Brumas de Sintra

Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites

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O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com

sábado, 26 de abril de 2008

BRASIL, O NINHO DO FUTURO


Em breve o mundo será muito diferente do que conhecemos hoje, diz, Jim O'Neill, director de pesquisas económicas do Grupo do Banco de Investimentos Goldman Sachs. Os rumos dos negócios cada vez mais dependerão do sucesso ou do fracasso destes quatro países. O’Neill refere-se ao Brasil, Rússia, Índia e China. Para eles foi criada a sigla BRIC, referenciando-os como os grandes países emergentes do século XXI. A sua ascensão vai incorporar no mercado um vastíssimo número de consumidores que mudarão o rumo da economia mundial.


Em 2050, os BRICs, serão as maiores potências económicas do mundo; ultrapassando a União Europeia e o ainda em crescimento Estados Unidos da América (perderão posição perante a China). Juntos, os países do BRIC, representam uma força global poderosíssima: mais de 40% da população mundial e um PIB de mais de 85 triliões de dólares. As funções dentro do BRIC naturalmente ficariam definidas: o Brasil serviria como fornecedor de alimentos; a Rússia, de petróleo e gás natural; a Índia, de mão-de-obra e a China, de tecnologia.


O Brasil desempenhará o papel de país exportador agro-pecuário tendo como principais produtos a soja, a carne. Tudo isso será necessário para alimentar mais de 40% da população mundial. A cana-de-açucar também desempenhará papel fundamental na produção de combustíveis renováveis e ecológicos, como o álcool e a recente atracção, o biodisel. Além de fornecer matérias-primas essenciais a países em desenvolvimento, como o petróleo, o aço e o alumínio, que também são encontrados nos parceiros latinos, fortemente influenciados pelo Brasil, como a Argentina, Venezuela e Bolívia. Mas talvez o mais importante papel do Brasil esteja nas suas reservas naturais de água, na fauna e na flora, ímpares em todo o mundo, que em breve ocuparão o lugar do petróleo na lista de desejos dos líderes políticos de todos os países. O Brasil ficaria, assim, em 5º lugar no ranking das maiores economias mundiais, em 2050.


O Brasil é, com efeito, avassalador. Intenso. Deslumbrante. Repleto de problemas e de maravilhas. É conveniente e fascinante estar atento ao seu desenvolvimento rumo ao futuro e testemunhar como, no presente, resolverá os muitos problemas que o afectam. O Brasil é dos BRICs o único país que poderá resolver o seu problema de comida e de energia (Celeiro do Mundo, como já foi conhecido. A ideia volta a ressurgir em força).


Foquemos agora as coisas desagradáveis que afectam o país do Corcovado: as favelas são incontroláveis na droga e no crime de toda a espécie. É um país dentro de outro e nenhum deles quer perder a sua independência. Têm acordos com o poder porque também têm muito poder. Há anos, decretaram nas favelas que iam fechar a Baixa e, adiantaram o dia, hora, duração e locais e aconteceu mesmo como disseram, apesar do Governo ter mandado polícia para a rua, garantindo que protegia quem abrisse o comércio e quem fosse trabalhar.


Há dois anos, entre o Natal e a Passagem de Ano, desceram à cidade e roubaram para mostrar que podiam e mataram. Muito. E têm, na Amazónia, fornos ilegais onde queimam árvores vulgares e raras sem diferença, para fazerem carvão e vender. Centenas de quilómetro de fornos artesanais que se vêem por satélite (sabe-se onde estão) e só uma parte é que é fechada (de cada vez) porque senão tira trabalho a muita gente que, em seguida, entraria na ilegalidade. O Brasil tem agora o dengue que está a matar muito mais do que dizem as estatísticas oficiais. E têm mesmo muita corrupção, a todos os níveis da sociedade.


A maioria dos problemas do Brasil são inerentes a todos os outros países, com maior ou menor intensidade. Mas, há particularidades que são muito brasileiras. No mau e no bom. Vamos ao bom. É-me impossível descrever a beleza do país, por dois motivos: não o conheço, mas do que vejo constantemente, através das técnicas avançadas que superam a vulgar foto, sinto que o conheço e, se não soubesse (!) que Deus é português, concordaria que Ele é mesmo brasileiro! A beleza é estonteante e imensa.


Vamos, atentamente, falar de algumas coisas magníficas que o Brasil tem: excelente Televisão, na programação emitida. Muito bom Cinema (em ascensão constante). E têm a música popular brasileira, MPB, de toda a espécie, que só por si é um mundo à parte (fabulosa). E, escreve-se muito bem (no meio de 170 milhões, é muito provável que o próximo Jorge Amado (que almoçava quase todos os domingos num restaurante ao lado da minha casa) já tenha nascido. Escreve-se em língua portuguesa que mesmo sendo do Brasil, é portuguesa!


