Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

terça-feira, 2 de setembro de 2008

NÃO DESESPEREM


Foto: Galeria Windows


Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar, se possível, judeus, o gentio, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos! A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, perdemo-nos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.


Criamos a época da velocidade, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado pobres. Os nossos conhecimentos fizeram-nos cépticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo fora: milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.


Aos que me podem ouvir, digo: não desesperem! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há-de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a Liberdade nunca perecerá. Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos actos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão!


Não sois máquina! Homens é que são! E com o amor da Humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar, os que não se fazem amar e os inumanos! Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem, não de um só homem ou grupo de homens, mas de todos os homens! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto, em nome da Democracia, usemos desse poder, unamo-nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que ditadores têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da Democracia, unamo-nos!

*Este discurso pertence ao filme O Grande Ditador e foi escrito por Charles Chaplin, o actor inglês que veria, em 1952, recusada a sua entrada na América. Passou a viver na Suiça. Morreu em 1977 (no dia de Natal) e está sepultado em Vevey.




Faço parte do mundo e, no entanto, ele me torna perplexo
(C.Chaplin)


2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Todos os filmes de Charles Champlin transmitiam uma mensagem mas esta para mim é uma das melhores, e que ainda hoje se mantem actualizada.

24 de setembro de 2008 às 00:01  
Blogger MEB disse...

Ainda bem que gostou. Na blogosfera temos possibilidade de dar e receber pequenas pérolas que sabem bem recordar ou conhecer.

24 de setembro de 2008 às 21:21  

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