Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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Nome:
Localização: Portugal

O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

quinta-feira, 31 de julho de 2008

ÁS VEZES HÁ DIAS ASSIM!...MAS, SÃO TÃO RAROS!!!


Marília e Coutinho formavam um casal amoroso. Jovens, bonitos, alegres, pareciam ter tudo para saborear a vida sem preopucações de maior, mas nem sempre o decorrer dos acontecimentos se concretiza na sequência exacta do que se deseja e do que parece ser lógico. Aquele tarde não era, de todo, uma tarde agradável. Chovia torrencialmente, o carro (inesperadamente) pára e o jovem casal vê-se numa localidade que não queria. Desconheciam o lugar, não sabiam o que fazer ao carro, não traziam muito dinheiro e, para completar o cinzento cenário, o telemóvel estava sem bateria. Não era sexta-feira, nem sequer dia 13. O que não importava muito, eles até não eram supersticiosos.


Coutinho sai do carro e ajuda Marília (não trazia sombrinha), um pouco desajeitadamente porque o nervosismo já se tinha instalado e desconcertava pensamentos e movimentos. Rapidamente, fecham a porta da viatura, dirigem-se, a correr, para um pequeno café mesmo em frente e pedem para fazer uma chamada, tentando resolver o problema do carro. Coutinho opta por apanhar um táxi e ir ter com um amigo mecânico que, habitualmente, o salvava em situações idênticas. Coloca o triângulo, acena a Marília e parte.


A jovem, molhada, indisposta, olha em volta e esboça um sorriso, mais do que amarelo. Não sabia bem o que dizer. Sentia-se deslocada. Olha em volta, repara numas raspadinhas expostas perto dos rebuçados e diz ao proprietário do pequeno café:


- Bom, como vou ter de estar aqui um pouco e não posso beber café, já bebi dois, vou comprar uma raspadinha. Nunca me sai nada, mas, olhe, é para passar o tempo.


O dono do café sorriu e adiantou:


-Nunca se sabe. Sair a alguém, sai. Geralmente não nos calha é a nós. Mas, ás vezes, há dias de sorte Qual prefere? pergunta.


Marília olhou atentamente as poucas que restavam e optou por uma, sem qualquer critério. Pagou. Escolheu uma das três mesas que havia e sentou-se numa delas. Reparou no movimento da rua, no cair da chuva que de miudinha não tinha nada, tirou uma moeda da carteira e começou a raspar. Lentamente. A finalidade era distrir-se um pouco até ao regresso do marido.


Passados alguns bons minutos, Marília, lívida, de olhos demasiado abertos, junto ao balcão fixa o dono do café que nessa altura dava a uma cliente um pastel de feijão. Surpreso, pergunta à jovem se estava bem ou se precisava de alguma ajuda.

-Não, não. Estou bem, obrigada.


E num movimento nervoso mostra ao senhor a raspadinha. Ele olha-a e escuta a jovem


-Saíram-me 6 mil euros!!!




O mistério não é um muro onde a inteligência esbarra, mas um oceano onde ela mergulha.

(Gustav Thibon)



CURIOSOS, INSATISFEITOS E DIFERENTES



Já deve ter dado por si a indagar sobre a personalidade que, ao longo da História, mais o impressionou. Não é tarefa fácil chegar a uma conclusão porque, felizmente, em todos os tempos muitos homens e mulheres –pela sua estatura moral, pela capacidade inventiva, pela amplitude de horizontes, pela bravura e sensibilidade- autenticaram, notavelmente, a sua passagem pela Terra e souberam, apesar das dificuldades e incompreensões de várias épocas, encontrar a forma de irromper da multidão.


Leonardo da Vinci, Newton, Chopin, por exemplo, ao darem o passo em frente que os transportou aos espaços da imortalidade ainda hoje continuam a fascinar gerações. O que os terá feito diferentes? Um conjunto de causas e circunstâncias, onde a curiosidade e a insatisfação não estiveram ausentes. Só as pessoas permanentemente curiosas e insatisfeitas têm a marca da diferença e são capazes de impulsos geniais, tal como Galileu, quando marcava o tempo da queda dos objectos que deixava cair da Torre de Pisa. Não era o desejo da glória que o movia, era o seu espírito curioso em acção.


Recordar a vida de homens assim aviva-nos a necessidade de abandonarmos, de vez em quando, a estrada de asfalto e aventurarmo-nos pelos campos. É preciso descobrir, hoje, qualquer coisa nova. É preciso, hoje, ter um pensamento novo.


Quando uma nova ideia alarga o espírito do homem, ele nunca mais volta à sua dimensão primitiva

Wendell Holmes


quarta-feira, 30 de julho de 2008

SENHOR, ENSINA-ME

























Senhor,
ensina-me a entender o que não percebo.
Ensina-me a aceitar, a perdoar,
tal como peço que perdoes as minhas faltas.

Ensina-me, Senhor.

Ensina-me a encontrar o que procuro. A ver o que olho e não alcanço
Mostra-me os caminhos correctos da vida e perdoa a minha fragilidade.

Ensina-me, Senhor

Ensina-me a não desesperar quando a lâmina fria e aguda, empunhada por mão que considerava amiga, me feriu as costas e a Alma.
Compreende, Senhor, a minha angústia, o meu desencanto, e não permitas que me afogue nos caminhos do ódio.

Senhor, ajuda-me a entender e a superar. Orienta-me nos dias negros, de tempestades bravias, quando a força das marés me apanha desprevenida e atira-me ao encontro doloroso das rochas que ferem e dilaceram.
Protege-me quando, levada pelos ventos em fúria, fico folha caída e rodopio no ar, sem direcção nem fim.

Senhor, ouve a minha voz. Entende a minha solidão, escuta o eco das minhas preces e segura, como prometeste, na minha mão direita, lembrando-me que no mundo não há poder mais forte do que o Teu.
Entende, Senhor, o bater descompassado de um coração em pânico.
Entende-o e amansa-o, adoça-o. Controla-o, Senhor.


É tão difícil viver -aqui- contigo lá em cima, onde as pontas dos meus dedos não chegam quando, em bicos de pés, tento alcançar-te.
Quando elevo os meus olhos aos céus sei que me vês e me ajudarás quando, desesperada, não sei por onde caminhar.
Senhor, como é difícil quando, pela força das circunstâncias me esqueço que, Tu, estás sempre a meu lado quando caio em desespero ou erro.
Quando desfaleço e penso que resvalo pela montanha que não existe porque, Tu, segurando-me nos teus braços, voltas a colocar-me na Vida, com ânimo redobrado.



Senhor, obrigada.
MEB





A alma sensível é como harpa que ressoa com um simples sopro

[ Beethoven ]

terça-feira, 29 de julho de 2008

A AMEAÇA DA SOPA PLÁSTICA


Durabilidade, estabilidade e resistência a desintegração. Estas são as propriedades que fazem do plástico um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final, também o tornam num dos maiores vilões ambientais. São produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos, sendo que 80% desta fracção vem de terra firme


No Oceano Pacífico há uma enorme camada flutuante de plástico, que já é considerada a maior concentração de lixo do mundo, com cerca de 1000 km de extensão. Vai da costa da Califórnia, atravessa o Havai, chega a meio caminho do Japão e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros. Acredita-se que haja neste de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos. Pedaços de redes, garrafas, tampas, bolas, bonecas, patos de borracha, ténis, isqueiros, sacolas plásticas, malas e todo o que fôr possível ser feito com plástico. Segundo os seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica, tem quase duas vezes o tamanho dos Estados Unidos.


