Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

quarta-feira, 28 de maio de 2008

LUSO- SURPREENDENTE, FLUTUANTE,TRAIÇOEIRO E MÁGICO


...Catarina voltou a deliciar-se com a pródiga beleza que inundava o seu campo visual ao atravessar -uma vez mais- o Leste de Angola que, visto do ar, se assemelhava a uma explosão de verdes, laranjas, vermelhos e azuis, desenhando uma caprichosa manta de cores intensas e tropicais


- África, no seu melhor! Pensava, admirando o esplendor que se abria perante o seu olhar, maravilhado.


-Enfeitiçante, só pode! Bebi água do Bengo! Lá diz a tradição que quem dela bebe,fica com Angola no coração. E tem, sempre, de voltar


Enquanto sobrevoava o Luso (Moxico), capital do Leste (hoje, Luena), Catarina recordou as semanas aí passadas que marcaram os seus melhores tempos vividos em África. O Luso era uma terra especial. Bonita, limpa, de ruas bem estruturadas, com um dos melhores climas de toda a Angola. Limitada por arame farpado, é certo, mas não deixava de ser uma terra de charme, de paixão. Tudo se envolvia numa intensidade genuína e cultiva-se o intenso prazer de viver (sofregamente) talvez porque a ameaça de morte ecoasse fortemente nos sentidos atentos ao que se passava.


Ultrapassar os limites, assinaladas com o arame, era um puro acto de insensatez mas, Catarina, fê-lo por várias vezes, mesmo à noite, desafiando o que não devia ser desafiado. Vivia-se uma espécie de embriaguez e ousar era uma forma (estranha) de saborear a vida! Tempos depois, ao recordar as imprudências não podia deixar de sentir uma espécie um arrepio doloroso a percorrer-lhe o corpo.


Tinha arriscado muito. Demasiado. Recordou a noite em que por qualquer motivo não alinhou na transgressão e não ultrapassou a barreira de segurança para ir beber uma simples Cuca (cerveja angolana) a um pequeno lugar qualquer onde se juntavam cinco ou 10 pessoas e falavam, bebiam, ouviam música, num convívio agradável. Nessa noite não foi, e o carro onde ia habitualmente foi alvejado e, só por um incrível capricho da Natureza, as balas não feriram mortalmente, mas deixaram profundas marcas nos três ocupantes. Nunca mais tiveram coragem de ousar. Passaram a limitar-se a juntar e a espairecer o espírito, após dias de angústia. Só que o Luso era, em si, empolgante e só isso ajudava a sobreviver.


O Grande Hotel era o local onde Catarina se alojava sempre que se deslocava ao Leste, principalmente ao Luso. Era praticamente ocupado por militares e pelas suas famílias. Havia muitas mulheres de oficiais que permaneciam ali embora os maridos estivessem colocados em acampamentos distantes e se vissem muito espaçadamente. Naquela altura só a mulher do comandante do acampamento de S. João tinha a coragem de estar lá com o marido. Era uma mulher lindíssima, morena. Provocadora, q.b. Aprendeu a manejar a G-3 com perícia. Fazia sucesso quando passava pelas brisas do Luso e pensava-se como é que ela gostava de estar num sítio tão isolado e tão perigoso. Haveria motivos e deviam ser aliciantes.


Podia contar-se pelos dedos das mãos os pontos especiais que existiam na capital, capazes de prender atenções. Eram muito poucos na realidade mas eram vigorosos, emotivos, vivia-se diariamente coabitando com o imprevisto e com o medo. Chegou a estar-se muitas vezes no cinema com o barulho de morteiros estalando próximo mas, ir ao cinema, no Luso, era uma sensação única. Os espectadores que enchiam a sala, vestiam-se como se fossem para uma festa ou como se prepararem-se para um último encontro social. Nos rostos haviam sorrisos fixos, olhares alheados, mas a postura era firme. Cada um era um poeta da sua vida, capazes de escrever poemas nas estrelas, confidentes de ânsias, raivas, desassossegos e gratidões.


Por um lado, um desafio; por outro, saborear o prazer de ver gente, de sentir que não se estava só e essa socialização era benéfica. Mais, era necessária para se continuar a enfrentar as dificuldades que os tempos ofereciam. Nessa sala reuniam-se as forças vivas do Luso. Catarina era frequentadora fiel. Sempre que estava na zona e os seus trabalhos o permitiam, a jornalista despia-se da sua profissão e saboreava a noite. As noites do Luso tinham fascínio, mais do que se encontrava em Benguela -a cidade das acácias rubras- porque se a cidade da Praia Morena era muito maior, mais variada, mais citadina, o seu encanto, apesar de imenso, não conseguia igualar as sensações do Luso que parecia uma pequena pérola a brilhar ao lado de uma granada e, isso, conferia-lhe um sortilégio especial.


Além do cinema havia um restaurante, O Fragoso, perto da área do hotel, era um local elegante, habitualmente frequentado pela melhor sociedade. Lá se encontrava o médico, o engenheiro, o comandante, os oficiais. Jantar no Fragoso era como viver uma cena cinematográfica. Porquê? Porque havia muita cumplicidade no ar. Muitos segredos. Muitos amores e desamores. O facto de se viver diariamente no centro do perigo aumentava o apetite pela vida. Saboreava-se tudo, ao mais ínfimo pormenor.


Analisavam-se, pacientemente, pessoas e situações, em íntima cumplicidade, com a realidade e a imaginação: a senhora que fez uma operação plástica que lhe deixou a cara tão esticada que brilhava, sem vida e sem expressão; o médico que, dizia-se, tinha uns amores clandestinos; o capitão que sonhava com a mulher de um outro. A mulher do engenheiro que sonhava com uns braços que não eram os do marido. Amores desencontrados e proibidos eram pródigos naquela zona de guerra. As histórias eram muitas e os mexericos ainda mais.


Quando Catarina descia a rua florida que vinha do hotel até ao largo onde se situava o Rádio Clube do Moxico, a jornalista deliciava-se com o sopro de vento que lhe amaciava o rosto.


- Vou sempre, sempre, lembrar-me destes momentos em que desço esta rua.


Ao longo das suas permanências no Luso, Catarina já tinha feito amigos. Ia frequentemente ao Rádio Clube e daí saía frequentemente para festas. A Adília, o Torres, o casal Ferreira, ajudaram-na a descobrir o encantamento da terra. E, passados anos, quando os recordou lembrou-se de uma festa que tinha decorrido nas instalações da Voz Amiga do Leste de Angola, em directo, com a ajuda da presença dos elementos da República O Trunfo é Kopos (militares portugueses, do destacamento de Engenharia, destacados na zona) onde vozes, canções, poesia, preencheram uma noite (inesquecível) que terminou com uma sessão de fados onde o alferes Maia cantou com alma e coração:


-Morte que Mataste Lira/Mata-me a mim/ Que sou Teu/ Mata-me com os mesmos ferros /Com que a Lira Morreu… A emoção era tanta que arrepiava. Estava-se ali, longe do mundo, ao sabor dos acontecimentos e das emoções. O Luso era como um vulcão: por vezes silencioso, adormecido, mas sempre ameaçando explosões exuberantes.


Dizia-se que o alferes estava perdido de amores por Helena, a mulher de um engenheiro destacado no Luso. Helena que, dizia-se, estava perdidamente enamorada por um director de uma firma aí sediada. Era uma mulher linda. Alta, esguia, com os belos cabelos louros que habitualmente prendia com uma fita de veludo negro. Falava-se muito de Helena mas quem a via, ao lado do marido e do filho, sempre muito serena e até com um certo ar de recato, ninguém desconfiava que dentro do seu coração havia conflito de sensações. Insatisfeita, ela não desistia de procurar quem desse maior entusiasmo à sua vida, mas, parecia, sem resultados positivos, apesar da sua aristocrata beleza. Helena acabou por regressar a Lisboa e continuou a viver a vida de uma mulher casada, bonita, um pouco apática, um pouco triste.


A guerra proporcionou sublimados estados de espírito em aventuras (enormes ou discretas) suficientemente capazes de alvoraçar corações e alimentar secretas e confusas esperanças. Os pensamentos sucediam-se freneticamente e, sem dar por isso, a viagem, prestes a terminar, acabou por ser um desfilar de recordações indeléveis. Catarina lembrou o Luso e alguns dos inesquecíveis momentos aí passados até que o aeroporto de Luanda começou a avistar-se. Quando se preparava para deixar o avião, Catarina ainda sentia a nostalgia das memórias que tinha acabado de reviver. Já na pista, assistiu ao desembarque dos feridos e a todos desejou que vencessem a dura batalha que tinham pela frente. Esse era o lado dramático do Luso. A dor quando batia à porta era dura, era um desafio aos limites da capacidade de cada protagonista nesse cenário de guerra que exigia ânsias exageradas de heroicidade. Quantos heróis, Catarina, não conheceu que sucumbiram exaustos e loucos na voracidade bélica que atordoava os sentidos e matava vidas?…



O homem nunca encontrou uma definição para a palavra liberdade.
(Abraham Lincoln)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ -SIM ou NÃO?


Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida. Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes – te amo, te amo. Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo.
*
Quando, já há alguns anos (1999), recebi este inesquecível texto por e-mail, chorei como uma Maria Madalena. Achei absolutamente enternecedor e quase divinizei Gabriel García Márquez (Gabo, Gabito), o escritor colombiano, Prémio Nobel da Literatura de 1982. Quanto mais o via e lia (vinha preciosamente ilustrado, apesar do texto ser suportado apenas por uma foto. A melodia, linda e inspirada, ajudava à emoção), perdia-me em lágrimas.
Pensei que o escritor ia durar apenas escassos dias e aquele texto era um testamento do Gabo (aos amigos e ao Mundo), disciplinado, sereno, lúcido, onde García Márquez, libertado já do seu individualismo lucidamente, conseguia abraçar o todo universal. Apesar da dor da mensagem havia nela uma harmonia que conseguia suavizar o meu sofrimento. Lia-a várias vezes durante estes 9 anos. E o ritual repetia-se. Sempre que o fazia, chorava. Cheguei mesmo, durante uns confusos tempos, pensar que Márquez já tinha morrido.

Acontece que, hoje, ao navegar por esta janela aberta para o mundo (Net) encontrei algo que me fez ficar, pelo menos pálida. Acabei por chocar com uma página onde li que este texto –Carta Aos Amigos ou A Despedida- não era do famoso escritor colombiano e que o verdadeiro autor era Johnny Welch. La Marioneta, foi o título dado ao poema por este ventríloco que trabalha no México com o seu boneco de nome Mofles.

Escritor de muitos livros, entre eles o inesquecível Cem Anos de Solidão, jornalista, editor e activista político, diz-se que simpatizante do marxismo, está vivo e diz o seu biógrafo Dasso Sáldivar, curado do cancro do pulmão (1992) e um linfático (2000). Um estilo de vida mais recatado (tem 81 anos) e a felicidade partilhada ao lado da mulher e netos, no México, ajudam na finalização da nova obra (dedicada ao amor) do escritor que chegará às livrarias em princípios de 2009, encerrando o ciclo que teve início em 1985 com Amor em Tempos de Cólera, Do Amor e outros Demónios (1994) e Memória das minhas Putas Tristes (2004).

Sobre a Carta aos Amigos ou A Despedida, de García Márquez, fica-me a dúvida. Verdade? Mentira? Para mim é algo mal explicado mas, no fundo, não posso deixar de confessar que foi um texto (alguns acharam piegas) que me tocou o coração. E toca.


- Um verdadeiro amigo é quem te pega da mão e te toca o coração
(G.G.Márquez)

domingo, 25 de maio de 2008

NÓS, PODEMOS FAZER MAIS DO QUE ISSO!


A história (comovente) que irão ler já é muito conhecida. Ela foi publicada na Revista Bombeiros em Emergência nº 19 SP (São Paulo, Brasil) e está em muitos sites especializados. Tem sido lida em diversas formaturas de Bombeiros, e figura em centenas de exposições das Corporações, além de circular pela Internet.


Qualquer que seja a nossa actividade profissional devemos ter em mente a importância de fazermos sempre algo mais. No caso presente, que é uma história verídica, a revista dos Bombeiros de S.Paulo fê-la circular para que a sua filosofia e princípios fossem internacionalizados. E aproveitaram a ocasião para perguntar:


-E vocês, frente aos pedidos dos vossos pais, irmãos, filhos, parentes, amigos, necessitados, têm respondido: Eu posso fazer mais do que isso!


Reflicta se a sua vida tem estado ao serviço do próximo e tome uma decisão hoje mesmo. Um amigo disse-me uma vez:


-Pior do que querer fazer e não poder é poder fazer e não querer (Levi Dias de Santana- Bombeiro)


***

A mãe sentou-se ao lado da cama do seu filho de 6 anos, que estava doente com leucemia (em fase terminal). Embora o seu coração estivesse cheio de tristeza e de angústia, ela era muito determinada e, como qualquer outra mãe, gostaria que o filho crescesse e realizasse os seus sonhos. Agora, isso não seria possível, por causa da doença. Disfarçando a angústia debruçou-se sobre ele, pegou-lhe na mão e perguntou:


- Filho, alguma vez pensaste no que gostarias de ser quando cresceres?


- Mamã, eu sempre quis ser bombeiro! A mãe sorriu e disse-lhe:


- Vamos ver o que podemos fazer.


Mais tarde, naquele mesmo dia, ela foi ao Corpo de Bombeiros local, contou ao chefe a situação do filho e perguntou-lhe se seria possível o garoto dar uma volta no carro dos bombeiros, à volta do quarteirão. O chefe, comovido, disse:


- Nós, podemos fazer mais do que isso! Se estiver com o seu filho, pronto, às sete horas da manhã, daqui a uma semana, nós faremos dele um bombeiro honorário, por todo o dia. Ele poderá ir para o quartel, comer connosco e sair para atender às chamadas de incêndio. E se nos der as medidas dele, nós conseguiremos um uniforme completo: chapéu com o emblema de nosso batalhão, casaco amarelo igual ao que vestimos e botas.


Uma semana depois, o bombeiro-chefe pegou no garoto, vestiu-lhe o uniforme completo e escoltou-o desde o leito do hospital até ao carro. O menino ficou sentado na parte de trás, e foi até o quartel central. Parecia estar no céu... Ocorreram três chamadas naquele dia na cidade e o garoto acompanhou todas as emergências. Em cada chamada, ele foi em veículos diferentes: no tanque, na ambulância dos paramédicos e até no carro especial do chefe dos bombeiros. Todo o amor e atenção que foram dispensados ao menino acabaram por comovê-lo tão profundamente, que ele viveu três meses mais que o previsto pelos médicos.


Uma noite, todas as suas funções vitais começaram a cair dramaticamente e a mãe decidiu chamar ao hospital, a família. Então, lembrou-se da emoção que o filho tinha sentido no dia passado como um bombeiro. Pediu à enfermeira que ligasse para o chefe da Corporação e perguntasse se seria possível enviar um bombeiro para o hospital, naquele momento trágico, para ficar com o menino. O chefe dos bombeiros respondeu-lhe:


- Nós podemos fazer mais do que isso! Estaremos aí em cinco minutos. Mas, faça- me um favor. Quando ouvir as sirenes e olhar as luzes dos nossos carros, avise que não se trata de um incêndio. É, apenas, o Corpo de Bombeiros que vai visitar, mais uma vez, um de seus mais distintos elementos. E, já agora, poderia abrir a janela do quarto dele?


Cinco minutos depois, uma ambulância e um caminhão com escada chegaram ao hospital. Estenderam-na até o andar onde o garoto estava, e 16 bombeiros subiram. Com a permissão da mãe, eles abraçaram-no, seguraram, sorriram e disseram que o amavam.Com voz fraquinha, o menino olhou para o chefe e perguntou:


- Chefe, eu sou mesmo um bombeiro?


- Sim, você é bombeiro e um dos melhores. Com estas palavras, o menino sorriu e fechou os olhos para sempre.

Confia em ti mesmo. Cria o tipo de vida que te fará feliz para o resto dos teus dias. Aproveita as tuas capacidades ao máximo, transformando as pequenas centelhas de possibilidades que tens dentro de ti em chamas de conquista

(Foster McClellan)

sábado, 24 de maio de 2008

PEDRO PASSOS COELHO - O OBAMA PORTUGUÊS


As eleições directas para apurar o vencedor dos candidatos à liderança do PSD (31 de Maio) vão ser desusadamente emotivas e o vencedor já está mentalmente escolhido e, admirem-se ou não, é…Pedro Passos Coelho (discurso moderado e uma cara nova na política)! Não que eu concorde com a sua vitória (é demasiado cedo), mas vai ser ele e o culpado não é o futuro líder mas, sim, a série de lideranças frágeis e desastrosas ultimamente exercidas.


Passos Coelho sofre (a seu favor) de uma súbita e imperiosa sensação (asfixiante) de mudança que ataca a massa eleitoral, fartérrima de não ver futuros. Saturada de tanta dificuldade. Esgotada de lutar contra a maré ou fica ou parte. Neste momento Portugal é o oitavo país de maior emigração e, na sangria de evasão, vão os cérebros de que precisamos como pão para a boca, vão os especializados, vão os que querem mesmo agarrar a vida de frente, com ambas as mãos, dispostos e lutar até vencer. Por cá, ficam os desfavorecidos da sorte, os injustiçados, os apáticos, os idosos. E Portugal vai mirrando. Empalidecendo. Tuberculizando, porque a fome está aí. Fome, enganada a sopa com pão.