Aliás, as variações do português no interior do Brasil são imensas e adoptadas por tanta gente que acabam por constituir novos ramos da língua. Há sítios em que se fala português mais incompreensível que o açoriano mais fechado e, são 10 milhões a fazê-lo. É, também, o país do imaginário que funde ciência e religião ao ponto de dar doutoramentos universitários em saberes, fruto dessas associações. E, ainda têm o Nordeste e o Pantanal (que deve ser uma loucura para os sentidos quando, ali, perto da Fonte da Natureza, muito ainda em estado puro, se deve sentir que o olhar e a Alma se espraiam silenciosamente, tal não será a força apelativa) cada um maior que países inteiros, e ainda têm mesmo sertão e coronéis que mandam em quintas do tamanho do Alentejo e Algarve, juntos. O Brasil vai mandar cada vez mais na América Latina, à medida que os EUA enfraquecerem


Estou a escrever sobre um país maravilhoso! O Brasil já há 10 que tem quatro sistemas alternativos de abastecimento de carros e, dois deles, de combustíveis tirados de culturas (a nível mundial há controvérsia sobre o tema). Há 10 anos!!!. Nas bombas, todos os dias. Têm 90% do potencial para todos os novos medicamentos a descobrir nas próximas décadas só a estudar a Amazónia. E, claro, têm o Carnaval do Rio (a folia mundial.Tanta beleza e espectacularidade! O Céu tem mesmo preferidos…) e não contentes com isso têm mais dois ou três tão bons ou melhores, mais conhecidos internamente, como o da Baía e o de Salvador. Por curiosidade: o do Rio e São Paulo, são de invenção portuguesa, e o da Baía e Salvador, são de inspiração angolana. São as maiores e melhores festas do mundo. Devem ver-se do Espaço.


Mas, além do Carnaval, ainda há o Natal em Gramado e Canela, no Sul, para os lados de Porto Alegre. Têm as festas natalícias e do chocolate, talvez das mais grandiosas que existam. Mais suíças e alemãs que as originais, mas a falar brasileiro. Lá, não há a mínima dúvida, é tudo imenso; vejamos, descobriram um mar de petróleo maior que a Península Ibérica que os colocou do dia para a noite no 3º lugar mundial. Ainda têm gás natural nas mesmas dimensões e outra coisa ainda mais preciosa: água doce no subsolo do Rio Grande do Sul. Além dos rios que em caudais somados têm (quase) mais que o resto do mundo junto.E tem 170 milhões de contribuintes. 100 muito pobres e 70 de classe média e uns 7 milhões milionários e, talvez, 700 mil bilionários. É obra! E, em riqueza, ainda só vale pouco mais do que 10 vezes que Portugal, apesar de ter 17 vezes mais população e 1000 vezes pessoas mais ricas. E pensar que o Brasil (lindo) tem ainda tanto para crescer...




Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.


Vinicius de MoraesO Rio

quinta-feira, 24 de abril de 2008

PARA ELE, BASTOU!


Particularmente nunca achei que Filipe Menezes conseguisse levar a bom porto o seu barco, na liderança do PSD. Sentia nele uma certa fragilidade (a vida já me provou que sensibilidade com política, não resulta e as suas lágrimas de despedida, ontem, no discurso do Congresso Nacional do PSD revelaram como é sensível) mas não sei explicar bem o porquê, ou talvez aquela dualidade Menezes-Santana me confundisse, provocava-me duas sensações bem diferentes: Santana era o líder e Menezes apenas estava. De vez enquando.


Não quero ser injusta para com o ex-presidente do PSD uma personalidade esclarecida, honestíssimo, inteligente, com um carácter muito humano, admirado por todos que com ele lidam diariamente. Mas, um partido político para não dizer que se assemelha a uma selva, é deselegante fazê-lo, posso dar uma imagem mais comedida: uma reserva, espaço amplo por onde correm com poder verdadeiras forças da Natureza. Na minha análise simplista imagino que não deva ser difícil liderar um partido político, quem chega a essa posição tem, seguramente, currículo para isso, difícil é conseguir ter coração e jogo de cintura para as conspirações dos bastidores, já para não falar em traições, decepções e afins. Por muito selectivo que se tente ser, ser-se-à sempre apanhado pela surpresa, nem sempre agradável.


Filipe Menezes, a partir do momento em que não se sentia bem com o ambiente que o rodeava, quer na Imprensa, quer no interior do seu partido e, principalmente, com aqueles que militavam na sua ala, fez o que tinha a fazer e -lo com dignidade. Disse basta e não voltou com a palavra atrás (sente-se que lhe deve ter custado, um sonho é sempre um sonho e deixar de lutar por ele por opção própria, requer análise consciente e uma frieza de emoção que mais não é do que lucidez). A partir desse momento abriram-se as portas às novas possibilidades e os futuros candidatos a líder do PSD começaram a aparecer. Sim, escolher quem consiga ganhar as eleições de 2009, vai ser uma tarefa destemida (muitos pensam que Sócrates ganha, com tranquilidade).


Neste momento fervilham as opiniões, os acordos, definem-se tácticas, arranjam-se e multiplicam-se apoios e fazem-se previsões. Tudo é tentado ao pormenor. Para muitos, o líder ideal, de todos os nomes já adiantados (surgiu, inesperadamente (!), Santana Lopes apoiado por João Jardim, que disse para Manuela Ferreira Leite prestar um bom serviço ao partido e não se candidatar) será a Salazar do PSD, Ferreira Leite (conhecida pelo seu rigor financeiro). Se for outro qualquer nome não lhes parece que vá vingar. Se a ex-ministra vier a ser escolhida, alguns pensam que passará para o povo o sinal de agora é a sério e a doer. E o povo vai apreciar. Conseguirá arrumar o partido que corre o perigo de ver a malta nova demais a pensar que já chegou a hora deles.