O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, que pesquisa esta mancha há 15 anos, compara-a a uma entidade viva, um grande animal que se movimenta livremente pelo Pacifico. E, quando passa perto do continente, as praias ficam cobertas de lixo. A bolha plástica actualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma parte estreita. Referem-se a elas como bolha oriental e bolha ocidental. Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90, disse que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico à sua frente.


-Como foi possível fazermos isto? Naveguei mais de uma semana sobre todo esse lixo!


Pesquisadores alertam para o facto de que toda a peça plástica que foi manufacturada, desde que este material foi descoberto e que não foi reciclada, ainda está em qualquer lugar. E, ainda, há o problema das partículas decompostas deste plástico. Segundo dados de Curtis Ebbesmeyer, em algumas áreas do Oceano Pacifico pode-se encontrar uma concentração de polímeros seis vezes mais do que o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha. Segundo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), este plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves marinha todos os anos. Sem contar toda a outra fauna que vive nessa área, como tartarugas marinhas, tubarões e centenas de espécies de peixes.


Essa sopa plástica pode funcionar como uma esponja que concentra todo tipo de poluentes persistentes, ou seja, qualquer animal que se alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos, que podem ser introduzidos, através da pesca, na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo, na mais pura verdade: o que fazemos à Terra retorna a nós, seres humanos (fontes: The Independent, Greenpeace, Mindfully e um e-mail amigo).



Se o Oceano Pacífico lhe parecer demasiado remoto e abstracto, situe o fenómeno no Atlântico, no Mediterrâneo, no Tejo, no Douro, no Côa, no Cávado. É que talvez não esteja muito longe de nós a ameaça, se as coisas continuarem assim. Antes de pegar num saco de plástico, pense. Antes de reciclar plástico, pense. Antes de comprar plástico, pense. Pense na sua saúde, na saúde do Planeta que vai deixar aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos. Cuide da sua Casa Mundial. Espalhe a mensagem. Eu, estou a tentar fazê-lo!



Se tu amas uma flor que se acha uma estrela, é bom, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estarão floridas

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A MAGIA DE OBAMA


Gosto de acompanhar as longas (e complicadas) eleições presidenciais americanas. Durante um ano os candidatos desgastam-se e, simultaneamente, arranjam tarimba. Surpreendem, decepcionam, galvanizam ou vão empalidecendo de discurso em discurso, de entrevista em entrevista. Não é um desafio para fracos. Nos vibrantes e coloridos comícios que os levam América dentro o percurso das primárias parece infindável, mas é aí que é escolhido o candidato que representará o Partido. Neste momento essa fase está definida: Barack Obama (Democrata) ganhou a Hillary Clinton e o senador de Illinois prepara-se para, a 4 de Novembro, defrontar McCain (Republicano).


Como é um tema que me interessa escrevi a 15 de Fevereiro, uma crónica com o título Três Presidentes na Casa Branca. Nessa altura, Hillary, ainda beneficiava de todo o estado de graça.


…As eleições americanas são um mundo! Nos bastidores tecem-se acordos de última hora, “cobram-se” lealdades, lembram-se promessas, há verdadeiras maratonas nos corredores que levarão um dos candidatos à Casa Branca. Pelos Democratas serão duas personalidades distintas na corrida: Hillary Clinton e Barack Obama. Apesar dos americanos estarem fartos de “dinastias” por capricho dos deuses ou voltas do destino, Bill Clinton será o Primeiro-Cavalheiro da América, Barack Obama Vice-Presidente (um dia será presidente) e Hillary Clinton, a Presidente...


Não é difícil verificar como me enganei em toda a linha. Ignorando a fulgurante comunicabilidade de Obama e a sua poderosa máquina eleitoral que lhe assegurou, meticulosamente, sucesso após sucesso, peguei novamente no tema e a 11 de Maio, escrevi, Os Empolgantes Discursos de Obama:


… Três Presidentes na Casa Branca (Hillary, Bill e Obama) seria bom, dadas as crises, em vários sectores, que a América está a viver, com reflexos no mundo e, tendo em conta as mudanças que se virão a operar com o aparecimento do poder da China, da Rússia, já para não falar de outros desafios como as fortes mudanças climáticas, a guerra do pão (o preço dos alimentos que ameaça fome para milhões de pessoas), o preço imparável do petróleo, as exorbitantes verbas aplicadas na guerra do Iraque, a instável situação financeira instalada na América. Uma imensa lista de preocupações.
A situação complicar-se-á, por isso, mais do que nunca, acho desajustada no tempo a nomeação de Obama. Ele será Presidente da América, um dia, mas não o deveria ser em 2008. Obama, contrariamente às ondas de exaltação em torno de si, é frágil. Não mudei de opinião mas, analisada a situação actual dos candidatos ou Hillary renasce das cinzas, ou Obama é eleito. E, se preferia o renascer da Fénix, acho que se as cinzas forem demasiado quentes para a apoteose, então que McCain seja o escolhido. A experiência é de ouro. O mundo precisa de líderes confiantes. Sabedores. Seguros...


Nesta altura já dominava o poder conquistado por Obama, na sua trajectória gloriosa nas primárias mas continuava a achá-lo frágil, inexperiente, para tamanha responsabilidade que é a de entrar, oficialmente, na Casa Branca e os reflexos da sua Administração no mundo. Embora o silêncio de McCain me confundisse, pensei ser estratégia. A 5 de Junho voltei ao tema com, O Sonho de Hillary:


...O desfecho de 4 de Novembro é imprevisível, penso que estas eleições para a Presidência da América são as mais renhidas dos últimos tempos e, em minha opinião, o jogo está assim no tabuleiro: metade da América não quer Hillary (inteligente, forte, segura) que, à partida, não esperava tão alto nível de rejeição por parte dos americanos. A outra metade não quer Obama (jovem, visionário, carismático e excelente orador), que surpreendeu pela positiva, apoiado por uma campanha estonteante e conquistando apoiantes de peso, em sectores diversos. O republicano e herói de guerra John McCain, defende a continuação das tropas americanas no Iraque, tem a “bênção” de Bush (os americanos estão saturadas da sua Administração), e mantêm a esperança de vencer os democratas...

A partir de sábado, a senadora de Nova Iorque (terminou o sonho de ser a primeira mulher presidente dos EUA) e o senador de Illinois, unir-se-ão na defesa da mesma linha de conduta que deixará Obama frente-a-frente ao republicano Jonh McCain que, tranquilo (tem tido tempo para preparar-se mental e fisicamente para o confronto), tem testemunhado o esforço, o desgaste, as derrotas e as vitórias dos dois rivais. As sondagens sobre Obama não são muito favoráveis, no confronto com o veterano McCain (se entrar na Casa Branca será o presidente mais idoso de sempre)...


O tempo passou, as análises feitas deram conclusões diferentes e, embora o tema seja o mesmo, confesso que neste momento não posso deixar de reconhecer que Obama surpreendeu e, inteligentemente, soube manter intocável a imagem à qual recentemente acrescentou estatuto internacional. Sem dificuldade recebeu o verdadeiro banho de multidão na Alemanha; França rendeu-se ao seu carisma e a fleuma britânica esfumou-se perante o candidato presidencial que tem já postura de Presidente. A Obamania conquista, presentemente, largos milhões de apoiantes. Há mesmo reputados jornalistas americanos que o descrevem já como o futuro inquilino da Casa Branca. Sem capacidades de futurologia, em rigor, ninguém saberá o que se passará na disputa com McCain. Inesperadamente, pode perder! Ou a sua vitória será facilmente confirmada? Se assim for, será que o vão deixar governar?