O ano de 2009 vai ser pródigo em eleições, mas para já temos as do PSD que darão o líder e o candidato a futuro primeiro-ministro -Passos Coelho assumiu o papel mostrando que não quer apenas marcar território no partido. O candidato à liderança do PSD defendeu um Estado com menos despesas e mais aberto a parcerias com a sociedade e com o privado-, no (provável) futuro confronto com Sócrates.


Mas, perguntarão e bem, o que tem Passos Coelho a ver com Barack Obama, pré-candidato democrata às eleições Presidenciais Americanas, a realizar a 4 de Novembro? O que tem? Usufruiu da mesma onda de inesperada euforia por parte dos saturados do mesmo e ávidos de inovações. Num abrir e fechar de olhos conquistou os jovens e os deserdados dos amanhãs.Uns discursos excelentes, empolgantes (feitos por um elemento do seu staff), fizeram o resto: atiraram Hillary Clinton (que tudo indicava seria a futura presidente dos EUA) para o espaço e se Barack Obama ganhar vamos torcer a orelha, mas vai ser tarde (ver crónica de 15 de Fevereiro). Ele é bom mas não tem experiência. Vai apanhar uma América endividada, estilhaçada, fustigada por intempéries cada vez mais frequentes, a braços com o petróleo a subir e a esvaziar-lhe as reservas, além da herança do presidente cessante.


Com Passos Coelho é um pouco assim: Manuela Ferreira Leite deveria ganhar, ela tem a tarimba da experiência; Patinha Antão, diz-se que é um peso pesado; António Neto da Silva, desistiu, por não ter conseguido arranjar as assinaturas necessárias e queixando-se da marginalização feita na Comunicação Social; Santana Lopes tem sido desastrado (socialista de meia-tigela, foi o que chamou a Sócrates, num não inspirado discurso, em Monte Gordo, no mínimo, deselegante) em demasia para convencer a ter-se mais do mesmo (ver crónica de 24 de Abril).


Então, como consegue Passos Coelho uma dinâmica ganhadora?Frequentemente é apontado como inexperiente! Sobre isso, diz:


-Prefiro não ter experiência Governativa do que ter a má experiência que Santana Lopes teve. E adianta:


-Para quê estar a escolher uma liderança de transição se podemos escolher uma liderança forte para os próximos anos? Passos Coelho fez a pergunta a centenas de militantes que o escutavam numa reunião de campanha, creio que em Cascais.


É inegável a inteligência (não tem, penso, a ajuda de uma poderosa e profissional máquina na retaguarda) na condução da sua presença na corrida da liderança, apesar disso está ombro-a-ombro na disputa pela vitória com a veterana Ferreira Leite. Nota-se que há pormenores que evidenciam, por vezes, insegurança, o que é natural. Tem sabido ser sóbrio e comedido na argumentação e transpira uma ambição que não lhe fica mal. Respeitador e seguro. Além disso, estão a aparecer ajudas preciosas, como foi a de Paulo Teixeira Pinto:


-Temos de escolher entre os candidatos que existem. Não por razões de amizade ou outras de qualquer outra índole, mas apenas pela questão programática e pragmática. O candidato que reúne os melhores requisitos objectivos e subjectivos é o dr. Pedro Passos Coelho. Sobre a tão falada falta de experiência de Passos Coelho, afirmou:


-A experiência é a única coisa que se adquire fazendo! Assustar-me-ia se lhe faltassem outras qualidades, como as que ele tem: sensibilidade política, visão e sentido de responsabilidade. Essas não se adquirem com o decurso do tempo.


E não tem faltado palavras elogiosas, até por parte de rivais, que vão continuar na candidatura até ao fim, como foi o caso de Patinha Antão, numa reunião no Porto:


-Passos Coelho reúne as condições para ser um líder do século XXI, o que deve ser considerado muito seriamente pelos militantes.


Se por um lado tudo nos parece dizer que só Manuela Ferreira Leite tem os trunfos necessários para ser a líder do PSD e futura primeira-ministra de Portugal, nesta altura do campeonato, sentimos que já não é assim. O mapa político começa a mexer-se e antivisiona-se, a médio prazo, a importância de novos, estimulantes, produtivos e gratificantes objectivos. Há uma necessidade gritante de agarrar o tempo.




No futuro, não muito distante, haverá poucos empregos para pessoas altamente educadas e bem preparadas. Não haverá chances para todo mundo. A qualidade do ensino é precária no mundo inteiro e isso terá graves consequências. Em especial, a educação científica é deplorável. Em quase todo o mundo os professores ainda são mal remunerados e a qualidade do ensino de ciências é muito deficiente. Para mim, este é um dos piores problemas que enfrentamos actualmente, causador de muitas desgraças. No início deste século, o escritor H.G. Wells dizia que "o futuro será uma corrida entre a educação e a catástrofe". No momento, acho que estamos a perder a corrida.


sexta-feira, 23 de maio de 2008

BORBULHAS DE AMOR


É curioso como certos momentos que, à partida, podiam parecer insignificantes, se transformam em realidades notáveis, capazes de mudar o mundo. A História da Vida está repleta desses casos, desses momentos-chave, que proporcionaram a génios, descobertas de valor permanente e incalculável –lembre-se da electricidade, do telefone, por exemplo-. Muitos foram os Arquimedes que, à sua maneira e, perante os diferentes problemas a solucionar, disseram, nas suas banheiras Eureka!Eureka (Encontrei! Encontrei!).


Como se sabe esta exclamação pertenceu a Arquimedes, um matemático, físico e inventor grego. Foi um dos mais importantes cientistas e matemáticos da Antiguidade e um dos maiores de todos os tempos. Também fez descobertas importantes em geometria e matemática. Inventou ainda vários tipos de máquinas, quer para uso militar, quer para uso civil. No campo da Física, contribuiu para a fundação da Hidrostática, tendo feito, entre outras descobertas, o famoso princípio que leva o seu nome. E, descobriu ainda o princípio da alavanca e a ele é atribuída a citação


-Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo.


Mas qual seria o problema que atormentava o famoso cientista que procurava desesperadamente uma solução? Ora, contam os relatos da época que, um dia Hierão, rei de Siracusa, no século III a.C. encomendou uma coroa de ouro, para homenagear uma divindade que supostamente o protegera nas suas conquistas, mas foi levantada a acusação de que o ourives o enganara, misturando o ouro maciço com prata na sua confecção. Para descobrir, sem danificar o objecto (precioso) Hierão pediu a ajuda de Arquimedes. Esta ouviu atentamente o rei e logo se concentrou na procura da solução para o problema, a qual (pasme-se) lhe ocorreu (inesperadamente) durante o banho!


A lenda afirma que Arquimedes teria notado que uma quantidade de água correspondente ao seu próprio volume transbordava da banheira quando ele entrava nela e que, utilizando um método semelhante, poderia comparar o volume da coroa com os volumes de iguais pesos de prata e ouro: bastava colocá-los num recipiente cheio de água, e medir a quantidade de líquido derramado. Feliz com essa fantástica descoberta, Arquimedes teria saído à rua nu, gritando Eureka!Eureka!


Eu penso que Juan Luís Guerra, o prestigiado e inspirado dominicano, um dia, à sua maneira, tornou-se um pouco em Arquimedes, não na banheira mas quando ao olhar o aquário, gritou o seu Eureka! Eureka! Vamos saber como. Muito simples. Imaginem-no jardim da sua acolhedora casa, num cair da tarde, naquela hora doce do dia, quando este se prepara para se debruçar no mar, sentindo no rosto a brisa característica da República Dominicana que, garanto, é preciosa. Estava a ler Pablo Neruda, um dos seus poetas eleitos, e a magia do poeta chileno deixara-o em estado de graça, de alma e coração lavados e inspirados.


Esteve tempos em surdina olhando o que o rodeava: o ondular das palmeiras, a profusão de mil cores das flores que embelezavam cantos e recantos do espaço onde a vedeta era a piscina cheia de um azul electrizante.Luis Guerra olhou, pouco depois, para um canto junto à entrada de casa, debaixo de um alpendre verdadeiramente romântico e sedutor quando os seus olhos (apesar de, na altura, ver mal), se fixam na mesa junto às longas e cómodas cadeiras de verga.


Um grande aquário, transparente, colorido e cheio de vida enfeitiçaram-no! Olhou e voltou a olhá-lo. Ficou a olhá-lo intensamente até ao momento em que, sem se aperceber, começa a entoar sons e palavras do que viria mais tarde a ser uma canção (verdadeiro êxito mundial) de amor: Borbulhas de Amor.E foi assim que na banheira não do Luis Guerra mas dos seus exóticos peixinhos nasceu uma canção entusiasmante e romântica, um verdadeiro choque -que faz bem-, estilo duche escocês, a corações solitários.