Diria eu, então e Marcelo Rebelo de Sousa? É inteligente (pertence ao grupo de pessoas que nasce de 30 em 30 anos, uma geração), arguto, atento, sabedor, reúne uma diversidade de qualidades (e defeitos, por certo) que fazem dele o melhor comunicador televisivo e um político sempre dentro do vulcão, sem se queimar; fala, analisa, pontua, antevisiona. E quanto a futuro líder? Bom, julgo que essa não é a sua praia. Rebelo de Sousa há muito que tem um encanto pelo rosa do Palácio de Belém. Não o estou a ver concorrer, novamente, a líder do PSD. E Rui Rio? Tudo indica que ele não quer descer aos mouros. É pena, talvez pudesse ser o melhor de todos os candidatos. E o tão falado Santana Lopes? Está a ser aquilo em que ele é bom: um mestre de cerimónias bem falante e telegénico, mas esta não é, mais uma vez, a festa em que vá ganhar o Óscar. Todavia, tenho de acrescentar que achei pouco inspirada a forma como foi destituído do cargo quando era Primeiro-Ministro (assumido a 17 de Julho de 2004).


Por seu lado, Alberto João Jardim surgiu, inesperadamente, como potencial candidato. Foi por pouco tempo mas foi exaltante e apoiantes não lhe faltaram; portanto, já não pode argumentar que não tem soldados, mas o Presidente da Madeira é um político inteligente e, creio que, apesar de ter sentido o abraçar de uma aspiração (ser líder no Continente), resistiu. As razões só ele sabe e o futuro dirá se agiu bem ou não. João Jardim, ao longo dos seus 30 anos à frente dos destinos na Madeira fez bom trabalho, soube captar ajudas comunitárias e da República e traduziu isso em obra feita (Cavaco Silva disse no discurso de despedida, na sua recente visita à Madeira, que Jardim não precisava de elogios, a obra realizada falava por ele).


Outros argumentam que João Jardim não sabe fazer uma coisa importantíssima que Portugal precisa urgentemente: trabalhar em competitividade. E, outros ainda, definem-no como o Robin dos Bosques dos Tempos Modernos: soube tirar à CEE e à República para as sucessivas obras na Madeira. Mas ficará na História pelo trabalho feito na sua ilha. Fez dela uma verdadeira e sedutora pérola que trata por “tu” a linguagem do turismo. Se ele fosse menos extrovertido, muitas vezes desrespeitador, seria notável.


A 31 de Maio, segundo os resultados das directas antecipadas, haverá um presidente ou uma presidente do PSD erguendo a bandeira da continuação de algo que ameaçava autodestruição, já para não falar em fusão com o PS, segundo opinião de alguns treinadores de bancada política. Que ganhe o melhor. Parece uma frase feita e até pode ser mas, além disso, é já uma esgotado ambição de quem deseja uma Oposição esclarecida para enfrentar o Governo, ajudando-o, provocando-o, exigindo, com firmeza. Portugal fica a ganhar e os portugueses também. É que andamos numa fase em que, por vezes, o que apetece é emigrar.


Quanto a emigrar por emigrar, se quiser ir para onde o governo é profissional ao ponto dos governantes terem contratos por objectivos e passarem diversos graus ao longo de mais de 15 anos para chegarem a um lugar com poder político e decisivo, então vá, por exemplo, a Singapura, à Malásia. O futuro dos regimes políticos é o que estão a fazer nestes países em termos de classe política.
A Malásia ainda tem uns assuntos sobre direitos e liberdades para acertar mas, mesmo assim, está bem melhor do que aquele outro regime que revolucionou as democracias com os conceitos de Liberdade, Fraternidade e Igualdade, que inaugurou esse período de Luz da Civilização ... limpando os opositores com a guilhotina.



Tenho a certeza de que hoje somos senhores do nosso destino, que a tarefa que temos perante nós não está acima das nossas forças;que as aplicações e dificuldades que ela acarreta não estão para lá da minha capacidade e resistência física. Enquanto tivermos fé na nossa própria causa e uma indomitável vontade de ganhar, a vitória não nos será negada.

Winston Churchill

domingo, 20 de abril de 2008

O SILÊNCIO DOS BONS


Sou patriota, gosto do meu País. Respeito-o e orgulho-me dele, apesar das muitas, mas muitas, maleitas que o afectam. Só que o País, em si, não tem culpa. Nós, sim, os portugueses, somos responsáveis pelo que de bom e de mau o caracteriza e o define. Claro que há as influências internacionais, há as ameaças futuras vindas das mudanças climáticas e, consequentemente dos países que pouco (ou nada) fazem para travar a destruição do planeta; há uma ameaça nova: a guerra do pão! É que a subida dos cereais está a atirar para fomes sem regresso, dentro de três, cinco, anos, milhões de pessoas que sustentam a sua base de alimentação nos cereais (caso do arroz, por exemplo); a subida do petróleo e do custo do dinheiro que afectará cada vez mais a vida financeira do País, que tudo parece indicar vai sentir os reflexos da crise que, dizem os analistas, afectará fortemente a Espanha e nós, portugueses, mais indefesos, mais pobres, vamos ter menor capacidade de manobra.