Problemas que vêm com a vitória são mais agradáveis do que os da derrota, mas igualmente difíceis.

domingo, 27 de julho de 2008

UMA LÁGRIMA DO MAR...

Para o poeta, uma pérola é uma lágrima do mar; para os orientais é uma gota de orvalho solidificada; para as mulheres é uma jóia que usam em anéis, colares ou brincos. Para o químico é uma mistura de fosfato e carbonato, de calcário com um pouco de gelatina e, para os naturalistas, é, simplesmente uma secreção mórbida do órgão que, em determinados bivalves, produz a madre-pérola.


Júlio Verne
(20 Mil Léguas Submarinas)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

OS PORTUGUESES ESTÃO EXAURIDOS, DE BELEZA CANSADA. ESTÃO DEPRÊ!!!


A Lu (personagem engraçadíssima de uma boa novela da TVI) que me desculpe mas servi-me das suas palavras: exaurida, cansas-me a beleza e deprê (num plágio descarado aos autores do texto de A Outra) para me inspirar. Os naturais do meu País andam mesmo apáticos, cansados, sem vitalidade e sem brilho. Não estão nem garbosos nem bonitos e, pensando bem (basta olhar atentamente por quem nos passa ao lado), estão os mais deprê possível, espalhando uma nuvem cinzenta que se propaga cada vez que o mundo respira.


Entre o País hipotecado da Drª Manuela Ferreira Leite, o positivismo do Engº Sócrates (ele tenta) e, por fim, o lembrete do Presidente Cavaco Silva, ao dizer aos portugueses que não é altura de desânimos, de baixar os braços mas sim de ir à luta, com vontade de vencer as dificuldades, os portugueses andam numa espécie de duche escocês. Depois da herança da Tanga, surge a etiqueta da Hipoteca, na altura que não devia surgir e dita por quem deveria ter escolhido outras palavras. Não quer dizer que não estejamos mal. Estamos. Estamos nós, e está o mundo! Parece que só os Nórdicos escapam.


Numas crónicas que escrevi em Dezembro, Fevereiro, e mais recentemente, disse que José Sócrates era dos políticos mais brilhantes que apareceram depois da era Marcelo Caetano e que a conjugação PR/PM era excelente. E continuo a pensar o mesmo. Apesar de existirem erros ou realidades políticas menos felizes ou mesmo infelizes, não devemos tomar a nuvem por Juno. O que eu não gosto é da Oposição. Não me convence. Quando lembro que a Drª Manuela Ferreira Leite disse que não tem de apresentar alternativas tem, sim, de ver o que faz o Governo, fico como a Lu: deprê.


Hoje, ouvi (novamente) a deputada Ilda Figueiredo dizer que a ida de Sarcozy à Irlanda, tentando salvar o Tratado de Lisboa (o Tratado está morto. Morto. Repetia) classificando essa atitude de antidemocrática eu diria que a atitude da deputada é antipatriota. É uma atitude feia, havia que dizer também: ou a Europa se une ou então esqueça-se tudo. O Tratado pode ajudar. Havia que dizer que a Irlanda (são mais pró-americanos do que a própria Inglaterra), foi dos países que mais evoluiu graças aos dinheiros recebidos da Europa. Soube geri-los. E, como se sabe, o não ao Referendo, foi baseado no problema do aborto e das forças de segurança. Tinha-lhe ficado bem, em minha opinião, a deputada não se ficar apenas por, uma vez mais, gritar a morte do Tratado.



O povo português anda baralhado, confuso, exaurido, anda de beleza cansada: não se apruma, falta-lhe estímulo. Anda mesmo muito deprê. Culpa dele e de quem os aconselha mal. Não há país sem um povo decidido a ajudar a vencer crises, a derrubar obstáculos, a dar as mãos para dizer: estamos aqui porque queremos um amanhã melhor para os nossos filhos. Queremos exigir mas também queremos dar. Há que superar os erros dos velhos hábitos, há que libertar das mentes tacanhas, que pensam pequeno ou que dividem para reinar. Crie-se uma retaguarda de força mental que nos ajude a subir aos topos das montanhas, dando as mãos aos que desfalecem à beira da praia. Todos temos de pensar (politicamente que cada um seja livre de escolher o seu espaço. Isso é Democracia) como um Primeiro-ministro, como um Presidente da República, numa cultura patriótica que falta (em demasia) aos portugueses. Não somos cultos, não somos trabalhadores, nem somos patriotas. Chocado? É possível, mas é verdade.



Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado.
(Rui Barbosa)

terça-feira, 22 de julho de 2008

NO LIVRO QE EU NÃO LI... NO FILME QUE EU NÃO VI...


Vida em câmara lenta,
Oito ou oitenta,
Sinto que vou emergir,
Já sei de cor todas as canções de amor,
Para a conquista partir.


Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes…


No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal… Sou eu…


Vida à média rés,
Levanta os pés
Não vás em futebóis,
apesar…
Do intervalo, que é quando eu falo,
Para não me incomodar.


Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes…


No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal… Sou eu…


Não me deixes já
A história que não terminou
Não me deixes…


No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal… Sou eu…


No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Noticia do jornal
O quadro minimal… Sou eu…



Intervalo é o primeiro single dos portuenses Perfume

(participação especial de Rui Veloso)



domingo, 20 de julho de 2008

MI CA FIA


...O voo de Bissau para Bolama não foi demorado e a mancha de verdes matizados, assinalando uma ilha maior entre muitas outras mais pequenas, em breve apareceu recortada no mar. Em pouco tempo o mosquito voador como Catarina chamava à avioneta (uma Dornier) estava sobre a pista e, em breves minutos, a aterragem concluiu-se. Na perfeição, o que deixou Catarina feliz porque andar naquelas pequenas borboletas tinha, para ela, o se quê de (muita) audácia. Deslocar e aterrar eram operações delicadas para a jornalista que considerava quase milagre quando o avião parava de roncar e de andar, no asfalto, na terra ou numa qualquer clareira improvisada.



Chegada à pista, que de pista só tinha o nome, já que mais não era do que um trilho de terra batida e capim mal aparado, a avioneta afocinhou nos graus correctos e deslizou aos solavancos até parar. O piloto saiu da cabine, ajudou Catarina a descer, tirou a bagagem, deixou-a no chão e, inesperadamente, estende-lhe a mão numa cordial despedida.


- Onde é que vai? -Pergunta Catarina admirada.



-Tenho de partir para chegar a Bissau antes que anoiteça. Isto não anda de noite, como sabe. Os soldados ficam consigo, esteja tranquila que tudo vai correr bem. Não tenha medo, Bolama é uma ilha seguríssima. Estão cá os principais cabecilhas do terrorismo!


Foi a rir que entrou para a avioneta no regresso a Bissau. Catarina olhou para o aeroporto (!) e, se não fosse uma calejada repórter de guerra, tinha caído redonda no chão vermelho. Um enorme barracão, sem porta, duas janelas de vidros partidos, e um tecto velho, assinalavam o hangar. Guardando o edifício estavam dois soldados, para os quais Catarina se dirigiu. Estes, prontamente se perfilaram e fizeram continência e, num gesto rápido (inesperado), dispararam dois tiros para o ar.


-É agora.Vou ficar aqui e ninguém me ajuda. Boa tarde, disse Catarina de coração apertado. Disparam porquê? Embora tentasse não conseguiu entender a resposta e deu por si de boca aberta a olhá-los de uma forma atenta, fixa, admirada, até que um deles decidiu tomar a iniciativa de lhe pegar braço.