Ouvi-a dezenas de vezes em Punta Cana Resort and Club, cantada pela Sónia e pelo Josecito (que saudades), vozes prodigiosas que debaixo da lua caribenha, fizeram (e fazem) sonhar centenas de corações e acordaram sensibilidades mesmo que adormecidas. Dançar, Borbulhas de Amor, nos luares de prata de Punta Cana, tendo por vizinho Júlio Iglésias, é adrenalina elevada à escala de alto risco. É um perigo quase mortal que sabe bem. E tudo começou com Pablo Neruda e terminou no aquário, na voz e na sensibilidade de José Luis Guerra



Tengo un corazón Mutilado de esperanza y de razón, Tengo un corazón Que madruga adonde quiera ¡ayayayay! Y ese corazón Se desnuda de impaciencia ante tu voz, Pobre corazón Que no atrapa su cordura. Quisiera ser un pez Para tocar mi nariz En tu pecera Y hacer burbujas de amor...

domingo, 18 de maio de 2008

PORTUGAL - O ROSTO DA EUROPA!


Faço rodar, lentamente, o colorido, enorme, lindo e iluminado Globo Terrestre, colocado num lugar de destaque no meu canto preferido da sala, o que me deixa na ponta dos dedos os países e os mares a passarem no ritmo que desejo. É um gesto que me é habitual porque olhar os Continentes, os Oceanos, verificar, atentamente, as fronteiras, recapitular as capitais, recordar a História de cada conflito em terra ou no mar, é um ritual entusiasmante. Sempre que o faço, aprendo. Gostava de dominar com segurança e saber o todo do nosso Mundo mas, confesso, a tarefa para ser perfeita, é difícil. Aliciante e morosa.


Fixo-me no espaço da nossa Europa (segundo a mitologia grega, foi uma mulher linda que despertou a paixão de Zeus, deus-rei do Olimpo) e fico a olhá-la, a ver, a recordar, a interrogar-me sobre os terríveis tempos de devastação que a atingiram, os milhares e milhares de mortos, feridos, traumatizados para sempre que deambularam, durante anos, pelos caminhos da miséria e do desespero (é importante lembrar o quanto devemos aos americanos, pela valiosa e oportuna ajuda). As batalhas foram mortíferas mas o reerguer foi heróico. Exemplar. Dos destroços das cidades em pó, brigadas de trabalhadores, ajudados na retaguarda pelas mulheres europeias que foram sublimes, fizeram nascer verdadeiras maravilhas que ainda hoje perduram.


Como se sabe a Europa é o continente que teve mais influência na História do Mundo (descobertas, conquistas, colonizações, movimentos e revoluções, guerras mundiais), apesar de ser o segundo menor do mundo, depois da Oceânia. Tem uma extensão de 10.530.751 Km2. Todavia, a economia da Europa é a maior do mundo com um PIB estimado em 13,82 triliões de euros. A União Europeia tem muitas facetas, sendo as mais importantes o mercado único europeu (uma união aduaneira), uma moeda única (o euro) e políticas agrícola, de pescas, comercial e de transportes comuns. Desenvolve, ainda, várias iniciativas para a coordenação das actividades judiciais e de defesa dos Estados Membros.Há características que gosto de relembrar e, para isso, recorro frequentemente a base de dados (Wikipédia) que me fazem ficar mais conhecedora. Nunca consegui memorizar a 100% as capitais, principalmente depois das alterações das fronteiras. Vamos, então, conhecer melhor o perfil europeu.

Número de países: 49
Área: 10 498 000 km²
População: 744 717 000
Seis línguas mais faladas: russo, alemão, francês, inglês, italiano e polaco
Densidade demográfica: 101 h/km²
Ponto mais alto: Monte Elbru (5 642), Rússia
Ponto mais baixo: Mar Cáspio (-28m), Rússia
Maior lago: Ládoga (18 400 km²), Rússia
Maior lago artificial: Barragem do Alqueva, rio Guadiana (250 km²), Alentejo, Portugal
Ponto mais ocidental do Continente Europeu: (Cabo da Roca), Portugal
Ponto mais ocidental da Europa: (Ilhéu de Monchique), a ocidente da ilha das Flores, nos Açores, Portugal
Local mais a Norte: Cabo Nordkinn, Noruega (continental) e Knivskjellodden,
Noruega (ilha)
Maior ilha: Grã-Bretanha (229 885 km²), Reino Unido
Maior vulcão: Etna (3.323 metros), Sicília, Itália
Principal cascata: Gavarnie (422 metros), França
País mais pobre: Moldávia (410 dólares/hab. ao ano)
País mais populoso: Rússia
(141.377.000 habitantes)
País menos populoso: Vaticano
(890 habitantes)
Maior país: Rússia (17.075.200 km²)
Menor país: Vaticano
(0,44 km²)
País mais povoado: Mónaco
(17.435,9 h/km²)
País menos povoado: Islândia
(2,74 h/km²)

Muitos dos países que formam a Europa pertencem ao chamado primeiro mundo. Uma das particularidades desta economia é que vários são de pouca extensão territorial, sem grandes recursos naturais e sem possuir costas, mas contam com economias prósperas e um elevado nível de vida. É o caso da Suíça, Mónaco (este debruçado sobre o Mediterrâneo), Liechtenstein, e o país europeu mais rico: Luxemburgo, 43.930 euros/hab. por ano)

A Europa, o Velho Mundo, foi assim chamado durante as Grandes Navegações, hoje, é conhecido pelo Velho Continente, o berço da Cultura mas, actualmente, o mais envelhecido. A Europa tem 744,3 milhões de habitantes e é o único continente onde a população não está a aumentar. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), ela diminuirá a uma taxa de 0,1% ao ano entre 2005 e 2010.O envelhecimento da população exige absorção de imigrantes, principalmente profissionais em tecnologia. Por outro lado, o crescimento do desemprego e o aumento da concorrência no mercado de trabalho vêm impondo obstáculos à entrada de mão-de-obra não qualificada.

A maior parte do território europeu é formada por planícies. Mais de metade da sua extensão está abaixo de 200 metros, e a altitude média é de 340 metros. O relevo montanhoso prevalece a Norte (onde se localizam os Alpes Escandinavos e as cadeias das Ilhas Britânicas) e a Sul (cortada pelos Pirinéus, Alpes, Cárpatos e Balcãs). No Centro, uma vasta planície estende-se, quase sem interrupção, dos Pirinéus aos montes Urais. O maior rio é o Volga, tem cerca de 3,5 mil quilómetros. Políticos europeus desde há muitos e muitos anos que têm dedicado a este espaço atenção e análise, na ânsia de concretizarem a coesão por muitos ambicionada, de um continente suficientemente forte com a capacidade de responder aos sucessivos desafios. Nos tempos modernos é uma realidade que procura constante consolidação.
Um dos últimos passos foi a realização doTratado de Lisboa, assinado na capital portuguesa, pelos Chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados Membros, a 13 de Dezembro de 2007, que dotará a União Europeia de instituições modernas e de métodos de trabalho eficientes que lhe permitirão dar uma resposta efectiva aos desafios actuais. O Tratado irá reforçar a democracia na União Europeia e melhorar a sua capacidade de defender os interesses dos seus cidadãos no dia-a-dia. O único país a referendá-lo, por imposição constitucional, será a Irlanda (12 de Junho) .

Continua a rodopiar lentamente o bonito e sabedor Globo que me deixa na ponta dos dedos o palpitar do Mundo. Olho atentamente a foto da NASA, tirada por satélite e, não há dúvida, a Europa parece o corpo de uma mulher cujo rosto é Portugal.