Sabe-se que o ritmo da economia da América mexe com o mundo inteiro, faz lembrar a imagem que é habitual usar-se para demonstrar a ligação da Terra com o Universo: uma borboleta bate as asas nos Alpes e forma-se um tsunami nas Caraíbas. E a América, economicamente também está mal. Vejam-se os recentes resultados: subida do petróleo, verbas exorbitantes desviadas para a guerra no Iraque, a crise no campo financeiro relacionado com o crédito à habitação. A fragilidade é tanta que dar a Casa Branca a Obama, excelente, mas sem experiência, é um risco. Pelo menos é inquietante. Os tempos futuros mostram-se difíceis mas, ainda estamos a tempo de fazer uma paragem na voragem das realidades e reconhecermos que há países que devido a vários factores -uma boa governação é vital-, conseguem vencer a pobreza.


Como? Dar a resposta certa, não sei. Sei, porém, que milagres não são impossíveis, mas demoram muito… Tenho a certeza que ninguém, no caso português, que esteja em São Bento (o Presidente da República não tem poderes governativos) consegue puxar pelo País se o Povo não ajudar. É uma dedução muito pueril, mas é mesmo assim: o povo português nem sempre tem sabido ajudar quem nos tenta governar. Já tivemos bons, maus, assim-assim, péssimos, excelentes governantes e nós parece que somos como António Variações (admiro-o muito, note-se)...Só estamos bem onde não estamos... Só queremos o que não temos...atitude que reflecte insatisfação, indecisão, leviandade e imaturidade.



Para Portugal desejo o melhor e, curiosamente, recebi hoje, através da Net, claro, um artigo, ilustrado magnificamente, só que não sei de quem é, por isso não faço a citação da fonte que gostaria e deveria fazer. Fala na Suíça, um país que conheço muito bem e onde familiares muito próximos foram emigrantes. Não quero com isto dizer que a Suíça seja perfeita. Nem pensar. Não, não é (não há países perfeitos) mas é, seguramente, um país onde se vive bem. Aqui fica a ideia de um viajante da Net, para pensarmos um pouco. Não nos faz nada mal. Lembre-se que o futuro não lhe vai oferecer Impulse


A diferença entre países pobres e ricos não é a idade do país. Isto está demonstrado por países como a Índia ou o Egipto, que têm mais de cinco mil anos, e, ainda, se debatem com muita pobreza. Por outro lado, o Canadá, a Nova Zelândia, a Austrália, que há 150 anos eram inexpressivos, hoje são países desenvolvidos e ricos. A diferença entre países pobres e ricos também não reside nos recursos naturais e disponíveis. O Japão possui um território limitado, 80% montanhoso, inadequado para a agricultura e para a criação de gado, mas é a segunda economia a nível mundial. O Japão é uma imensa fábrica flutuante, que importa matéria-prima do mundo inteiro e importa produtos manufacturados.



Outro exemplo é a Suíça que não planta cacau, mas tem o melhor chocolate do mundo. No seu pequeno território cria animais, cultiva o solo apenas quatro meses no ano. No entanto, fabrica lacticínios da melhor qualidade. É um país pequeno que passa uma imagem de segurança, ordem e trabalho, pelo que se transformou no cofre-forte do mundo.


No relacionamento entre gestores dos países ricos e os seus homólogos dos países pobres, fica demonstrado que não há qualquer diferença intelectual. A raça ou a cor de pele, também não são importantes. Os emigrantes rotulados como preguiçosos nos seus países de origem, são a força produtiva dos países europeus ricos.Onde está então a diferença? Está no nível de consciência do povo, no seu espírito. A evolução da consciência deve constituir o objectivo primordial do Estado, em todos os níveis do poder. Os bens, os serviços, são apenas meios. A Educação (para a vida) e a Cultura ao longo dos anos, deve estar nas consciências colectivas, estruturadas nos valores eternos da sociedade: moralidade, espiritualidade e ética


Solução-síntese: transformar a consciência do povo português. O processo deve começar na comunidade onde vive e convive o cidadão. A comunidade quando está politicamente organizada em Associação de Moradores... Clubes de Mães... Clube dos Idosos... etc., transforma-se num micro-estado. As transformações desejadas pela Nação para Portugal serão efectuadas nesses micro-estados, que são os átomos do organismo nacional –confirma a Física Quântica. Ao analisarmos a conduta das pessoas nos países ricos e desenvolvidos constatamos que a grande maioria segue o paradigma quântico, isto é, a prevalência do espírito sobre a matéria, ao adoptarem os seguintes princípios de vida:



1 – A ética como base
2 – A integridade
3- A responsabilidade
4- O respeito pelas leis e pelos regulamentos
5 – O respeito pelos direitos dos outros cidadãos
6 – O amor ao trabalho
7 – O esforço pela poupança e pelo investimento
8 – O desejo de superação
9 – A pontualidade


Somos como somos porque vemos os erros e, apesar disso, encolhemos os ombros e dizemos: Não interessa… A preocupação de todos, deve ser com a sociedade que é a causa, e não com a classe política que é o efeito. Só assim conseguiremos mudar o Portugal de hoje. Vamos agir. Reflictamos sobre o que disse Martin Luther King:

-O que é mais preocupante, não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos ou dos sem ética. O que é mais preocupante, é o silêncio dos que são bons.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O BENFICA VAI DERROTAR O DRAGÃO


Tinha prometido a mim própria que não me meteria tão depressa neste aquário do futebol, porque não são as minhas águas, mas a verdade é que não resisti e, confesso, nem fiz muito esforço. É um desafio provocador que me impede de versar outros temas. Que adiantaria, hoje, tentar falar, sei lá, das eleições americanas (é um assunto fascinante, os resultados terão reflexos no mundo inteiro) se estou constantemente a tentar perceber o que teria levado Chalana a substituir Di Maria (a desgraça começou aqui, o argentino estava a irritar até à medula os sportinguistas, dentro e fora do campo de Alvalade…).