- É agora, oh! Deus...O soldado acabou por lhe fazer sinal para se sentar num banco tosco localizado no lado esquerdo da parede. Catarina, ficou mais tranquila; agradeceu e esboçou um sorriso. Mas como é que eu estou aqui, sozinha, em pleno mato da Guiné, com o quartel de Bolama longe? O comandante sabia da minha chegada!


Sentou-se a pensar e a olhar para dentro do barracão. Viu muitos fardos de palha e não percebeu a que se destinariam. As paredes ameaçavam colapso mas estavam autografadas de alto a baixo, assinalando as largas centenas de militares que por ali tinham passado ao longo dos sucessivos anos. Havia duas janelas: uma quase perto do tecto e a outra situada na parede do lado esquerdo. Ambas velhas, sem demonstrarem ter qualquer espécie de cuidado. Vidros, não deveriam existir há anos. Tudo parecia estar no mais total abandono. Mas não deveria ser porque -pensou a jornalista- isto é o aeroporto da antiga capital da Guiné: Bolama! Tem história, é importante! No compasso da espera, acabou por dar por si a andar de um para o outro lado. Parou um pouco e, quando o fez, reparou na pista, rodeada por muito mato, exceptuando a clareira que permitia a aterragem dos aviões, de pequeno porte.


Era autêntico mato de África, bonito. Exótico. O cheiro era bom. O mato rasteiro cruzava-se com plantas coloridas, arbustos altos e, mais distante, árvores de grande porte onde não faltavam as palmeiras, árvores esplendorosas. O conjunto era agradável, convidava a olhar atentamente. Quando regressou ao hangar não deixou de cumprir o ritual da chegada ou da partida a Bolama: autografar a parede! Decisão que fez rir um dos soldados, mostrando uns invejáveis dentes brancos como algodão. Ainda hoje quando recorda a chegada e a partida de Bolama, a última imagem que a sua memória visual reteve foi a do barracão, do hangar.


Catarina transpirava abundantemente. O calor apertava sem dó nem piedade e o pó vermelho agarrava-se aos poros, dando uma sensação desagradável.Passada quase uma hora, começou-se a ver ao fundo uma intensa nuvem de poeira como se o Lawrence da Arábia viesse atacar. Afinal, era apenas o jipe de um capitão que, soube depois, chamar-se Valentim. Chegou encalorado e deixava transparecer um certo nervosismo.


- Boa tarde. Nem sei o que lhe hei-de dizer, mas a verdade é que nos esquecemos da sua chegada. Desculpe-me, sinto-me envergonhadíssimo. Disse tudo de uma forma rápida como se quisesse livrar de um peso incómodo.



- Esqueceram-se de mim! Que interessante e, já agora diga-me: como acabaram por se lembrar?


- Ouvimos os tiros de aviso. - Respondeu o capitão com naturalidade



- Ah! Então, os tiros, são o elo de ligação com o quartel?


-Também temos o telefone, mas a bateria está avariada. Como não há outra alternativa de comunicação, os tiros resolvem perfeitamente o problema. Quer subir? Catarina entrou para o jipe não sem antes se despedir dos soldados que, apesar de lhe terem pregado um grande susto, foram a sua primeira companhia em Bolama. O jipe penetrou em território desconhecido, mas que reuniu desde o início as características marcantes da Guiné que conhecia de outras paragens: muito verde, cheiros inebriantes, o ar quente e húmido, um conjunto perigosamente incómodo mas, irresistível. Os trilhos sucediam-se em curvas apertadas, embora o território fosse plano o que permitia, na época das chuvas, ver ao longe as nuvens carregadas de água aproximarem-se, lentamente. Foi em Bubaque que uma vez correu (loucamente) à frente da chuva, fê-lo com alegria pura como se fosse uma criança feliz. Claro que acabou por apanhar mesmo as águas diluvianas que durante uma hora inundaram a zona. Encharcada e alegre nunca esqueceu a acção revitalizadora que a situação lhe provocara. Passada a tempestade a luz voltou a brilhar com todo o seu esplendor como se chuva fosse coisa que não tivesse existido-nunca- naquelas paragens.


Lembrava-se disto sempre que falava da Guiné e de um pensamento que escutava frequentemente. É um lugar, onde na época das chuvas, um pau espetado no chão, floresce! Ao lembrar estes factos passados, na sua anterior viagem ao território, sorriu. Pormenor que não passou despercebido ao capitão.


-É bom vê-la assim, pensava que vinha encontrar uma jornalista mal-humorada.



- Esqueceu os óculos...


- Claro, de óculos e muito executiva. De nariz arrebitado com a verdade escondida nos bolsos. Superior.



- Que bela ideia tem das jornalistas! Diria que é um perfil mal delineado, distorcido. Deve conhecer poucas.


- Lá isso é verdade! Quem é que vem para aqui, sem ser militar? É preciso ter um pouco de loucura, não me leve a mal, mas estou a olhar para si e nem estou a acreditar. Bom, a decisão é sua. Seja bem-vinda. Estou aqui para lhe assegurar protecção.


-Obrigada. Eu compreendo a sua admiração mas, esta, é a minha profissão. Dá para perceber?


Por entre diálogo e solavancos, naquela Guiné colorida e cheirosa, o jipe ia galgando a distância que separava o aeroporto do quartel de Bolama. Não se pode dizer que Catarina estivesse nos seus melhores dias. Era muita coisa junta: a surpresa, a espera, o calor, o pó e, ainda por cima, aquele capitão tinha o condão de irritá-la.


- Este trajecto não é perigoso?


-Perigoso, como?


- Não é um trajecto minado, não são habituais emboscadas? O trivial num cenário de guerra. O que mais poderia ser! - Pergunta Catarina, admirada (ou irritada?)



- Bombardeamentos feitos por aviões fantasmas, por exemplo...


- Já entendi, é mais um militar que olhou para mim e pensou: mas por que diabo esta fulana vem para aqui atrapalhar a nossa pacatez?



- Pacatez, desculpe, mas é preciso ter lata. Você sabe lá o que é guerra...


- Não sei! Pensa que se fosse tão maçarica como você eu andava por aqui? Venho de Angola, não esqueça. Não estou nem cacimbada, nem ando à procura de emoções fortes. Sou uma profissional experiente, senhor capitão.



- Chamou-me maçarico!?


- E confirmo. Poupo-lhe o trabalho da pergunta, reconheço pelo tom de pele. Se estivesse cá há muito tempo, portanto se já estivesse tarimbado, tinha adquirido a cor semi-amarelada-esverdeada que caracteriza os militares da Guiné. Conheço-os muito bem. Não se esqueça que não caí aqui de pára-quedas. Desci numa Dornier e venho de Angola ou, por acaso pensa que por lá se estão a viver tempos de maravilha?



- Está bem, tréguas, peço desculpa. Vamos entrar em Bolama. Na belíssima e misteriosa Bolama. É uma possibilidade que muitos gostariam de ter, sabe? Tirando as missões que temos de fazer, longe daqui, Bolama é, mesmo, pacata. Praticamente só temos arroz para comer mas há aqui umas frutas, umas ostras, umas delícias que nem imagina. Olhe aquele jardim. Lindo


- Estou mesmo a ver! Poeira, calor e mosquitos...