...A libertação do homem comum, de qualquer raça e de qualquer país, da guerra e da servidão deve ter bases sólidas e ser criada através da vontade de todos os homens e mulheres de antes morrer que vergar perante a tirania. É necessário que a França e a Alemanha tomem a iniciativa e se aliem nesta tarefa imperiosa. A Grã-Bretanha, a Commonwealth de povos britânicos, a poderosa América e, estou confiante, a Rússia também – pois assim tudo ficaria bem – devem ser amigos e defensores da nova Europa e promover o seu direito à vida e à prosperidade.
Digo-vos pois: “Que a Europa ressuscite!...
(Discurso de Winston Churchill (19/09/1946, Zurique - Suíça)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

HINO À PAZ - CANTAREI, CANTARÁS


Quero ser
Um porto no mar
Ser a bússola
Que te devolva o rumo
Quero ser
Um lugar de paz
E não deixar jamais
Que se te acabe o mundo

Amigo, amigo
Não há nada a temer
Estou contigo

E depois da escuridão
Esperando está
Um novo dia

Cantarei, cantarás
E essa luz no final do caminho
Brilhará como um Sol
Que iluminará o mundo inteiro

Cada vez somos mais
E no final damos as mãos
Haverá sempre um lugar
Para todo o ser humano

Junto a ti quero caminhar
Partilhar o pão
A pena e a esperança
Descobri
Que no coração
Há sempre um lugar
Que não esquece a infância

Amigo, amigo
Há tanto por fazer
Conta comigo

Cantarei, cantarás
E essa luz no fim do caminho
Brilhará como um Sol
Que ilumina o mundo inteiro

Cada vez somos mais
E no fim damos as mãos
Haverá sempre um lugar
Para todo o ser humano

Eu queria ter o poder
De ajudar a mudar o teu destino

Dar-te-ei
Tudo o que possa dar
Só sei cantar
E para ti este é o meu canto
E a minha voz
Junto às outras
Na imensidão
Já se escuta

Cantarei, cantarás
Essa luz no final do caminho
Brilhará como um Sol
Que ilumina o mundo inteiro

Cada vez somos mais
E no final damos as mãos
Haverá sempre um lugar
Para todo o ser humano

Cantarei, cantarás
E essa luz no final do caminho
Brilhará como um Sol
Que iluminará o mundo inteiro

Cada vez somos mais…


Este hino (feito em Cádiz - ilustrado com belíssimas fotos- em 31.10.07, dedicado a Cláudia G.P.) da autoria de Albert Hammond, Juan Carlos Calderón, Anahi Van Zandwedhe, conta com as vozes de Júlio Iglésias , Roberto Carlos, José Feliciano, entre outros

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O PECADO DE SÓCRATES


José Sócrates e Manuel Pinho fumaram no voo fretado da TAP que os levou a Caracas, esta foi a notícia com que despertei pelas sete da manhã. No decorrer das horas ouvi sobre o polémico tema -que passou a abrir os noticiários-, debates em directo com os ouvintes, opiniões de dois prestigiados constitucionalistas (Vital Moreira e Jorge Miranda) que analisaram o facto e sobre ele se pronunciaram, escutei um antigo comandante da TAP e, todos eles, foram unânimes (neste momento não sei mesmo se não haverá, hoje ou amanhã, numa qualquer das nossas Televisões uma mesa-redonda onde convidados, peritos, emitirão a sua douta opinião sobre o tema) Sócrates violou a Lei, fumou dentro do avião.


Concordo, o primeiro-ministro violou a Lei e, para encerrar o assunto, vai ter de pagar a respectiva multa (só abona a seu favor) e ponto final. A partir daí o País, Portugal, respirará aliviado, voltará ao ritmo que o caracteriza e os temas que habitualmente são manchetes, regressarão. Em força. Mas, pergunto a mim própria sem qualquer laivo de ingenuidade: será que o povo português quando vai às urnas e elege ou tenta ajudar a eleger os seus candidatos preferidos, sonha, imagina, pensa ou tem fé que vai eleger santos, anjos ou seres iluminados? Errado! Eles, os prováveis eleitos, são homens comuns com qualidade e defeitos.


Não sou fumadora, até podia fazer uma viagem de três meses de avião que não acender um cigarro não me faria a mais pequena diferença, mas para quem é fumador oito horas, duração da viagem Lisboa /Caracas, é obra! Numa viagem de interesse nacional, importantíssimo, com reflexos futuros que nos podem livrar de apertos, é provável, é possível, é natural, ou seja: é humano (errado, sim) sentir o apelo irrecusável de dar uma passa. É melhor dizer fumar, não vão inventar que estava a fazer imaginar que o primeiro-ministro fumou um charro.


Senhores, isto é política de chinelo. O homem errou. É verdade! Não escolheram um santo, o que esperam? Que todos os seus erros sejam estes. Por acaso pensam que ele no gabinete, em São Bento, não fuma? Dirão, não é lugar público! Pois. Mas o primeiro-ministro é o mesmo que, por acaso, é fumador (mal dele)! O País debate-se com problemas graves, gravíssimos, emprego, educação, preços a aumentar em todas as direcções (reflexos da situação internacional) e o povo perde-se por um fumaça, atrás de uma cortina, talvez para acalmar o stress que o cargo seguramente originará, saboreada a 10 mil metros de altitude, a bordo de um avião fretado, deduzo com convidados, jornalistas, comitiva de empresários que se deslocaram à Venezuela. Entre eles (faltou focar a tripulação e o comandante) havia um delator…Acho que quando José Sócrates pagar a multa (Louça tem de estar presente para ver in loco o castigo do infractor), simultaneamente deveria condecorar o salvador do fumo, para não dizer da Pátria, tento não entrar no ridículo.


São sete horas e os noticiários radiofónicos continuam a abrir com o cigarro de Sócrates. Querem ver que as Televisões, também o farão! (e não é que a SIC e a TVI o fizeram! A RTP dava futebol). Por acaso não vi, não ouvi, não li, mas a culpa pode ser minha, nada de muito relevante sobre esta viagem do primeiro-ministro à Venezuela que conseguiu aquilo que os espanhóis não conseguiram! Sabiam? Sabe, por acaso o que ele lá foi fazer?

Petróleo!!! Dependência? Diz algo?...


O primeiro-ministro saudou os acordos assinados entre a Galp e a petrolífera venezuelana nos domínios do petróleo, liquefacção de gás e energias renováveis e que prevê que parte da despesa com o petróleo seja paga com serviços e produtos nacionais.


-Estes acordos dão-nos uma primeira ideia de uma nova ambição nestas relações. Mas tenho a certeza que este será o primeiro passo, porque a vontade política de Portugal e da Venezuela é irem mais além nessa cooperação económica,


No primeiro dia da sua visita oficial à Venezuela, Sócrates frisou as promessas do presidente Hugo Chavez, relativas à segurança dos portugueses (600 mil) que vivem no país.


-Nada me agradou mais ouvir do presidente Chavez que as garantias que me deu de que tudo fará para apoiar a comunidade portuguesa, para lhe dar mais segurança e melhores condições para que tenha sucesso e tendo-o, contribuem também para o sucesso da Venezuela.


Hoje, Sócrates, visitou a Faixa de Orinoco (a 500 quilómetros de Caracas), uma das zonas mais produtivas de petróleo no mundo que ocupa uma área de 55 mil km2, atravessando quatro estados do país. Ao regressar a Lisboa, vai pagar a multinha do desejo.



Confesso que não gostei do pedido de desculpas de Sócrates. Tinha de o fazer, foi bom tê-lo feito, mas devia ter dito, apenas, três ou quatro palavras.

domingo, 11 de maio de 2008

OS EMPOLGANTES DISCURSOS DE OBAMA


Indubitavelmente as eleições presidenciais americanas são sempre vibrantes mas estas, de 2008, são as que nos últimos anos têm distribuído mais emoção, disputa, surpresas constantes e, frequentemente, resultados inesperados. Já estamos em Maio e, verdadeiramente, até esta altura, em rigor, não se pode dizer quem vá representar os Democratas na corrida à Casa Branca, ao lado do candidato dos Republicanos, John McCain, embora tudo pareça estar a favor de Barack Obama que, depois da vitória na Carolina do Norte e perder por muito pouco no Indiana, pela primeira vez, consegue o apoio de mais superdelegados (266 e 1809 delegados) que Hillary Clinton (263 e 1665 delegados) e, isto é importantíssimo. O número de delegados para garantir a nomeação Democrata é de 2025.


A disputa entre os dois candidatos Democratas tem conseguido picos de verdadeira euforia, facto raro na história da América mas, Obama, deu um importante passo para assegurar a nomeação às presidenciais, graças ao último triunfo obtido. Apesar disso, Hillary que venceu por curta margem no Indiana, ainda não perdeu as esperanças nem se mostrou desmoralizada com o resultado das duas primárias considerando mesmo que a sua candidatura regressou à cena: Passámos os obstáculos. É sempre em frente até à Casa Branca, além de prometer ainda bater-se pelos resultados na Florida e no Michigan, Estados que ganhou, mas cujos resultados foram invalidados pelo Partido. Sem ataques ao rival e sem tom triunfalista a senadora Clinton, em Indianápolis, adiantou:


-Não importa o que acontecer, o importante é que um Democrata seja eleito, porque caso os Republicanos triunfem na eleição geral de Novembro não serão vistas mudanças nos Estados Unidos. Queremos que vocês saibam que o Partido Democrata é o vosso partido e um Presidente Democrata será o melhor…


Por seu lado, os analistas argumentam que a campanha de Hillary está afundada em dívidas e que após os últimos resultados, é difícil conseguir novas doações. A senadora fica cada vez mais endividada (10 milhões de dólares). No que toca ao senador a situação é totalmente diferente, tem os cofres a transbordar, milhões em caixa e, apenas, 800 mil dólares em dívidas! Obama gastou três vezes mais do que Hillary na Pensilvânia, foi incansável e agressivo nos comerciais. Pode!