Não deixo, porém, de realçar que foi um jogo arrepiante, admirável, emotivo, apaixonante -puxou pelos 37 mil espectadores in loco-, bom, até para os derrotados (teve 10 minutos soberbos). Foi um derbi com as nuances próprias de encontros desta envergadura. Oito golos, é obra! Talvez tenha sido o melhor jogo do Sporting nesta época, e a dinâmica inicial do Benfica, confirmou que ali, ainda, há o potencial inerente ao prestigiado Clube da Águia. Como se passa de vencer por 2 a 0 a perder por 5 a 3?! Só pode ter si mesmo partida dos deuses. O que eles se devem ter divertido!


Antes de começar a explicar o que me fez a focar novamente os movimentos do esférico, acrescento que admiro Chalana, não me esqueço que ele apanhou um Benfica aos bocados, de um dia para o outro, depois de alguns iluminados se terem dado ao luxo de dispensar um treinador na primeira fase da época. E não se esqueçam que quando Camacho chegou, os bons do plantel já estavam a brilhar noutras paragens. Venderam tanto que fez impressão, nem o Simão escapou (também não sei se ele estava interessado em escapar…).


Então foi assim. Era uma quarta-feira calma, sereníssima, até ao momento em que o jogo se preparava para começar, na Televisão, e a Catarina, que é uma espevitada jovenzinha de seis anos, se equipou, como manda a lei e se sentou (emocionada, por certo) no sofá que deve ser uma bancada aberta, em directo, para o campo já que a Catarina vibra tanto (ela acompanha o desafio com um apito na boca, para total desespero da mãe, diga-se) que quem a aprecia fica tonta com os movimentos vertiginosos da pequena.


Eu não sei se ela percebe alguma coisa daquilo, pois basta entrar a bola na baliza, seja de quem for, para armar um verdadeiro carnaval. Ela é benfiquista até às unhas dos pés. E não sei porquê! Em casa ninguém aprecia futebol, os pais nunca a levaram a ver nenhum jogo, ninguém fala de futebol e a Dona Catarina, aos três anos, já era uma ferrenha benfiquista. Há cada mistério! Mas mais, se falarmos na Selecção Nacional, então o caso muda ainda mais de figura: vira loucura total. Ela berra, fala, chama pelo Ronaldo, mesmo que ele não esteja em campo. E o slogan Portugal...Portugal...Portugal, acorda oz vizinhos.


Acho que só sabe esse nome. Na verdade eu não entendo nada daquele entusiasmo. Sei que ela faz uma festa e que há três pontos fixos: Benfica, Selecção Nacional, Ronaldo, aliás, 4, esquecia-me do Scolari. E pronto, fica por aqui. Mas que se farta de divertir, lá isso farta. Só que ontem foi-se deitar a chorar e soluçava, dizendo, muito condoída:


-Isto não é justo. Não é justo... E o caso ficou feio a partir do momento em que a mãe se começou a rir do inesperado pranto. Senhores, a petiz ficou fera.


Vá lá saber-se da dimensão da desilusão. Ver o seu Benfica ganhar e acabar a perder foi muito complicado para a sua cabeça, mas foi muito emotivo. Hoje, acordou fresca como uma alface e já nem se lembrava, penso, do Benfica, nem do Sporting, nem sequer da bola. Isto faz-me tentar pensar no fenómeno que é o futebol, que galvaniza multidões em todo o mundo e ataca, todas as classes sociais, todas as idades e todos os sexos. Curiosíssimo. Gostava de entender o âmago da questão, mas não entendo. Voltando ao Benfica, recordo que ele vai enfrentar no próximo domingo, o poderosíssimo Tri Dragão, no seu campo, por certo esgotadíssimo, rodeado de apoiantes azuis, uma claque aguerrida, capaz de fazer tremer o mais temerário David.


Só que desta vez, a Águia vai voar tão alto que vai sair do Porto, com três golões, três pontos, debaixo do braço. E, a partir daí ruma a Angola para distribuir maravilha. Nesta sua derrota em Alvalade associo o caso ao que aconteceu com a terceira posição (injusta, claro) do Ronaldo, na classificação do Melhor Jogador do Mundo, desde logo achei que só lhe fez bem: ele é muito jovem, já tem tudo, se lhe faltam metas para alcançar, é insípido! Assim, Ronaldo, por certo furioso, tal como eu que votei nele, reuniu talento, raiva, directrizes e teve um 2008 empolgante.


Assim será com o Benfica. Já não espaço para panaceias. Se a culpa é do presidente, dos técnicos, dos preparadores físicos, do departamento médico, das botas, das meias, da forma como gerem o Clube, acabou. Terminou. Já foi. A partir de agora não há espaço para mais paninhos quentes. Façam ou não eleições antecipadas, pensem bem nos reforços que vão adquirir para a próxima temporada, não tornem o Benfica num entreposto comercial, resolvam o caso do Rui Costa (é um Maestro, merece apoteose), não continuem a obrigar o Petit a sair de gatas do campo, de tão esgotado que está. Parem, pensem e decidam cerebralmente. As emoções ficam para os relvados.