Por ironia do destino, Catarina reconheceu ter-se precipitado e, mais tarde, deu a mão à palmatória. Assim que o jipe entrou no espaço da ex-capital da Guiné, a jornalista começou a admirar o que ainda restava de uma presença imponente. O conjunto era, inegavelmente, bonito. O jipe entrou numa pequena estrada, ladeada por árvores, que conduzia ao quartel. Em frente deste uma árvore enorme, muito alta e frondosa, florida, como se fosse uma intensa nuvem rosa. Soube o nome dessa árvore mas acabou por se esquecer. Porém, ao longo dos anos, nunca deixou de a visualizar. Essa árvore era um dos marcos das suas fortes recordações, era o passaporte particular para entrar na sua Bolama, sempre que lhe apetecesse.


A chegada ao quartel foi inesperada e emotiva. A esperá-la, o comandante da Unidade, a sua mulher (muito simpática) e todo o grupo de oficiais, sargentos e praças. Catarina sentia-se uma almofada de pó e, dentro do possível, agadeceu a recepção e quando pensava que iria, finalmente, tomar um duche, escutou alguém dizer-lhe:


-Por aqui. O almoço está à espera.


- Mi ca fia, sussurrou para si própria, com vontade ou de rir ou de chorar? Estava indecisa...




Neste blogue, ao longo de 112 crónicas, tenho apresentado, por vezes, excertos dispersos de um livro que publicarei quando, um dia, alguma editora me dar a mão...


(A crónica de hoje foca, uma vez mais, Bolama)


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JOSÉ RÉGIO

"Vem por aqui"

dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços,
e seguros de que seria bom que eu os
ouvisse
Quando me dizem:"

"vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e
cansaços)
E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha
mãe

Não, não vou por aí!

Só vou por onde me levam meus
próprios passos...
Se aos que busco saber nenhum de vós
respondeis
Por que me repetis:"

"vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos
lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés
sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo,
Foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia
inexplorada!
O mais que faça não vale nada.

Como pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e
coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias o sangue velho
dos avós,
E vós amais o que é mais fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos,
as torrentes,
os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins,
tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e
sábios...

Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a,
como um facho,
a arder na noite escura,
E sinto espuma,
e sangue,
e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam
Mais ninguém !!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem
acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o
Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas
intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga:"

"vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se
soltou. É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei para onde vou,
Não sei por onde vou

Sei que não vou por aí!


Cântico Negro

(J.Régio)



sábado, 19 de julho de 2008

SABEDORIA DE MÃE


Para mim, o aliciante de ser blogger é poder criar, escrever o que e quando me apetece, sem barreiras ou imposições de qualquer espécie: nem tempo, nem espaço, nem tema. Sou (ou era?) uma diurna assumida mas, hoje, frequentemente, escrevo até às 2, 4 ou mesmo 6 horas da manhã, com uma frescura que a mim própria me surpreende. É um saborear (viciante), lento, desta liberdade absoluta que me agrada. Confesso. Mas, para lá da possibilidade de pensar e escrever não posso deixar de referir que o facto de se poder partilhar tudo, da poesia à receita requintada ou trivial, passando por artigos de opinião, focar a actualidade e desenvolvê-la ou dizer o que se pensa sobre uma personalidade nacional ou internacional, é aliciante.


Dá-nos poder decisório é certo (às vezes, podemo-nos sentir ser uns bem intencionados treinadores de bancada da vida) mas aumenta-nos a responsabilidade. Acho que estamos nos primeiros tempos dos blogues; o futuro reservar-lhe-á uma importância notória onde criar e partilhar serão as estruturas sólidas da maneira de sentir o palpitar do mundo, da vida, e levar, através desta infinita janela informática, ecos de análise ou sensibilidade que ecoarão pelos quatro cantos do Globo. Diariamente recebo muitas mensagens e, se por vezes, me debato na dúvida se devo ou não publicar temas que não estão assinados outras há que, apesar disso, pelo tema, ou por análise, acho que devo cumprir o sagrado mandamento de qualquer blogger: partilhar. O texto que se segue (não sei de quem é) não vai mudar nada nem ninguém, mas tem uma mensagem. Não é minha mas, uma vez mais, através do meu blogue, sou intermediária de uma leitura que pode agradar, pelo menos, a uma pessoa. Valerá a pena.


***

Uma manhã, a minha mãe, muito sábia, convidou-me a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. A certa altura, deteve-se numa clareira e depois de um pequeno silêncio perguntou-me:


- Além do cantar dos pássaros, ouves mais alguma coisa?


-Concentrei-me bem e alguns segundos respondi: -Estou a ouvir um barulho de uma carroça.


- Isso mesmo, disse a minha mãe: -É uma carroça vazia...


- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?


-Ora, respondeu minha mãe. É muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia, maior é o barulho que faz!


Tornei-me adulto e, até hoje, quando vejo uma pessoa a falar demais, a gritar (no sentido de intimidar), tratando o próximo com indelicadeza, agressividade e prepotência, interrompendo a conversa de todos e, querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de escutar a voz da minha mãe sussurrando-me ao ouvido:

...Quanto mais vazia a carroça, mais barulho faz...




Somos formados e moldados por aquilo que amamos
(Goethe)


PARA CONSERTAR O MUNDO HÁ QUE CONSERTAR O HOMEM!


Um cientista, muito preocupado com os problemas do mundo, passava dias no seu laboratório, a tentar encontrar meios de os minorar. Certo dia, o filho de sete anos, invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer com que o filho brincasse noutro lugar. Vendo que seria impossível demovê-lo, procurou algo que o pudesse distrair. De repente, deparou -se com o mapa do mundo. Estava ali o que procurava! Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita cola,entregou-o ao filho dizendo:


- Tu gostas de quebra-cabeças? Então vou-te dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo partido. Vê se consegues consertá-lo bem direitinho! Mas faz tudo sozinho! Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa.


Todavia, passadas poucas horas, ouviu o filho chamando-o calmamente. A princípio, o pai não ligou, seria impossível na sua idade conseguir recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos do que estava a fazer e decidiu ir ter com o filho, certo de que iria ver um trabalho digno de uma criança. Mas, para surpresa total, o mapa estava completamente refeito! Todos os pedaços tinham sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como é que tinha sido capaz?


-Tu não sabias como era o mundo, meu filho, como conseguiste?


-Pai, eu não sei como é o mundo, mas quando tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que tinha consertado o mundo! -Autor desconhecido-



Nenhuma grande descoberta foi feita sem um palpite ousado.

[ Isaac Newton
]

quinta-feira, 17 de julho de 2008

46664 -O GUERREIRO DA LIBERDADE - MADIBA


Esteve preso 28 anos (1962 a 1990, recusou a liberdade condicional), no Presídio Robben Island, em Cape Town. O seu número de prisioneiro era o 46664. Foi guarda numa mina de ouro, estudante de Direito, advogado, e, na opinião dos adversários: líder rebelde, sabotador, guerreiro, activista, terrorista. Apesar disso, com todo o mérito, foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz (1993). Nasceu em 18 de Julho de 1918, próximo de Umtata, capital da reserva de Transkei. Pertencia à família real da tribo Themba, chefiada por seu pai, Henry Gadla Mandela. A sua mãe chamava-se Noseken. Foi um dos maiores líderes políticos da História Moderna. O seu nome é Nelson Rolihlahla Mandela e concretizou (até aí impensável) o feito de ser eleito o primeiro presidente negro da África do Sul (1994 a 1999). Comandou a transição do regime de minoria, o apartheid, ganhando o respeito internacional pela sua luta em prol da reconciliação interna e externa.