E Clinton que começou com uma conta bancária milionária? O futuro dirá. Estas primárias tem mostrado uma candidata incansável, lutadora, que de preferida quase que passou já a perdedora declarada, mas não desiste. No fundo, ninguém esperava pela máquina estruturante de Obama. Apanhou todos de surpresa e galvanizou sectores decisivos, principalmente os jovens e os desesperançados.


A 20 de Maio, o Kentucky e o Oregon votam, representando um total de 125 delegados à Convenção Democrata de Agosto, mas a verdadeira aposta está, neste momento, nos superdelegados, com assento directo na Convenção por já terem ocupado cargos eleitos ou por terem sido líderes. Os eleitores de origem latina (que, à partida, eram considerados fortes apoiantes de Hillary) e seus descendentes formam uma parcela crescente do eleitorado dos Estados Unidos e, especialmente em alguns Estados, podem ser a diferença na hora de carimbar o passaporte para a Casa Branca. Segundo o Instituto de Pesquisas Centro Hispânico Pew, os hispânicos são hoje 15% da população dos Estados Unidos e 9% do eleitorado americano, cerca de 8,6 milhões –um milhão a mais do que o registado em 2004.


Mas, apesar da dinâmica destas eleições, a verdade é que a prolongada disputa (o povo americano só irá às urnas a 4 de Novembro), entre Obama e Hillary já está a gerar uma onda que começa a mostrar os primeiros sintomas de saturação. É uma luta disputadíssima entre os dois. Este mês, ou em finais de Setembro, o candidato tem de estar escolhido nos Democratas para enfrentar o Republicano McCain.


Aliás, nesta altura, há quem ache muito difícil que Hillary consiga o objectivo final que seria o de sentar-se, com pleno direito, na (mítica...) Sala Oval da Casa Branca, como Presidente dos EUA. E os motivos são vários mas o primeiro, claro, parte da actual simpatia (leia-se vitórias) dos americanos por Obama, o senador de Illinois, que teve, até aqui, a sorte de ter conquistado os eleitores com os seus empolgantes discursos. Na realidade, os americanos começaram por se apaixonar pelos discursos preciosamente elaborados por um elemento do seu staff e da surpresa depressa passaram à simpatia e, daí, à esperança!


Para aquela que, à partida, era considerada por muitos como a grande vencedora a situação está nublada e diz-se mesmo já nos bastidores que os superdelegados que a apoiam são capazes muito brevemente de a aconselhar a sair de cena e apoiar Obama. Este já adiantou que a vai convidar para vice-presidente quando for eleito. Em entrevistas à CNN e a NBC fez-lhe fortes elogios e disse mesmo que a adversária é uma candidata formidável, que reúne todas as condições para assumir o segundo lugar à frente dos Estados Unidos.


Todavia, hoje mesmo foi feita uma sondagem que adiantou resultados curiosos contrariando os efectuados de há meses atrás, sobre o mesmo tema: quem ganhará, Democratas ou Republicanos? Hillary conseguiu 47% dos votos, Obama 46% e McCain ficou, apenas, pelos 38%. Como é fácil verificar os Democratas andam frequentemente colados nas tabelas de preferências. Só que não podem correr o risco de cisões dentro do Partido e a escolha é necessária.


E, então, o que se passa com McCain? Diria que estrategicamente está (muito) calado, politicamente silencioso, olhando a trepidante movimentação dos outros dois candidatos. Um deles será o grande rival. Qual? Quem estará na recta final com este veterano do Vietname que, após a queda do seu avião (era piloto da Marinha), foi capturado e feito prisioneiro Tem inúmeras condecorações onde se destacam: A Estrela de Prata, de Bronze, a Legião de Mérito, O Coração Púrpura e a Cruz de Voo. O porquê do seu silêncio? Este experiente senador vive em Phoenix, (Arizona) com a sua mulher Cindy. Tem sete filhos.


Sobre a sua hipotética eleição muitos dizem (incluindo Obama): Todos estamos de acordo para não permitir dar a John McCain a hipótese de completar o terceiro mandato da presidência Bush, afirmou o candidato Democrata que aproveitou ainda para denunciar as tentativas de jogo sobre os nossos medos e da exploração das nossas diferenças para nos atirar uns contra os outros para um puro cálculo eleitoral.


E quanto a promessas eleitorais? Imensas, diversificadas e já conhecidas. Das últimas ressalto a que Hillary fez em Indiana, onde prometeu 5 milhões de novos postos de trabalho (Bill Clinton, o marido, quando saíu da Casa Branca, deixou na América numa confortável situação financeira). A senadora também apoiou a proposta de John McCain de oferecer uma moratória sobre um imposto cobrado sobre gasolina (e há quem diga que este foi o golpe final, um dos motivos que a fez perder na Carolina do Norte).


A 15 de Fevereiro, neste blogue, com o título Três Presidentes Para a Casa Branca, adiantei que a decisão final (para mim) seria a de Hillary ser eleita, Obama ficar como vice e Bill Clinton como o Primeiro Cavalheiro, isto é: estariam três Presidentes na Casa Branca, que seria bom dadas as crises, em vários sectores, que a América está a viver, com reflexos para o Mundo e, tendo em conta das mudanças que se virão a operar com o aparecimento do poder da China, da Rússia, já para não falar de outros desafios como as fortes mudanças climáticas, a guerra do pão (o preço dos alimentos que ameaça fome para milhões de pessoas), o preço imparável do petróleo, as exorbitantes verbas aplicadas na guerra do Iraque, a instável situação financeira instalada na América. Uma imensa lista de preocupações.

A situação complicar-se-á, por isso, mais do que nunca, acho desajustada no tempo a nomeação de Obama. Ele será Presidente da América, um dia, mas não o deveria ser em 2008. Obama, contrariamente às ondas de exaltação em torno de si, é frágil. Não mudei de opinião mas, analisada a situação actual dos candidatos ou Hillary renasce das cinzas, ou Obama é eleito. E, se preferia o renascer da Fénix, acho que se as cinzas forem demasiado quentes para a apoteose, então que McCain seja o escolhido. A experiência é de ouro. O mundo precisa de líderes confiantes. Sabedores. Seguros. Aptos a enfrentar os vendavais da vida.


A Democracia é um mecanismo que garante que nunca seremos governados melhor do que aquilo que merecemos.
George Bernard Shaw

sexta-feira, 9 de maio de 2008

SEI DE UM RIO

Sei de um rio

sei de um rio

em que as únicas estrelas

sempre nele debruçadas

são as luzes da cidade

Sei de um rio

sei de um rio

rio onde a própria mentira

tem o sabor da verdade

Sei de um rio

meu amor dá-me os teus lábios

dá-me os lábios desse rio

que nasceu na minha sede

mas o sonho continua

e a minha boca até quando

ao separar-se da tua

vai repetindo e lembrando

Sei de um rio

sei de um rio

*

Meu amor dá-me os teus lábios

dá-me os lábios desse rio

que nasceu na minha sede

mas o sonho continua

e a minha boca até quando

ao separar-se da tua

vai repetindo e lembrando

Sei de um rio

sei de um rio


Sei de um rio até quando


(poema de Pedro Homem de Mello e Alain Oulman
cantado por Camané)



quinta-feira, 8 de maio de 2008

A SINTONIA DO CORPO E DA ALMA


James Adams era conhecido pelo entusiasmo de fomentar o diálogo, pela versatilidade dos temas, pelo sentido de humor e capacidade de manter conversas interessantíssimas. Uma noite, depois de um animado e saboroso jantar, recordou ao grupo de companheiros que o rodeava uma pequena história vivida por David, um amigo que era um notável explorador e que tinha passado alguns anos com os nativos do Norte do Amazonas e, um dia, quando teve de fazer uma marcha forçada através da floresta, deparou-se com uma situação imprevista que lhe deu motivos para pensar.


Durante os dois primeiros dias, a expedição avançou rapidamente, mas ao amanhecer do terceiro dia, James viu que os nativos que o acompanhavam não andavam e mantinham-se serenamente de cócoras, sem evidenciarem o mais pequeno sinal de, a curto ou mesmo médio prazo, mexerem qualquer músculo, muito menos levantarem-se e recomeçarem a marcha interrompida. Estupefacto, olhou-os de olhos muito abertos e, quando se ia dirigir ao chefe, escutou:


-Eles estão à espera…disse-lhe o líder da marcha com um semblante calmo, num tom de voz sussurrado e sem revelar qualquer admiração ou ansiedade.


-À espera!? Mas, à espera de quê? Perguntava David que transpirava abundantemente e estava rubro como uma malagueta picante. Nervoso, andava de um para outro lado com visível irritação, mas ao mesmo tempo intrigado.


-À espera, no meio da floresta! Do comboio?


-Não, senhor. Eles estão mesmo à espera. Não podem voltar a andar enquanto as suas almas não alcançarem os seus corpos.