O Benfica não morreu em Alvalade; teve, apenas, um ligeiro desmaio na praia do desconforto

segunda-feira, 14 de abril de 2008

OS DIAMANTES DO CÉU DO NAMIBE


Os desertos (cobrem 33,7 milhões de km2 da superfície terrestre, com uma população de 500 milhões de pessoas) fascinam-me e, em paralelo, amedrontam-me. São espaços imensos e magníficos que para se abraçarem de peito aberto é necessário dominar a difícil arte de conhecê-los para, assim, os poder entender e testemunhar em toda a sua exótica espectacularidade e diversidade. Há desertos quentes, frios, todos imensos, encerrando valiosas potencialidades e sofrendo profundas e constantes agressões humanas e, actualmente, também climáticas.


Pessoalmente só entrei dentro do deserto do Namibe (Angola). Nele existe a maior duna de areia do mundo (cerca de 383m.), a sua área é de cerca de 50.000km2, estendendo-se por 1.600 km ao longo do litoral do Atlântico, no sul angolano. Percorrer o rendilhado das ondas aos pés das dunas viradas para o Cunene, é algo de irreal. Foi um passeio inesquecível, eram nove jipes e 3 motas todo-o-terreno, numa excursão barulhenta e entusiasmada, preparada para conhecer aquele que é considerado o deserto mais antigo do mundo (80 milhões de anos) e, sendo a sua maior parte desabitada sei que aí vivem, pelo menos, os Mucubais, um povo reservado, dizem que pouco expansivo mas de grandes tradições. Há anos atrás, elegeu Riquita, Miss Angola, como sua rainha. E ela ficou deslumbrante e régia nas vestes tribais.


A incursão no Namibe foi um dia de pura fascinação (e agitação) que aumentava de descoberta em descoberta. Deserto, para mim, estará sempre envolto na surpreendente imagem de Lawrence da Arábia (um grandioso filme de David Lean, premiado com sete Óscares) quando PeterToole, de olhos azuis brilhantes como água, vestindo alvas vestes, em cima do seu cavalo de neve, de longas, sedosas e soltas crinas, rodopiava, feliz, antes de partir para uma das suas batalhas. Uma cena arrebatadora.



No Namibe, tive oportunidade de ver muitas, imensas, de todos os tamanhos, as exóticas Welwitschia Mirabilis (havia uma pequenina no cinema Miramar, em Luanda), planta que só existe neste deserto e pode durar mais de 100 anos. Almocei à sombra das dunas, deliciei-me ao olhar a maciez das areias, lisas, brilhantes que quando marcadas por isoladas pegadas me fizeram lembrar, novamente, a grandiosidade de Lawrence da Arábia. O meu plano visual era idêntico ao captado pela visão de Lean. Surpreendente.


Achei fascinante a descoberta, aquela lonjura de areia a perder de vista e até o calor do dia parecia não incomodar, tal era o encantamento da aventura. Regressei ao cair da tarde a Moçâmedes e não ousei passar a noite no interior do Nabime. Hoje, sinto pena por não o ter feito, dizem os sabedores no assunto, que a noite é o mais fascinante no deserto. Não há paz nem liberdade maiores do que a sentida debaixo das estrelas enormes e brilhantes como diamantes no céu. A sensação, dizem, é única e, enfeitiçante. Não me aventurei por medo do desconhecido, provavelmente. Ou pela sensação de isolamento e aridez. Neste sector o deserto Atacama (no norte do Chile) é o recordista mundial em aridez: durante 45 anos, entre 1919 e 1964, não recebeu uma gota de chuva!


No tocante a desertos a minha vida não é muito diversificada, até agora. Pezinhos nas areias do Namibe e sobrevoar, por diversas vezes, o deserto do Saara (o maior de todos seguido pelo Gobi, na Ásia e um dos mais quentes –pode chegar aos 60º-, ao lado do Kalahari), o lugar mais quente do planeta, com 9.065.000 km2, quase do tamanho da Europa, recheado de caminhos para caravanas e frondosos oásis e, apesar de ir bem escudada dentro do avião nos dez mil pés de altitude, confesso que a emoção não deixou de ser intensa e intimidante. A grandiosidade, as dunas, rochas, os recortes, os mares de areia, de muitas tonalidades, não permitiam desviar o nariz da janela redonda que se abria para um mundo de grandeza, de mistério e de total encantamento. Curioso, apesar de não dominar bem o assunto quando penso em desertos, sinto liberdade.



Alguns especialistas acreditam que os desertos possam vir a tornar-se em fontes de energia limpas do século XXI. Argumentam que uma área de 800 km por 800km de um deserto como o Saara poderia capturar energia solar suficiente para gerar todas as necessidades mundiais de electricidade. O não aproveitamento desse recurso deve-se ao facto de os países desenvolvidos continuarem a preferir a contínua exploração petrolífera e ao enriquecimento das empresas que se dedicam à sua extracção. (BBC)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A PEQUENEZ DA NOSSA IMENSIDÃO


As noites macias sabem a silêncios mimados e têm a luz plácida das estrelas que crepitam no rendilhado do vitral fosco do firmamento. Mas estamos a viver desusados tempos de vendavais dispersos, de ventos doloridos, sem brandura, que agitam com severidade invernal, quando o calendário relembra timidamente que é o espaço é da Primavera. E a invulgaridade dos remoinhos dos ares cruzados, em fúrias, amedronta-nos e, o medo, priva-nos da felicidade.