A luta contra o apartheid, a postura firme e moderada no período de transição para uma ordem democrática sem segregação, o claro objectivo de operar a reconciliação nacional que norteou as suas relações com o presidente Frederik de Klerk, valeram-lhe um inesgotável prestígio no país e no estrangeiro. Mandela é, provavelmente, o político com maior autoridade moral no continente Africano, o que lhe tem permitido desempenhar o papel de apaziguador, conciliador, em tensões e conflitos. O percurso de vida de Nelson Mandela revelou-se extraordinário. Tendo estado preso 28 anos soube resistir a qualquer espécie de revolta que a ausência de liberdade poderia ter fomentado. Ele foi, e continua a ser, de tal forma brilhante que depois de se ter afastado da política activa, aos 85 anos, e se ter dedicado a causas humanitárias, recebeu as maiores distinções do exterior, incluindo a Ordem de St. John, dada pela rainha Isabel II, a Medalha presidencial da Liberdade, de George W. Bush. É uma das duas únicas pessoas de origem não-indiana a receber o Bharat Ratna, a mais alta distinção da Índia, em 1990. A outra pessoa foi a Madre Teresa de Calcutá. Em 2001 tornou-se cidadão honorário do Canadá e também um dos poucos líderes estrangeiros a receber a Ordem do Canadá. Em Novembro de 2006, foi premiado pela Amnistia Internacional com o prémio Embaixador de Consciência 2006, em reconhecimento à liderança na luta pela protecção e promoção dos Direitos Humanos.



O mundo, querendo celebrar os seus 90 anos, tem concretizado diversas manifestações de simpatia. Em Junho de 2008 foi realizado um grande show, em Londres, onde participaram cantores mundialmente conhecidos. A África do Sul emitiu uma nova série de selos. O Banco Central sul-africano lançou uma moeda de cinco rands (0,65 dólar) com o rosto sorridente do ícone da luta contra o apartheid -um selo antigo, lançado quando Mandela assumiu a Presidência da África do Sul, em 1994, continua a ser um dos selos mais vendidos na história do país-. A 29 de Novembro de 2003, a indústria fonográfica reuniu forças para um concerto em Cape Town, assistido por mais de 40.000 pessoas num show com 3 horas de duração. Em Novembro de 2002, o número 46664, passou a ser uma canção da autoria de Bono Vox e Joe Strummer. No ano seguinte, Mandela, lançou a campanha mundial de combate à SIDA com o apoio do disco 46664.



Foi casado três vezes. No dia em que celebrava os 80 anos contraiu matrimónio com Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano.


Parabéns ao Homem que dominou todas as circunstâncias da sua vida, que ultrapassou limites, que ousou sonhar, lutar e vencer. Que foi sofredor, sereno, humilde, sabedor e fascinante.



Tudo o que fazemos cansa. Feliz daquele que não perde as forças.


(Goethe)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O CASTELO ENCANTADO QUE FLUTUA NO TEJO


A primeira vez que o vi, fiquei de olhos muito abertos quase sem respirar, olhando-o pela janela meio embaciada do comboio que tinha partido do Rossio ao Sul do Tejo rumo a Lisboa, depois de ter parado na ponte Corta Cabeças (muitas ficaram lá). Tinha eu nove anos e depressa esqueci o pavor que essa paragem me fazia (o revisor gritava fortemente para que ninguém se debruçasse, a ponte estava ao nível do comboio e, este, não poupava aproximações...). De olhar fixo não deixava de me deslumbrar com aquela maravilha que apareceu, sem avisar. Ali, flutuando no Tejo, estava um castelo igual ao das minhas histórias infantis, povoadas de príncipes e princesas, cavaleiros e rainhas: o Castelo de Almourol! Enquanto deu para o ver não deixei de o fazer e só quando o comboio descreveu uma curva apertada a minha descoberta desapareceu. Eu é que nunca mais me libertei daquele encantamento. Até hoje.


Por viver em Abrantes (a cidade florida) e ir frequentemente a Lisboa com os meus tios (Francisco e Rita, que me criaram desde os três anos), o castelo passou a fazer parte dos meus renováveis deslumbramentos. Quanto mais o via mais me deliciava olhá-lo no meio do Tejo, numa ilha pequenina (310 metros por 75m de largura) desafiando-me a imaginação. Os anos passaram rapidamente e já adulta, na concretização de uma reportagem para a revista Mais, cujo director era o Carlos Cruz, desloquei-me com o saudoso Carlos Gil, um excepcional repórter fotográfico, ao castelo da minha meninice. Já o tinha visto o castelo de todas as maneiras: resplandecente ao Sol, fustigado por uma tempestade terrível, envolto em densa neblina, brilhando à chuva, mas nunca tinha tido o privilégio de chegar perto dele, tocar-lhe, subir as escadas e, lá de cima, olhar para o serpenteado da linha do comboio, para o verdejante das margens, para o reflexo do Tejo que rodeava o meu palácio.


Foi de barco que atravessamos a pouca distância (naquelas águas ao longo dos anos, enquanto vivia em Abrantes, soube de muitos jovens militares, pertencentes à base de Tancos e destacamento de engenharia, que perderam a vida quando ali nadavam) que separava as margens. Quando o barco atracou e pisei as rochas da ilha iniciei um processo de fascinação que aumentava de degrau em degrau. Como ia de saltos altos tirei-os e fiz o percurso do meu contentamento com meias de seda. Quando regressei ao barco vi que estava descalça e ferida; os pés das meias, tinham desaparecido! Volatilizaram-se! Tinha acabado de viver por dentro um sonho de 18 metros de altura vindo das auroras romanas e ocupado (no século III) por Alanos,Visigodos e Muçulmanos, estes a partir do século VIII. Almourol foi conquistado em 1129 por D. Afonso Henriques. O soberano entregou-o aos cavaleiros da Ordem dos Templários, então encarregados do povoamento do território entre o rio Mondego e o Tejo, e da defesa da então capital de Portugal, Coimbra. No século XX, foi classificado como Monumento Nacional.


A história deste castelo medieval é vasta e riquíssima em pormenor e as suas muitas lendas dão-lhe uma envolvência misteriosa e romântica. Por exemplo, a do terrível D. Ramiro e da sua filha Beatriz que se apaixonou pelo jovem mouro, cuja mãe e irmã foram assassinadas pelo pai, o violento fidalgo guerreiro. O amor dos jovens não foi por ele aceite e estes decidiram desaparecer. Ainda hoje se diz que, nas noites de São João, se olharmos para o alto da Torre de Menagem, aparece a imagem do eternamente jovem casal apaixonado, abraçado. E, a seus pés: D. Ramiro.


Também há quem garanta que nas noites de Lua Cheia se vê um corpo esguio, envolto em tecido branco e luminoso esvoaçando em torno do castelo. Em fundo, vozes cristalinas e, por vezes, uns sons que parecem harpas enchem de magia o espaço. Porém, diz-se que, por vezes, esses cantos são substituídos por sons de um choro sofrido. E, os mais antigos da região guardam na memória as noites em que, extasiados, viam cair do céu pérolas e flores que em contacto com o Tejo faziam largos círculos na água. Sonho? Realidade? Ilusão? Não há (penso) que rotular aquilo que nos transcende. Almourol estará sempre ligado aos Templários e tantas são as histórias de tesouros, bibliotecas, manuscritos preciosos, Cálices Sagrados, segredos, que palpitam, fascinam e desafiam. Visitar o castelo é percorrer o caminho da procura e da intemporalidade.


