A SINTONIA DO CORPO E DA ALMA
James Adams era conhecido pelo entusiasmo de fomentar o diálogo, pela versatilidade dos temas, pelo sentido de humor e capacidade de manter conversas interessantíssimas. Uma noite, depois de um animado e saboroso jantar, recordou ao grupo de companheiros que o rodeava uma pequena história vivida por David, um amigo que era um notável explorador e que tinha passado alguns anos com os nativos do Norte do Amazonas e, um dia, quando teve de fazer uma marcha forçada através da floresta, deparou-se com uma situação imprevista que lhe deu motivos para pensar.
Durante os dois primeiros dias, a expedição avançou rapidamente, mas ao amanhecer do terceiro dia, James viu que os nativos que o acompanhavam não andavam e mantinham-se serenamente de cócoras, sem evidenciarem o mais pequeno sinal de, a curto ou mesmo médio prazo, mexerem qualquer músculo, muito menos levantarem-se e recomeçarem a marcha interrompida. Estupefacto, olhou-os de olhos muito abertos e, quando se ia dirigir ao chefe, escutou:
-Eles estão à espera…disse-lhe o líder da marcha com um semblante calmo, num tom de voz sussurrado e sem revelar qualquer admiração ou ansiedade.
-À espera!? Mas, à espera de quê? Perguntava David que transpirava abundantemente e estava rubro como uma malagueta picante. Nervoso, andava de um para outro lado com visível irritação, mas ao mesmo tempo intrigado.
-À espera, no meio da floresta! Do comboio?
-Não, senhor. Eles estão mesmo à espera. Não podem voltar a andar enquanto as suas almas não alcançarem os seus corpos.
David, olhou o chefe nos olhos e, sem dizer nada, sentou-se numa pedra enorme e roliça. Sentou-se e limitou-se a olhar o horizonte com o olhar perdido no vazio. Ele entendia a mente nativa, respeitava a sua cultura e sabia que, para eles, o espírito guiava-lhes as vidas. Não havia nada a fazer. Só esperar que as almas regressassem.
Lembrei-me deste episódio não sei bem porquê. Embora saiba pouquíssimo sobre a mentalidade dos nativos do Norte do Amazonas, admiro a autenticidade das suas crenças, das quais tenho uma pequena luz vinda de textos que leio com sofreguidão. Os índios tiveram, têm, uma maneira sábia de estar na vida, herança dos antepassados que sempre veneraram.
Esta atitude dos nativos que acompanhavam David deixará pensativos muitos citadinos, habitantes das grandes capitais onde o turbilhão de vida é quase sufocante e os deixa sem tempo nem capacidade para pararem e pensarem. Ficam insensíveis, dentro da voragem da vida trepidante que são obrigados a viver (verdadeiros escravos do tempo e da ambição) numa sociedade cada vez mais frenética.
Os nativos do Amazonas mostraram de forma convincente a importância que davam ao Espírito. À sua maneira. Fiéis aos parâmetros das raízes com as quais cresceram e se habituaram a respeitar e defender. Sábios para uns, ignorantes para outros, eles, em nenhuma situação, abdicavam das suas certezas: a alma e o corpo têm de estar em sintonia porque se algum deles se adiantar o desequilíbrio pode ser fatal.
Nos dias de hoje, um psicólogo faria uma excelente leitura da situação e, em termos comparativos com as épocas, as sociedades e as vivências, era bem provável que chegasse à mesma conclusão: a pressa não é boa conselheira, muito menos para a espiritualidade. É preciso tempo para entender a Vida! Precisamos de descodificar as pistas diárias que o Conhecimento nos dá; não perdermos a capacidade de procurar o nosso grande sucesso interior. Sem ele, o sucesso exterior, não será magnífico.
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