal como o homem): o Pinguim Imperador (chega a pesar 40 quilos e medir 1,5m.), habitante tradicional dos mares gelados da Antártica que se tem revelado um perito na arte da sobrevivência ( o homem necessita cada vez mais de a aperfeiçoar). Entre Maio e Junho as fêmeas põem o único ovo que abandonam nos finais de Outubro para passarem o Inverno no mar, na procura de alimento (regressam no princípio da Primavera). Durante 65 dias o macho cuida dele nas mais difíceis condições, enfrentando impiedosas temperaturas de 40º e ventos de 200 km/h. Um comportamento notavelmente exemplar.
O nosso mundo agressivo tem muito pouco, cada vez menos, da abnegação das vastas colónias de Pinguins Imperadores. Por vezes parecemos mais chacais enraivecidos, invadindo desenfreadamente, terrenos alheios. Para isso basta para ver os títulos das notícias nos jornais e revistas, de escutar os espaços informativos nas televisões e na rádio. Eles só reflectem o pulsar do Mundo!
Está, portanto, na hora de enfrentarmos e vencermos, o ressentimento, o desânimo, o medo e de agarrarmos as rédeas da vida com a sensatez que deve caracterizar o ser humano. Não precisamos de abraçar a Lua nem de conhecer o nome de todos os peixes do mar Lembro-lhe as palavras de Gandhi: O Homem torna-se grande exactamente na mesma proporção em que trabalha para o bem-estar do seu semelhante.
Viver é um dom, uma dádiva, como se quiser definir, e ter um pouco de sorte só pode ajudar mas a sorte não é fruto do acaso, é a consequência do nosso movimento em harmonia com as leis da Natureza. E, actualmente, estão a violá-las hora a hora.
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