David, olhou o chefe nos olhos e, sem dizer nada, sentou-se numa pedra enorme e roliça. Sentou-se e limitou-se a olhar o horizonte com o olhar perdido no vazio. Ele entendia a mente nativa, respeitava a sua cultura e sabia que, para eles, o espírito guiava-lhes as vidas. Não havia nada a fazer. Só esperar que as almas regressassem.


Lembrei-me deste episódio não sei bem porquê. Embora saiba pouquíssimo sobre a mentalidade dos nativos do Norte do Amazonas, admiro a autenticidade das suas crenças, das quais tenho uma pequena luz vinda de textos que leio com sofreguidão. Os índios tiveram, têm, uma maneira sábia de estar na vida, herança dos antepassados que sempre veneraram.



Esta atitude dos nativos que acompanhavam David deixará pensativos muitos citadinos, habitantes das grandes capitais onde o turbilhão de vida é quase sufocante e os deixa sem tempo nem capacidade para pararem e pensarem. Ficam insensíveis, dentro da voragem da vida trepidante que são obrigados a viver (verdadeiros escravos do tempo e da ambição) numa sociedade cada vez mais frenética.


Os nativos do Amazonas mostraram de forma convincente a importância que davam ao Espírito. À sua maneira. Fiéis aos parâmetros das raízes com as quais cresceram e se habituaram a respeitar e defender. Sábios para uns, ignorantes para outros, eles, em nenhuma situação, abdicavam das suas certezas: a alma e o corpo têm de estar em sintonia porque se algum deles se adiantar o desequilíbrio pode ser fatal.



Nos dias de hoje, um psicólogo faria uma excelente leitura da situação e, em termos comparativos com as épocas, as sociedades e as vivências, era bem provável que chegasse à mesma conclusão: a pressa não é boa conselheira, muito menos para a espiritualidade. É preciso tempo para entender a Vida! Precisamos de descodificar as pistas diárias que o Conhecimento nos dá; não perdermos a capacidade de procurar o nosso grande sucesso interior. Sem ele, o sucesso exterior, não será magnífico.



Subindo sozinho ao alto da torre à beira rio, os meus pensamentos esvoaçam para longínquas terras. O luar é como a água, a água é como o céu…
(Zhao Gu)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A VALSA DOS CONTINENTES


Hoje, em Portugal, na zona de Lisboa, o dia foi de Primavera com laivos estivais. Luminoso, agradável e acariciador. Sentada numa rocha, na praia das Maçãs, olho (embevecida) o branco do rendilhado das ondas que se espraiam na areia húmida desta praia pequena, intimista, bela e, por vezes, perigosa. Olho mais além e noto os cambiantes das águas que vão do verde-esmeralda ao azul-pavão e respiro profundamente. É belíssima a paisagem, suavizada por uma brisa fresca, cheirando a maresia.


Quando morava em Toronto sofria pelo facto de não ver o mar. Não consigo viver sem ele embora não me aventure mais do que mergulhar, de preferência até à cintura. A partir daí já entro no campo da grande coragem (minha). É um enamoramento distanciado mas absolutamente apaixonante. Lembro quando visitei o Museu no Mónaco e fui até à varanda no último andar ter olhado demoradamente o azul do Mediterrâneo. Uma tonalidade forte, talvez azul-cobalto, não sei bem. Sei que este Oceano tem uma cor fascinante. Em Punta Cana, na República Dominicana, reparei que a cor do mar das Caraíbas é, igualmente deslumbrante, diferente, talvez verde-garrafa com nuances intensas. Tudo isto para dizer que gosto do mar e de o homenagear. Junto dele sinto que estou num ponto de ligação profunda com o Universo.


Voltando ao pensamento inicial: estava sentada numa rocha (praia das Maçãs), cheia de vitalidade. Há anos e anos que ela recebe a energia do mar da lua, do sol, do ar, os quatro banhos mais revitalizantes do mundo. Olhava fixamente o infinito e lembrei-me que se seguisse em linha directa deveria encontrar Nova Iorque. Fascinante. Europa e América do Norte frente-a-frente! E, aí, lembrei-me do tempo em que os Continentes estavam unidos, e o meu pensamento entrou na roda do tempo. Vertiginosamente.



No inicio do século XX o meteorologista alemão, Alfred Lothar Wegener, defendeu a teoria (que só viria a ser confirmada 30 anos após a sua morte, 1930), que há 200 milhões de anos os continentes não tinham a configuração actual, existia apenas uma única massa terrestre. Essa massa continental contínua, denominada Pangeia, que se foi fragmentando lentamente, dando origem a dois megacontinentes (Laurásia e Godwana) era envolvida por um único Oceano chamado Pantalassa.


A teoria que os continentes estavam unidos foi debatida muito antes do século vinte, foi sugerido, pela primeira vez, em 1596 por um fabricante holandês, Abraham Ortelius que afirmou que as Américas foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terramotos e inundações e acrescentou:


-Os vestígios da ruptura revelam-se ao analisarmos um Mapa do Mundo e observar, com cuidado, as costas dos três Continentes.



Actualmente, Christopher Scotese, da Universidade do Texas, em Arlington, ao falar do movimento contínuo dos Continentes, adianta:


-Se o Oceano Atlântico continuar a expandir-se, as Américas irão embater (dentro de 50 a 100 milhões de anos) com a Ásia. Por outro lado, uma zona de subducção pode-se abrir no Atlântico e trazer o solo marinho à superfície, forçando a Europa e a América a ficarem juntas novamente. Isso, recriaria a Pangeia. Neste momento, vivemos a metade de um ciclo. O Oceano Pacífico está gradualmente a fechar-se, a Crosta Oceânica afunda-se nas zonas de subducção do Pacífico Norte, um sulco do Atlântico Central está a alimentar um novo solo marinho e as Américas separam-se cada vez mais da Europa e da África. Por falar em África, o continente move-se para o Norte, em direcção ao Sul da Europa. A Oceânia para o Norte, rumo ao Sudeste Asiático.



Scotese, passou muitos anos da sua carreira reconstruindo o passado da Terra, agora aplica esse conhecimento para projectar os Continentes no futuro e prevê que nos próximos 50 milhões de anos a África continuará a ir para o norte, fechando o Mediterrâneo e impulsionando uma cadeia montanhosa do tamanho do Himalaia ao sul da Europa. A Austrália irá girar e colidir com Bornéu e o sul da China.


Mas, segundo ele, tudo irá mudar 200 milhões de anos mais tarde. A subducção começa do lado ocidental do Atlântico. A abertura pára e o Atlântico começa a encolher, unindo novamente a maior parte das grandes áreas de terra, enquanto a América do Norte embate com o continente Euro-Africano. Originalmente, Scotese chamou o super continente resultante de Pangeia Última, mas, recentemente, alterou para Pangeia Próxima.


-O nome Última incomodava-me porque dá a ideia de ser o super continente derradeiro. Esse processo irá continuar por bilhões de anos.



Opiniões nem sempre convergentes sobre um tema desafiador que mexe com a nossa casa, o Planeta Azul, em constantes mutações. Nas falésias da Praia das Maçãs continuo a olhar o Atlântico azul-esverdeado. Gosto de imaginar como teria sido Pangeia e adoraria saber como estará o mundo daqui a 100 milhões de anos nesta dança lenta dos Continentes e Oceanos. O cenário que me envolve, o marulhar do mar dão-me serenidade absoluta, paz interior. Contemplo, desfruto e sonho


…Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
*
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo…
(Fernando Pessoa)

sábado, 3 de maio de 2008

AS ESTRELAS DA CACHOEIRA


…Passada a casa do cantoneiro (um marco histórico num percurso já feito por largas centenas de instruendos que, na zona, faziam a segunda fase de instrução, a prova da sede), uma pequena casa em ruínas, a coluna rapidamente chegou ao acampamento. Parecia a coluna do desespero: famintos, sequiosos, rotos, sujos e queimados. A maioria ficou na enfermaria, uma enorme tenda (devidamente camuflada) preparada para o efeito, onde o médico e os enfermeiros os receberam tentando minimizar rapidamente tanto sofrimento. A desidratação era quase total.


Catarina sem perder tempo, fotografou incessantemente, mas fê-lo com esforço. A luz estava a empalidecer e, por isso, a jornalista pouco tempo teve para fixar o resto daquele dia atribulado. O querer não foi, porém, mais forte que o esgotamento e o capitão ao vê-la tão exausta acabou por lhe indicar a tenda onde ficaria. Como sempre estava ligeiramente isolada e com sentinelas. Situava-se perto de um precipício, na zona da cachoeira. Era um local espectacular, com algo de irreal: pelas matizes de cores do fim de tarde que se misturaram e espalharam num céu já arroxeado.

-Só preciso de descansar uma hora.