Almourol, continua ali, tal como o vi pela primeira vez quando tinha nove anos. Elegante, altivo, distante e próximo, abrindo-nos as brumas dos tempos passados e deixando-nos percorrer os grandes túneis escapatórios que têm as dimensões das nossas imaginações. Pelas escadarias, podemos sentir os passos delicados de damas gentis ou o pisar forte de guerreiros. É tudo uma questão de chamamento, concentração, poder e energia. Ah! E também de paixão. Passei anos a investir nela e, ainda hoje, quando olho a minha ilha de paz, Almourol, sei que no meu coração palpita uma rosa. É um milagre e é um mistério, ligado à minha fonte universal...



A beleza de qualquer classe em sua manifestação suprema excita inevitavelmente a alma sensitiva até fazer-lhe derramar lágrimas

terça-feira, 15 de julho de 2008

A POBREZA (DE TODA A ESPÉCIE) GERA VIOLÊNCIA


Se queres um ano de prosperidade, semeia milho. Se queres dez anos de prosperidade, planta árvores. Se queres 100 anos de prosperidade, educa as pessoas, assim diz um provérbio chinês. A educação é o suporte de uma conduta de vida baseada no conhecimento que vai enriquecer quem teve a felicidade, desde tenra idade (as escolas primárias têm de ser o palco de gerações de crianças instruídas. Tudo começa aí), de ter acesso a uma aprendizagem sucessiva ao longo da meninice, adolescência e idade adulta. É um crescimento pessoal que se vai reflectir numa sociedade esclarecida, formando, assim, o povo de um país equilibrado e próspero. Recordemos os países nórdicos, por exemplo, aqueles que os estudos indicam como sendo dos melhores para se viver (apesar do clima que não se pode comparar com o de Portugal), que têm cidadãos cultos, felizes...civilizados.


A educação manifesta-se em tudo: no comportamento perante a vida, na atitude para com os outros, no sucesso laboral, dado que oferece armas de defesa (excelentes) para enfrentar os desafios da vida moderna. A sabedoria anda a faltar (muito) em Portugal, resultado de um sistema de educação que há anos e anos anda a percorrer uma acidentado percurso que empurra os estudantes, os futuros homens do amanhã, para as bermas de uma vida que não conseguem agarrar com segurança e esclarecimento. Fogem-lhes os sonhos, as esperanças. As metas esbatem-se e, muitos deles, perdem-se pelas esquinas dos dias que não são vibrantes nem enérgicos. São, sim, cinzentos, apáticos e enganadores.


A educação é a base do êxito individual e a garantia de um país de sucesso. A ignorância tolhe os horizontes, asfixia, não permite acarinhar a vida. Pelo contrário, forma cidadãos complexados, agressivos, revoltados, de mentes adormecidas. Daí, à pobreza é um passo. Daí, à violência, é meio passo. E, quando se juntam, a combinação é, ameaçadora. Olhemos para nós, para os portugueses. Olhemos para Portugal, mas olhemos bem. Temos tudo para sermos triunfadores: um clima amistoso, um litoral precioso (vale ouro), uma dimensão territorial pequena mas diversificada e maravilhosa, repleta de potencialidades mas, apesar disso a pobreza aumenta, a violência cresce desmesuradamente e metade do País olha para a realidade e não querem acreditar no que está a acontecer. Mas está! Esbanjamos pobreza de toda a espécie. E os resultados andam por aí a encher as manchetes dos jornais e a abrir as notícias televisivas.




Lembre-se que da conduta de cada um depende o destino de todos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

NELSON MANDELA


O nosso medo mais profundo
Não é o de sermos inadequados.
O nosso medo mais profundo é que somos,
através de Deus, capazes de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas,
que mais nos apavora.
Nós perguntamos:
Quem sou eu para ser brilhante,
maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na realidade,
Quem é você para não o ser?
Você é filho do Universo.
Fazer-se de pequeno não ajuda o mundo.
Não há iluminação em diminuir-se,
Para que os outros não se sintam inseguros
quando estão perto de você.
Nascemos para manifestar a glória do Universo
que está dentro de nós,
não está apenas em um de nós:
está em todos nós.
E conforme deixamos a nossa própria luz brilhar,
inconscientemente damos às outras pessoas
permissão para fazer o mesmo.
E conforme nos libertamos do nosso medo
a nossa presença, automaticamente, liberta os outros.


O Nosso Medo
(N.Mandela)

O MEDO ATORDOA A LUCIDEZ


Por vezes somos levadas a dizer: Ah! A Carminho é uma mulher sem medo, a Berta nem se fala! O Coutinho é audaz a tempo inteiro e o Gustavo é um destemido, um temerário. Errado. Nenhum dos citados é isento da sensação de medo porque ela faz parte da sensibilidade humana. Já testemunhei a palidez mortal de pára-quedistas, à porta do avião, na altura do lançamento; todavia, dado o passo para o vazio, venciam o temor. Vi homens nas linhas da frente, nos combates em Angola, na Guiné, e o pânico estava lá, no coração, nos nervos, na alma. Mas, a partir do momento em que intervinham, modificavam-se. Testemunhei o pavor de alguns toureiros antes de pisarem as arenas- o que me apetecia era fugir daqui para fora-, desabafou, um dia, um nome de cartaz, horas antes de entrar no redondel, quando me dava uma entrevista. Horas depois, nos médios, levou a praça ao rubro quando lidou o touro que lhe coube em sorte. Vestido de seda e ouro, era a imagem inebriante da coragem, da arte e do valor.


Ao lado de pilotos da Fórmula I, testemunhei como se concentravam em verdadeiros exercício de profunda interiorização, antes de se sentarem nos seus bólide (já noutra dimensão) e conseguiram vitórias estonteantes. Estive com 12 leões, ao lado do maior domador da época, o espanhol Angel Cristo, e não sei quem é que fechado na jaula teve mais medo. Quase que apostava que era ele porque eu, numa mescla de inconsciência e pânico, entrei em piloto automático, não encontrei espaço para pensar! O medo existe tanto nos que na vida têm profissões de alto risco como nos que, pacatamente, apanham comboios e se preparam para um dia-a-dia sem sobressaltos.


O medo está com a mãe prestes a dar à luz, com a jovem que deixa pela primeira vez a casa de seus pais ou com aquela que enfrenta uma separação inesperada! Só que todas elas, chegado o momento de enfrentarem os seus pavores, recorrem, por vezes sem se aperceber, à fonte da força interior e dão o passo em frente. Cada ser humano encerra em si uma força imensa, poderosa; só que, por vezes, é esquecida.


O medo é o pior dos conselheiros.
(Alexandre Herculano)

domingo, 13 de julho de 2008

O CRESCER DA BUGANVÍLIA


Sempre que passava por um muro coberto pelo esplendor de uma buganvília florida (fosse qual fosse a cor), dizia para mim própria que tinha, urgentemente, de comprar uma. E, comprei! Escolhi-a com cuidado, com a minúcia (exagerada) de quem parece avaliar um prédio. Agarrei nela com satisfação, esquivei-a à força do vento que agitava os verdes da sétima vila mais bonita do mundo (Sintra) e, com o corpo, protegi a pequena flor que iria plantar no meu jardim. Este ritual era feito pela quinta vez já que as anteriores tentativas não foram coroadas de êxito, mas desistir não pertence ao meu estilo de vida. Por isso, já sabia que a buganvília deveria ser plantada dentro do próprio vaso, sem deixar as raízes expostas. Assim fiz. Escolhi um lugar ao Poente, terra especial, vitaminas. Remexi com cuidado e depositei -cerimoniosamente- o vaso com o fundo cortado. Olhei para a terra húmida e pensei: será desta?


