A JÓIA DA COROA
Gosto de ser portuguesa. Supera a emoção. É um sentimento que corre interiormente como um rio livre, poderoso e solto. Sinto as nossas fragilidades e, por vezes, parece-me que Portugal é um país órfão e os portugueses sofrem, desde há 900 anos, de reflexos genéticos algo confusos. Somos um povo de complexos e contradições mas, no âmago, somos deliciosos. Ainda em constante aprendizagem mas capazes de sermos mesmo deliciosos e de nos superarmos perante os desaires.
Tenho o maior orgulho na minha Pátria, na língua portuguesa e quando recordo que ela é o idioma de mais de 250 milhões de pessoas (o padre António Vieira, Camões e Fernando Pessoa deviam, a título póstumo, ser eleitos como os Embaixadores Perpétuos da Língua Portuguesa) não posso deixar de me emocionar e, simultaneamente, de me envaidecer. Ela é a ponte que une margens do Mundo, através das nossas palavras.
O português é a quinta língua materna a nível mundial (a primeira é o Chinês-Mandarim/ 9000.000.000) e a terceira língua da Europa mais falada no mundo ( Brasil/ 170.000.000, Angola/13.000.000, os países com maior número). Ao pensar nisto não posso deixar de sentir orgulho e ao olhar para o mapa do Mundo, penso: como é que um povo que abre as portas à Europa, tão pequeno em dimensões geográficas, é tão majestoso?
O nosso idioma (Língua de Camões), espalhou-se pelo mundo nos séculos XV e XVI, desde África, Macau, Japão, América, Brasil (quando os portugueses lá chegaram os indígenas falavam mais de mil idiomas). Hoje, os índios da tribo Pitaguari, só falam português. Presentemente é a língua oficial de oito países independentes, além de Portugal, claro, e falada como segunda língua em muitos outros (há cerca de 20 línguas crioulas de base portuguesa).
É, também, uma língua minoritária (wikipedia) em Andorra, Luxemburgo, Paraguai (500.000), Namíbia, Suiça e África do Sul. Os largos milhares de emigrantes em todo o mundo espalham-na por Paris, Hamilton, Toronto, Montreal, Boston, New Jersey, Miami (USA e Canadá/2.000.000), Nagoya, Hamamatsu (Japão/250.000) e fazem-na propagar através dos seus descendentes.
Verifica-se o crescente interesse pelo português na Austrália (60.000), Argentina, Uruguai e Paraguai, Senegal, Zimbabué e até Macau, Goa, Damão e Diu estão motivados em recuperá-la. Pode dizer-se, sem receio de engano, que nos locais mais exóticos, distantes, quase esquecidos ou desconhecidos, existe um nosso compatriota! Há aldeias, no Alasca, que descendem da mistura de nativos com Lusitanos e alguns familiares (poucos, é certo), ainda falam algumas palavras de português! Aliás, há algumas palavras na língua nativa que conservaram expressões portuguesas.
Pode dizer-se que o português é uma língua do futuro entre as 6.800 existentes (prevê-se que até 2100 desaparecerão 3.400 a 6.120, num ritmo superior ao referenciado por uma estatística que indica que se perderá um idioma a cada duas semanas) que se falam.
-Sim! A Língua Portuguesa encerra uma incontornável mensagem de futuro, disse, no Brasil, o Dr.Henrique Pedro. Por seu lado, a Drª Ibernise Indiara (Brasil), ao falar sobre o tema explicou-se admiravelmente:
-Compete a todos os lusófonos zelar pela sua unidade e multiplicidade. Homens e mulheres, raças e credos, reunidos, nela contidos... Brilhando e fazendo a Nação Lusófona irradiar luz... Irmãos que trabalham, amam e se emocionam amparados pela Língua Portuguesa, um amor de Mãe.
A nossa língua atravessou séculos baseada em conhecimentos e cultura, espalhou-se e constituiu-se património. Deu-se ao Mundo em prodigalidade e abundância; formou uma realidade intrínseca que nos une em todas as direcções, em campos de aprendizagem dinâmicos, criativos, imensos, movendo-se em mundos que sabem ou querem ouvir as raízes de um povo que toca no Atlântico.
No estrangeiro, apoiando os nossos emigrantes, que sejam cada vez mais as escolas, os professores, a ensinarem ou a relembrarem o idioma que os liga à Pátria. Que os escritores portugueses atravessem fronteiras e sejam conhecidos, traduzidos, admirados e respeitados. Que não se perca em todos os continentes o que fizemos de forma tão brilhante no passado: ensinar, falar português! O nosso valoroso passaporte para o futuro. O riquíssimo espólio de um passado. Uma herança valiosa a partilhar.
Há que louvar José Saramago que ao ganhar o Nobel da Literatura se transformou no atleta nacional que mais alto elevou a Língua Portuguesa ao tecto do Mundo. Louvar (sempre) Amália, Dulce Pontes, Mariza, Teresa Salgueiro e tantos outros artistas que, de país em país, juntam plateias que sabem conquistar e fazem render à musicalidade de palavras que muitas vezes não entendem: o português!
Há que louvar, ainda, as estações radiofónicas que, através das ondas hertzianas levam o nosso idioma a vários continentes dando aos emigrantes nacionais um contacto que fala de actualidade, memória, recordação e saudade, através da palavra falada e das palavras musicais na flexibilidade das canções. Finalmente, louvar a potencialidade e diversidade de jornais e revistas portuguesas que se ultrapassam nas notícias que encerram e se tornam eficazes na missão de avivar o idioma que nas distâncias não enfraquece nem desaparece.Permanece livre, aberto a todos que o queiram acompanhar na sua contínua expansão de sucesso.
O céu estrela o azul e tem grandeza
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro de luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é Luar: é luz e etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
O céu estrela o azul e tem grandeza
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro de luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é Luar: é luz e etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
Fernando Pessoa, in Mensagem
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