No “ninho” do sofá confortável, no silêncio e na quietude, muitas vezes cúmplice de ilusões e de fugas, os poetas ou nós, simples mortais, falamos mais alto nos livros que lemos e relemos em surdina, nas tais noites de magia quando a chuva cai mansa e desliza pelas vidraças das janelas fechadas. Mas quando os ventos se cruzam em uivos e ecoam pelas veredas das serras ou caem nos mares crispados com sons de medos e destruições, aí, sentimos a pequenez da nossa imensidão.



Maio está a chegar nos bailados de poentes. Maio, doce e sereno, a ecoar acordes de Liszt; a convidar a passeios nas tardes esvaídas no silêncio de solidões povoadas. Maio é, pode ser (devia ser) a passagem da desarticulação dos tempos actuais para uma já desejada tranquilidade primaveril antes de recebermos a euforia estival, ponte inspiradora e revitalizante de alegrias, evasões e fúrias de viver. O Verão é tempo intenso, colorido, de grandes energias, de grandes projectos e, simultaneamente, de vincadas decisões, de eufóricos encontro e dolorosas despedidas. Sempre intensas e sofredoras.


Maio é especial. É um mês envolvente, calmo, sereno, mesmo doce, contemplativo e pode ser marcante: predispõe à doçura de sentimentos, deixa-nos capaz de entender a dimensão do perdoar, de amansar o coração, e predispõe a um melhor entendimento com os outros e como o amor que, subtilmente, paira no ar e nos pode envolver -por artes e magias-, se soubermos abrir as portas à inspiração.


Amor é, devia ser, a palavra permanente e a chave no coração de cada ser vivente no planeta Terra. É a palavra mágica capaz de salvar a Humanidade (com amor não se mata, não se trai, não se corrompe. Não há espaço para a insensibilidade, para a cegueira da Alma. Para a surdez dos sentidos). Parece fraca a ideia mas, não. O mundo, para sobreviver, precisa de amor! Sem amor e sem o riso das crianças, não há Vida!


Maio, das inebriantes flores, tem a envolvência certa para momentos sublimes de profundas e esclarecedoras interiorizações. Experimente, no findar das tardes, olhar o horizonte e deixar-se levar pelo esplendor do Infinito. Ouça os acordes do Universo… só para si. É Maio! Pode ter a quietude palpitante de um oásis.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

SAUDADES DO PAPA DO AMOR


A 2 de Abril de 2005, às 20:30 (hora de Portugal), 60 mil pessoas enchiam a Praça de São Pedro, rezando e acompanhando os últimos momentos de João Paulo II (tinha 84 anos) que terminava um dos mais longos papados da história (27). Os olhos fixavam-se na luz do quarto onde tinha decorrido a longa agonia do Papa do Leste que encheu o Mundo de Amor e tocou no coração de milhões de pessoas que se habituaram a amá-lo. Em todos os cantos do Globo havia quem acompanhasse os acontecimentos pelas emissões televisivas e, por entre lágrimas e acenos de despedida dirigidos ao ecrã, libertavam a dor que já sentiam.




Na mesma praça, passados três anos (2008), uma multidão voltou a enchê-la, numa demonstração silenciosa de amor e de saudade por alguém que não esquecem e que continua a estar presente no coração e nas preces daqueles a quem ainda custa reter a dolorosa emoção de perda. Relembram a vida fascinante de Karol Jozef Wojtyla, nascido em Wadowice, perto de Carcóvia, ao sul da Polónia. Na cerimónia estava o seu sucessor, o Papa Bento XVI e 30 cardeais, que recordaram o carisma de João Paulo II.


-Tinha qualidades espirituais místicas excepcionais. Bastava olhar para ele quando rezava, disse Bento XVI


Apesar da saudade que ainda sentem os corações de milhões de católicos todos visualizam João Paulo II determinado, sorridente, simpático, amando o mundo e lutando para que a Paz unisse os Continentes. Era um desejo que levou consigo este ex-operário a quem os amigos chamavam Lolus, que se ordenou sacerdote em 1946, no Dia de Todos-os-Santos, e que a sua trajectória se viria a caracterizar por uma vitalidade espantosa. Além de se ter doutorado em Filosofia, Moral e Teologia ainda arranjou tempo para escrever poemas, folhetins de ficção literária, duas peças de teatro, pregar, educar e entoar canções. Viveu sob o signo do dinamismo e a sua vasta cultura e conhecimento de muitos idiomas (14) facilitaram-lhe a tarefa de ir ao encontro do Mundo e dos corações de todas idades que soube unir como ninguém.


Nas suas férias, gostava de se interligar com a Natureza e caminhar por ela horas e horas. Uma vez, nas montanhas do Colorado, quando Karol tinha 73 anos, um jovem ofereceu-lhe umas sapatilhas próprias para um relaxante passeio O Papa, de imediato, calçou-as e olhando para os pés, feliz e sorridente, proferiu um
entusiasmante

-Uau!

Crê-se que dentro de um ou dois anos será oficialmente declarada a sua beatificação. Será um dia radioso. Lembro o dia em que estive a seu lado, no Palácio de Belém (na presidência de Ramalho Eanes) à distância de uma mão. As suas vestes brancas, o sorriso e o olhar iluminados, irradiavam uma luz excepcional que, na altura, não soube decifrar.


