E SE ELE SAIR E ELES NÃO QUISEREM GOVERNAR?
Bastava ter-se seguido o exemplo de Zapatero, fresco do dia anterior que negociou em Nova York (com sucesso) como se não tivesse imensa Oposição no seu país, pelo menos aparentando a Unidade Nacional q.b. que possa fazer as praças internacionais pensarem que a Espanha tem um plano de recuperação e de desenvolvimento a médio e a longo prazo. E, não é por acaso, até tem. Basta estarem a mostrar que existe (eles até o têm de facto), um pacto político e social para que determinadas áreas estratégicas do desenvolvimento espanhol não fiquem expostas às políticas diferentes em cada Legislatura, como nós aqui deste lado tão bem continuamos a insistir em fazer, para mal do nosso futuro. O mais incrível deste quadro improvável é que os nossos dois protagonistas, além de estarem irremediavelmente agarrados à parte mais simples da solução que é aprovar o próximo Orçamento de Estado, sabem que se o actual Primeiro-ministro sai, deixa ao próximo a obrigação de personificar as medidas ainda mais impopulares e necessárias do que todas até aqui tomadas e o que esse próximo quer é que este actual as tome e já. Ambos o sabem.
O que seria da Oposição se o Governo se demitisse agora e futuras eleições lhes desse a vitória sem que esta tivesse sequer que lutar muito por isso? Ambos sabem também que essa é a perspectiva de uma vitória angustiante. O PR que, a entrar na sua própria corrida, começa da posição mais atrás que jamais começou algum PR candidato a segundo mandato, para já alimentado mais pela tradição do que pela força do seu modelo ou histórico recente, não deverá conseguir fazer a diferença neste impasse, pelo menos em tempo útil. O que vem ai é, então, certamente mais peso fiscal, até porque o dinheiro vai voltar a estar mais caro mas, sobretudo, vem a necessidade absoluta de sentido de Estado na defesa frontal do que se tem que fazer, em ritmo próprio. Que não se distraia com eleições já à porta, exigindo a convergência política, enquanto ao mesmo tempo se tem que encaixar o embate das medidas estruturais que meio mundo internacional nos irá impor, quer por via dos mecanismos da UE, quer por via dos mecanismos da Economia e Finanças internacionais.
O nosso segundo governante mais atacado -só atrás do Primeiro Ministro mais atacado de sempre na nossa história contemporânea-, é bem capaz de ser quem pode dar cara a essa luta. Tem sido uma cara fechada por ser compenetrado e persistente. Mostra-a fechada porque, sobretudo, não tem a menor das paciências para a feira de indisciplina e desrespeito em que se deixa o nosso Parlamento exercer, o que lhe tem ficado muito bem no currículo. O nosso Primeiro que, extraordinariamente, demonstra manter a mesma vontade de luta e de projecto político desde que o conhecemos e como não voltaremos a ver nos próximos largos anos, já há uns tempos que não tem tido oportunidade para promover uma daquelas suas medidas, ainda de boa memória, de profunda e ampla intervenção estrutural no País. Ele pode agora ter a oportunidade de promover a medida estrutural que fará toda a diferença nos tempos que correm com uma Oposição ainda em formação, medida essa no sentido do diálogo político e no da criação de condições efectivas para a adopção das medidas que se devem impor internamente antes que sejam impostas em dobro externamente, fazendo diferença no seu próprio futuro político a dez anos: lançar o seu de tantas lutas, Teixeira dos Santos.
(Robert H. Schuller)