Acabou por dormir profundamente e quando saiu da tenda deparou-se com uma escuridão total, que contrastou com o esplendor de um céu salpicado de estrelas enormes, com brilho de diamantes. Foi um céu riscado de muita luz que a envolveu aquela noite, tornando-a única. Sentou-se numa pedra, em puro deslumbramento, e olhou o firmamento. Respirou fundo, tal como era seu hábito sempre que enfrentava situações invulgares. Distendia e contraía o abdómen, lentamente, sentindo o oxigénio a vitalizar-lhe o corpo. Era uma espécie de ritual que fazia funcionar quando a luz vermelha a alertava para tensões descontroladas. Há anos que era assim!


Respirar fundo permitia que se libertasse do pânico e do nervosismo. Era o seu modo seguro de readquirir a paz e a serenidade. Sentiu isso naquele instante, tal como se sentiu projectada em direcção aos pontos de luz prateada e cintilante que piscavam no céu distante e, simultaneamente, tão dentro das suas mãos. Depois da intranquilidade de um dia passado em sobressaltos sucessivos, o silêncio da mata e o som cantante da cachoeira teve nela um efeito calmante. Deixou-se estar ali, sem testemunhas, respirando o fresco nocturno, saboreando a beleza envolvente do cenário. Estava a viver momentos que a sua memória gravaria intensamente. Respirou fundo uma vez mais. Sentiu-se bem.


Olhou para a imensidão à sua frente, sem verdes nem contornos de vales ou de montanhas, apenas uma estrada sem fim, gloriosamente negra e brilhante pareceu quer indicar-lhe que nada terminava ali. Levantou-se e foi à tenda buscar o blusão camuflado, bastante largo mas dentro do qual se sentiu protegida da humidade. Meteu as mãos nos bolsos e andou, sem direcção certa, à procura de comida e de gente. Não teve sorte. Acabou por encontrar um grupo de oficiais que a levou à área da cantina, que mais não era do que umas tábuas dispostas em forma de mesa e, curioso, perto da sua tenda.


-No mato, à noite, tudo pode acontecer! Se a cantina fosse lobo tinha-me comido, tão perto que estava. Sorriu e esperou pelo jantar, composto por uma lata de atum, pão aquecido (deferência feita a uma jornalista simpática, adiantou o cozinheiro), salada de frutas e o indispensável café (em copo de alumínio, claro). Ah! E umas bolachas que, apesar de pouco apetecíveis (eram mesmo duras), Catarina saboreou lentamente.


Enquanto ia comendo e conversando pensou para si que, fora daquele ambiente era muito difícil às pessoas que nunca tinham estado no mato e nunca tinham sentido a emoção da verdadeira união que ali se vive -quer em tempo de conflito ou de paz- entender a salutar convivência que natural e sadiamente cresce nos cenários de guerra. A amizade fortalece-se, a solidariedade é a nota dominante. Ali, é o espaço onde o individualismo não pode existir. Em cada um há no espírito a certeza do que o que é agora pode não ser logo. A morte espreita e faz desenvolver o que de melhor há na alma humana. A guerra faz isso: destrói e faz sobreviver, unindo forças e impossíveis. Nos campos de muitas batalhas e dentro de muitos corações dilacerados pelo medo, pela angústia e pelo desespero, nascem e morrem cobardes e heróis.


Catarina acabou por se deitar tarde. Antes de entrar para a tenda olhou demoradamente para o negro da noite cortado pela luz fortíssima das estrelas que iluminavam toda a zona do precipício que dava para a cachoeira Aí, escutou os programas que deixou gravados em Luanda, para a Rádio Ecclésia, verdadeiros êxitos de audiência. Soube-lhe bem ouvir as melodias que tinha previamente seleccionado, e até a sua voz lhe pareceu mais bonita, diferente. Os programas escutados debaixo das estrelas tinham um outro impacto e ficavam favorecidos pelo intimismo em que a Rádio é pródiga; além disso, a magia da noite singular funcionava como um verdadeiro feitiço.


Regressou à tenda e deixou tudo em ordem para o dia seguinte: mudou as pilhas do gravador, seleccionou cassetes e agrupou blocos de apontamentos, a máquina e os rolos estavam no estojo. Finda a tarefa preparou-se para dormir. Confirmou se as sentinelas estavam no seu posto e entrou no espaço fechado e verde com a sensação de solidão protegida. Já dentro do saco-cama, com as mãos cruzadas debaixo da cabeça, escutou o silêncio da grandiosidade da mata, toda ela cheia de ruídos únicos e característicos (como o sucessivo descarregar das armas. O clique, seco, dos carregadores a abrirem e a fecharem, foi um som que nunca mais esqueceu), mas o cansaço foi tanto que não tardou a adormecer. Acordou mais tarde com uns ruídos estranhos, dentro da tenda, facto que a deixou receosa. Não soube o que fazer, não se mexeu, mas precisava de encontrar a lanterna. Tentou localizá-la e, ao mesmo tempo, sair pelo lado da lona que antes de se deitar tinha levantado para qualquer emergência. Não viu nada, mas teve a certeza que não estava sozinha.



A sensação foi terrível, não fazia nenhuma ideia do que se estava a passar mas teve um mau pressentimento. Sentou-se e, quando se preparava para gritar, chamando a atenção das sentinelas, uma mão tapou-lhe a boca e um braço imobilizou-a. Escutou, então, uma voz sussurrada ao ouvido que a tranquilizou.


-Não grite, está tudo bem…

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sexta-feira, 2 de maio de 2008

A (QUERIDA) CRIAÇÃO DE DEUS


Quando Deus criou a mulher, trabalhou seis dias consecutivos. Um anjo apareceu junto Dele e perguntou-lhe:


-Deus, porque estás a perder tanto tempo com esta criação? Ao que Deus respondeu:


-Já viste a minha lista de especificações para este projecto? Ela tem que ser completamente lavável, mas sem ser de plástico, tem mais de 200 partes móveis, todas substituíveis, e é capaz de sobreviver à base de Coca-Cola light e restos de comida. Tem um colo capaz de segurar quatro crianças ao mesmo tempo; tem um beijo capaz de curar qualquer coisa desde um arranhão no joelho a um coração ferido e faz isto tudo apenas com duas mãos.


O anjo ficou estupefacto com estas especificações.


-Só duas mãos!? Impossível! E esse é apenas o modelo normal? É muito trabalho para um só dia. É melhor acabares amanhã.'


-Nem pensar, protestou Deus. Estou quase a acabar esta criação que me é tão querida. Ela já é capaz de se curar a si própria quando fica doente e consegue trabalhar 18 horas por dia.'


O anjo aproximou-se e tocou delicadamente na mulher.


-Mas fizeste-a tão macia e delicada, meu Deus!


-Sim, mas também pode ser muito resistente. Nem fazes ideia o que ela pode fazer e aguentar.


-E ela vai ser capaz de pensar? perguntou o anjo.


-Não só é capaz de pensar como é capaz de negociar e convencer


O anjo então reparou num pormenor e tocou na cara da mulher.


-Ups!!! Parece que tens uma fuga neste modelo. Eu disse-te que estavas a tentar fazer demais numa criatura só.


-Isso não é uma fuga, é uma lágrima!


-E para que é que isso serve? perguntou o anjo.


-A lágrima é o seu modo de exprimir alegria, pena, dor, desilusão, amor, solidão, luto e orgulho.'



O anjo estava impressionado. És um génio, Deus. Pensaste em tudo.


-É! Realmente, as mulheres são verdadeiramente espantosas. Têm capacidades que surpreendem os homens. Carregam fardos e dificuldades, mas mantendo um clima de felicidade, amor e alegria. Sorriem quando querem gritar. Cantam quando querem chorar. Choram quando estão felizes e riem quando estão nervosas. Lutam por aquilo em que acreditam e não aguentam injustiças.


Não aceitam um não quando acreditam que existe uma solução melhor. Prescindem de tudo para dar à família. Vão com um amigo assustado ao médico. Amam incondicionalmente. Choram quando os seus filhos são os melhores e aplaudem quando um amigo ganha um prémio. Ficam radiantes quando nasce um bebé ou quando alguém se casa. Ficam devastadas com a morte de alguém querido, mas mantêm a força além de todos os limites.


Sabem que um abraço e um beijo pode curar qualquer desgosto. Existem mulheres de todos os formatos, tamanhos e cores. Elas conduzem, voam, andam e correm ou mandam e-mails só para mostrar que se preocupam contigo. O coração de uma mulher mantém este mundo a andar. Elas trazem alegria, esperança e amor. Dão apoio moral à sua família e amigos. As mulheres têm coisas vitais a dizer e tudo para dar. No entanto, existe um defeito nas mulheres: esquecem-se constantemente do seu valor.


(...Passa esta mensagem a todas as tuas amigas, só para lhes lembrar como são espantosas.E a todos os teus amigos para que também nunca o esqueçam...)


Missão cumprida!