O PECADO DE SÓCRATES
José Sócrates e Manuel Pinho fumaram no voo fretado da TAP que os levou a Caracas, esta foi a notícia com que despertei pelas sete da manhã. No decorrer das horas ouvi sobre o polémico tema -que passou a abrir os noticiários-, debates em directo com os ouvintes, opiniões de dois prestigiados constitucionalistas (Vital Moreira e Jorge Miranda) que analisaram o facto e sobre ele se pronunciaram, escutei um antigo comandante da TAP e, todos eles, foram unânimes (neste momento não sei mesmo se não haverá, hoje ou amanhã, numa qualquer das nossas Televisões uma mesa-redonda onde convidados, peritos, emitirão a sua douta opinião sobre o tema) Sócrates violou a Lei, fumou dentro do avião.
Concordo, o primeiro-ministro violou a Lei e, para encerrar o assunto, vai ter de pagar a respectiva multa (só abona a seu favor) e ponto final. A partir daí o País, Portugal, respirará aliviado, voltará ao ritmo que o caracteriza e os temas que habitualmente são manchetes, regressarão. Em força. Mas, pergunto a mim própria sem qualquer laivo de ingenuidade: será que o povo português quando vai às urnas e elege ou tenta ajudar a eleger os seus candidatos preferidos, sonha, imagina, pensa ou tem fé que vai eleger santos, anjos ou seres iluminados? Errado! Eles, os prováveis eleitos, são homens comuns com qualidade e defeitos.
Não sou fumadora, até podia fazer uma viagem de três meses de avião que não acender um cigarro não me faria a mais pequena diferença, mas para quem é fumador oito horas, duração da viagem Lisboa /Caracas, é obra! Numa viagem de interesse nacional, importantíssimo, com reflexos futuros que nos podem livrar de apertos, é provável, é possível, é natural, ou seja: é humano (errado, sim) sentir o apelo irrecusável de dar uma passa. É melhor dizer fumar, não vão inventar que estava a fazer imaginar que o primeiro-ministro fumou um charro.
Senhores, isto é política de chinelo. O homem errou. É verdade! Não escolheram um santo, o que esperam? Que todos os seus erros sejam estes. Por acaso pensam que ele no gabinete, em São Bento, não fuma? Dirão, não é lugar público! Pois. Mas o primeiro-ministro é o mesmo que, por acaso, é fumador (mal dele)! O País debate-se com problemas graves, gravíssimos, emprego, educação, preços a aumentar em todas as direcções (reflexos da situação internacional) e o povo perde-se por um fumaça, atrás de uma cortina, talvez para acalmar o stress que o cargo seguramente originará, saboreada a 10 mil metros de altitude, a bordo de um avião fretado, deduzo com convidados, jornalistas, comitiva de empresários que se deslocaram à Venezuela. Entre eles (faltou focar a tripulação e o comandante) havia um delator…Acho que quando José Sócrates pagar a multa (Louça tem de estar presente para ver in loco o castigo do infractor), simultaneamente deveria condecorar o salvador do fumo, para não dizer da Pátria, tento não entrar no ridículo.
São sete horas e os noticiários radiofónicos continuam a abrir com o cigarro de Sócrates. Querem ver que as Televisões, também o farão! (e não é que a SIC e a TVI o fizeram! A RTP dava futebol). Por acaso não vi, não ouvi, não li, mas a culpa pode ser minha, nada de muito relevante sobre esta viagem do primeiro-ministro à Venezuela que conseguiu aquilo que os espanhóis não conseguiram! Sabiam? Sabe, por acaso o que ele lá foi fazer?
Petróleo!!! Dependência? Diz algo?...
O primeiro-ministro saudou os acordos assinados entre a Galp e a petrolífera venezuelana nos domínios do petróleo, liquefacção de gás e energias renováveis e que prevê que parte da despesa com o petróleo seja paga com serviços e produtos nacionais.
-Estes acordos dão-nos uma primeira ideia de uma nova ambição nestas relações. Mas tenho a certeza que este será o primeiro passo, porque a vontade política de Portugal e da Venezuela é irem mais além nessa cooperação económica,
No primeiro dia da sua visita oficial à Venezuela, Sócrates frisou as promessas do presidente Hugo Chavez, relativas à segurança dos portugueses (600 mil) que vivem no país.
-Nada me agradou mais ouvir do presidente Chavez que as garantias que me deu de que tudo fará para apoiar a comunidade portuguesa, para lhe dar mais segurança e melhores condições para que tenha sucesso e tendo-o, contribuem também para o sucesso da Venezuela.
Hoje, Sócrates, visitou a Faixa de Orinoco (a 500 quilómetros de Caracas), uma das zonas mais produtivas de petróleo no mundo que ocupa uma área de 55 mil km2, atravessando quatro estados do país. Ao regressar a Lisboa, vai pagar a multinha do desejo.
2 Comentários:
Caríssima MEB, este episódio só aproveitou ao Primeiro-ministro. Se fumar naquele local é proibido, ele não deveria ter fumado. Se um pobre português, atormentado pelo aumento dos combustíveis ou pelos números do desemprego, for apanhado num avião da transportadora aérea nacional de cigarro ao canto da boca, é provável que um dos membros da tripulação lhe faça uma advertência ou lhe peça para ir fumar no exterior do avião. Primeiro-ministro e ministro não são excepções, cabe-lhes uma responsabilidade moral, e argumentar desconhecimento da Lei é simplesmente ridículo. José Sócrates diz que vai deixar de fumar, esqueceu-se apenas de dizer que iria deixar de o fazer... em frente aos senhores jornalistas. Mais um episódio que serviu apenas para elevar uma cortina de fumo sobre os principais problemas que afectam os portugueses.
Tudo o que diz está certo. É óbvio que sim, mas eu continuo a pensar que o pecado de Sócrates não me incomoda se ele continuar a tentar resolver os tremendos problemas que se vão abater sobre o país. E se pagar a multa. Não há primeiros-ministros perfeitos. O mundo não é povoado por santos, que não falham. Não erram. Não sucumbem aos desejos proibidos...Penso assim.
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