A VALSA DOS CONTINENTES
Hoje, em Portugal, na zona de Lisboa, o dia foi de Primavera com laivos estivais. Luminoso, agradável e acariciador. Sentada numa rocha, na praia das Maçãs, olho (embevecida) o branco do rendilhado das ondas que se espraiam na areia húmida desta praia pequena, intimista, bela e, por vezes, perigosa. Olho mais além e noto os cambiantes das águas que vão do verde-esmeralda ao azul-pavão e respiro profundamente. É belíssima a paisagem, suavizada por uma brisa fresca, cheirando a maresia.
Quando morava em Toronto sofria pelo facto de não ver o mar. Não consigo viver sem ele embora não me aventure mais do que mergulhar, de preferência até à cintura. A partir daí já entro no campo da grande coragem (minha). É um enamoramento distanciado mas absolutamente apaixonante. Lembro quando visitei o Museu no Mónaco e fui até à varanda no último andar ter olhado demoradamente o azul do Mediterrâneo. Uma tonalidade forte, talvez azul-cobalto, não sei bem. Sei que este Oceano tem uma cor fascinante. Em Punta Cana, na República Dominicana, reparei que a cor do mar das Caraíbas é, igualmente deslumbrante, diferente, talvez verde-garrafa com nuances intensas. Tudo isto para dizer que gosto do mar e de o homenagear. Junto dele sinto que estou num ponto de ligação profunda com o Universo.
Voltando ao pensamento inicial: estava sentada numa rocha (praia das Maçãs), cheia de vitalidade. Há anos e anos que ela recebe a energia do mar da lua, do sol, do ar, os quatro banhos mais revitalizantes do mundo. Olhava fixamente o infinito e lembrei-me que se seguisse em linha directa deveria encontrar Nova Iorque. Fascinante. Europa e América do Norte frente-a-frente! E, aí, lembrei-me do tempo em que os Continentes estavam unidos, e o meu pensamento entrou na roda do tempo. Vertiginosamente.
No inicio do século XX o meteorologista alemão, Alfred Lothar Wegener, defendeu a teoria (que só viria a ser confirmada 30 anos após a sua morte, 1930), que há 200 milhões de anos os continentes não tinham a configuração actual, existia apenas uma única massa terrestre. Essa massa continental contínua, denominada Pangeia, que se foi fragmentando lentamente, dando origem a dois megacontinentes (Laurásia e Godwana) era envolvida por um único Oceano chamado Pantalassa.
A teoria que os continentes estavam unidos foi debatida muito antes do século vinte, foi sugerido, pela primeira vez, em 1596 por um fabricante holandês, Abraham Ortelius que afirmou que as Américas foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terramotos e inundações e acrescentou:
-Os vestígios da ruptura revelam-se ao analisarmos um Mapa do Mundo e observar, com cuidado, as costas dos três Continentes.
Actualmente, Christopher Scotese, da Universidade do Texas, em Arlington, ao falar do movimento contínuo dos Continentes, adianta:
-Se o Oceano Atlântico continuar a expandir-se, as Américas irão embater (dentro de 50 a 100 milhões de anos) com a Ásia. Por outro lado, uma zona de subducção pode-se abrir no Atlântico e trazer o solo marinho à superfície, forçando a Europa e a América a ficarem juntas novamente. Isso, recriaria a Pangeia. Neste momento, vivemos a metade de um ciclo. O Oceano Pacífico está gradualmente a fechar-se, a Crosta Oceânica afunda-se nas zonas de subducção do Pacífico Norte, um sulco do Atlântico Central está a alimentar um novo solo marinho e as Américas separam-se cada vez mais da Europa e da África. Por falar em África, o continente move-se para o Norte, em direcção ao Sul da Europa. A Oceânia para o Norte, rumo ao Sudeste Asiático.
Scotese, passou muitos anos da sua carreira reconstruindo o passado da Terra, agora aplica esse conhecimento para projectar os Continentes no futuro e prevê que nos próximos 50 milhões de anos a África continuará a ir para o norte, fechando o Mediterrâneo e impulsionando uma cadeia montanhosa do tamanho do Himalaia ao sul da Europa. A Austrália irá girar e colidir com Bornéu e o sul da China.
Mas, segundo ele, tudo irá mudar 200 milhões de anos mais tarde. A subducção começa do lado ocidental do Atlântico. A abertura pára e o Atlântico começa a encolher, unindo novamente a maior parte das grandes áreas de terra, enquanto a América do Norte embate com o continente Euro-Africano. Originalmente, Scotese chamou o super continente resultante de Pangeia Última, mas, recentemente, alterou para Pangeia Próxima.
-O nome Última incomodava-me porque dá a ideia de ser o super continente derradeiro. Esse processo irá continuar por bilhões de anos.
Opiniões nem sempre convergentes sobre um tema desafiador que mexe com a nossa casa, o Planeta Azul, em constantes mutações. Nas falésias da Praia das Maçãs continuo a olhar o Atlântico azul-esverdeado. Gosto de imaginar como teria sido Pangeia e adoraria saber como estará o mundo daqui a 100 milhões de anos nesta dança lenta dos Continentes e Oceanos. O cenário que me envolve, o marulhar do mar dão-me serenidade absoluta, paz interior. Contemplo, desfruto e sonho
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