Depois da nova tentativa voltou o ciclo de espiar diariamente o crescer da buganvília. Quase lhe escutava o respirar desse crescimento e a força das raizes a agarrarem-se à terra. É aí que reside o fascínio da jardinagem; a calma, o tempo que não se apressa, o silêncio, o prazer da descoberta. O saber entender a chuva, o Sol, o vento e o calor. Estar segura quando se rega, se aduba, se cortam as ervas daninhas que ameaçam a nossa preciosidade. Passaram-se anos. Muitos. Foi quase uma epopeia mas a trepadeira de cor outonal (lindíssima) ainda hoje mora e floresce no cantinho do meu espaço florido. E o deleite quando a olho e a trato nunca diminui, apesar de já se terem passado várias Primaveras, após o bem sucedido monólogo entre mim, a terra e a trepadeira. Foi bom vê-la crescer ao Sol e quando, agora, no auge da flor esta fica como uma cascata de cor, reconheço que tinha toda a razão quando pensava: tenho de comprar urgentemente uma buganvília. Há mais de 20 anos que me sento frente a ela e penso, choro, rio, leio, olho, entro no Universo e sinto-me sábia, feliz, com a minha companheira colorida.



As rosas irmãs, na terra das estrelas, são mais lindas nos olhos do que na mão
(Álvaro Moreyra)



CRIANÇAS SEM AMANHÃS


Há crianças que no mundo andam perdidas, maltratadas, deambulando sós e revoltadas, sem amanhãs, sem casas e sem destinos. Não são amadas nem amam, mordiscam a vida como sombras febris e desfocadas, de olhares parados, sem vibrações, sem céus e sem risos. Indiferentes, enfrentam as emboscadas dos dias e dos homens, com revolta e solidão confusa nos seus jovens corações. Crescem pálidas e absortas. A muitas faltou-lhes o pai. Outras, nunca conheceram a mãe. Umas ( apenas) os recordam vagamente mas, mesmo assim, há nelas o secreto sabor de uma saudade revolta e amordaçada. Felizmente, outras há que vivem, dia-a-dia, o amor partilhado, numa família envolvente.


É o coração que faz o carácter
(Eça de Queirós)

SOMOS UM POVO TALENTOSO


Ainda bem que não é preciso acender e apagar as estrelas e que os dias não se esquecem de seguir às noites, nem o Inverno ao Outono. E que as marés e a Lua mantêm as suas fases sucessivas. Ainda bem que há sorrisos de bebés e os campos rompem em sinfonias de cores quando renasce a Primavera. A confusão terrena é muita. E a ela não foge este País que parece sucumbir às múltiplas emoções do mundo. Mas há, valha-nos Deus, uma jovem actriz, Inês Castel-Branco que é a expressão viva do talento e do futuro. Temos a consagrada Maria João Pires que num piscar de olhos se instalou no Top mundial, com os Nocturnos de Chopin. Há, sempre, audazes a quem o espaço não lhes basta e por terra ou mar ultrapassam o Bojador, unindo pontes, mãos e compatriotas. Ainda bem que há, também, uma Dulce Pontes que quando canta Deus Quer, o Homem Sonha e a Obra Nasce, nos faz acreditar no Rumo Português que há-de construir-se na solidez da grandeza e no sucesso emocionado do talento. Somos um Povo de (inesgotáveis) valores. Muitos à espera de serem descobertos. Outros, já no processo de florescimento.



Siga o seu luar interior
(Allen Ginsberg)

PASSEIO À CHUVA


Era domingo, o sol rompia por entre nesgas de nuvens naquele dia ameno, apesar da chuva miudinha que caía. Não havia agressão climática, sentiam-se apenas as nuances do tempo numa indefinição outonal. Olha, já vai com os copos... ouvi alguém dizer atrás de mim enquanto tomava café no balcão de uma pastelaria. Não resisti e olhei para a rua onde uma senhora de idade, de cabeça branca, de passo firme e vigoroso -mesmo com alguma imponência na sua fragilidade-, passava indiferente ao que a rodeava. Reparei que ia de fisionomia sorridente e, apesar da chuva, levava a sombrinha fechada. Não sei se iria com os copos, nada transparecia. Apenas o seu bizarro passeio, alheado e divertido, sob a cadência de uma chuva apetitosa que, talvez, lhe lavasse a Alma e lhe suspendesse amarguras ou memórias. Fiquei a olhá-la e a lembrar o comentário feito. Mas, que sabemos nós da solidão ou da alegria de uma senhora idosa a quem, provavelmente, se esqueceram de amar?



O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.

(Albert Einstein)

sábado, 12 de julho de 2008

OS PESADELOS E OS SILÊNCIOS DOS AMORDAÇADOS


“A batalha pela liberdade é uma luta que não tem fim. Nem as suas vitórias são finais, nem as suas derrotas são permanentes. Cada geração deve defender o seu património porque cada conquista desperta novas forças que tentarão substituir os antigos meios de opressão por outros. Não pode haver paz num mundo que vive e cresce sempre, e cada batalha que os nossos antepassados supunham ter acabado, terá de ser travado por nós e pelos nossos filhos, se quisermos aumentar e preservar o património da liberdade”.


Com efeito, como lembra Philip Van Doren, enquanto todos os homens não viverem em liberdade a paz não será real e preocupante é sabermos que em pleno século XXI, ainda existem territórios onde ela é quase nula ou mesmo inexistente. Continuam a existir milhões de pessoas que sofrem restrições, outros milhões vivem sob jugos de regimes opressivos e, apenas, 1800 milhões -em todo o mundo- são livres! Portugal pertence aos pouquíssimos países onde os direitos e liberdades são totais. É boa esta realidade, é bom pertencermos a um país livre, mas isto não nos deve fazer esquecer os mais de 2600 milhões de amordaçados.




Tenho em mim todos os sonhos do mundo

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A LUTA DE UM CÃO QUE NÃO DESISTE DE TER UM DONO


O Bull, cresceu convivendo com crianças e gatos e tornou-se num cão muito
sociável e meiguinho. Até que um dia, inesperadamente, a sua dona faleceu.
O resto da família (que o viu crescer) não o quis receber e fez intenção de o ir
entregar ao canil municipal. Felizmente alguém intercedeu e acabou por ser
entregue aos cuidados da APCA (Associação de Protecção aos Cães Abandonados-
Canil de S. Pedro de Sintra www.apca.org.pt.) Desde então, passou a viver rodeado por mais de uma centena e meia de cães, dividindo atenções e fazendo por sobreviver, num ambiente bem mais hostil do que estava habituado.


Não bastando ainda todo o azar, um dia, foi ferido durante uma escaramuça.
Foi internado com uma pata gravemente ferida e lutou que nem um touro durante
semanas para recuperar, mas, infelizmente, quis o destino que uma infecção
resultasse na amputação, injusta, triste, mas necessária para o salvar. Esta é a história de um cão sem sorte, mas que tem lutado para sobreviver às adversidades, com uma força estóica. Por isso, não queremos que a história de vida do Bull termine aqui… no canil.


Porque, apenas com 3 patas, este cão continua o mesmo de sempre!
Forte e muito meigo, faz tudo o que fazia antes. Um autêntico sobrevivente!
É de tamanho pequeno/médio e está vacinado, desparasitado e microchipado.
Ele merece mais que nunca passear, brincar e trocar muitos mimos com os seus
novos donos! É o sonho do Bull e o nosso também! Precisa-se de um dono 5 estrelas para um cão que não deixa de lutar para voltar, um dia, a ser novamente feliz.



Natália Correia 915133063 / 964530419


A felicidade consiste em fazer o bem

(Aristóteles)