A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro do nosso coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta – C.Jung

terça-feira, 8 de abril de 2008

PABLO NERUDA


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.


Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.


Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.


Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.


A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.


De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.


Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


domingo, 6 de abril de 2008

TEIXEIRA DE SOUSA - O COMBOIO DO ADEUS


...Os dias passavam com uma lentidão doentia e, tentando contrariar essa apatia, Catarina decidiu concretizar um plano que tanto tinha de louco como de desesperado.

-Não posso estar à espera que as soluções me venham ter às mãos. Tenho de tomar decisões e procurar pistas.


Em trabalhos anteriores, Catarina tinha conhecido o Dr. Germano que residia em Teixeira de Sousa (hoje Luau), em Angola. Era um profissional muito querido em toda a zona por tratar os doentes fossem de que Partido fossem e, mesmo quando (camufladamente) era chamado para lá da fronteira (Congo)), nunca negava os seus préstimos. Ajudou os feridos, os doentes, os velhos, as crianças, as mulheres grávidas com problemas nos partos. Tinha uma acção de movimentação privilegiada porque para este médico português não havia cores, raças ou fronteiras. Ele estava sempre onde era chamado.


Pensando nele, a jornalista concretizou um plano. Apanhou o comboio no Luso (hoje Luena) até Teixeira de Sousa. Foi uma viagem serena embora emotiva já que os passageiros pensavam que no minuto a seguir surgiriam as temidas emboscadas, mas acabaram por ser horas agradáveis passando por paisagens deslumbrantes. Os restaurantes dos comboios são sempre especiais, envolve-os um subtil romantismo e um ténue véu de mistério. Este não era diferente. Catarina entrou, escolheu uma mesa junto à janela e olhou, deliciada, a paisagem à medida que o comboio avançava pela mata, dos verdes caminhos do perigo. Com o passar dos quilómetros, sentiu-se próxima de uma solução pela qual ansiava. Foram horas de viagem. Horas de medo e de olhares perdidos no vazio, com arritmias num coração empolgado e sofrido.

Catarina precisava de se libertar da angústia dos últimos tempos, sentia-se no limiar das forças físicas e quando a viagem terminou pareceu-lhe ter atravessado o mundo. Olhou a estação de Teixeira de Sousa e respirou profundamente. Em seguida, procurou o hotel e nele descansou o resto do dia. Na manhã seguinte, encontrar-se-ia com o Dr. Germano, no café da praça. Ambos foram pontuais. O contacto tinha sido feito a partir de Luanda e, apesar de superficialmente, Catarina tinha tocado no assunto que a levou a procurá-lo. Pessoalmente havia maior disponibilidade para focar em pormenor tudo o que sabia e tudo o que desejava descobrir. Infelizmente o médico, que se mostrou um atento ouvinte, no final não teve nada de conclusivo para lhe dizer.


-Catarina, sei dessa operação, foi das grandes e fez muitas baixas. Capturados, não ouvi dizer que tivessem sido feitos, se isso tivesse acontecido duvido que não soubesse. Sabe, eu funciono de uma forma que lhe poderá parecer estranha, mas estou em todos os campos de batalha! Sou médico, o único nestas paragens, não posso deixar morrer ou de assistir quem me pede auxílio, independentemente de todas as regras estipuladas. Para ser franco e não querendo ser pessimista, penso que o seu amigo foi vítima mortal dessa batalha, mas também sou de opinião que se deve tentar tudo até estarem esgotadas as buscas. Bom, vamos à fronteira, tenho lá um contacto que nos pode ser útil. Está disposta a entrar em terrenos perigosos?


-Dr.Germano, não estar neles é que me deixaria admirada. Vamos, por favor. Apesar de um leve sorriso, Catarina não conseguiu disfarçar nem a amargura nem a expectativa.

A viagem até à fronteira foi feita na ambulância com o Dr.Germano, um condutor e um enfermeiro, ambos negros. Catarina não desconhecia que entrar naqueles terrenos era desafiar a sorte. As minas, pródigas na zona, intimidavam-na. Sempre a intimidaram. Ainda se recordava quando no vale do arame farpado, no Úcua, elas, apesar de simuladas, provocavam arrepio nos militares que rastejaram em zonas demarcadas, no percurso de instrução nas temíveis cinco semanas de avaliação.


-Por favor, vá atrás. Disse o médico.Vamos ser vistos e eles não estão habituados a encontrar aqui uma mulher. O nosso escudo é a ambulância mas, principalmente, sou eu. Eles precisam de mim e não escondo que, neste momento jogo com isso. O Augusto é o meu enfermeiro, já está habituado a estas movimentações. Vamos, suceda o que suceder, não se assuste porque vai acontecer alguma coisa, essa é a forma de me dizerem passaste por seres tu, mas nós vimos-te. Está assustada?

-Francamente não sei o que lhe dizer. Assustada? Dr, está a ser gentil, estou em pânico!

A viagem para lá decorreu sem incidentes de maior. Pelo vidro que separava o banco da parte de trás o Dr. Germano, a determinada altura, disse a Catarina:


-Não olhe, mas eles estão emboscados no lado direito, se dispararem não se assuste, é para intimidar.

Catarina começou a sentir-se mal, mas não disse nada. Quando chegaram à parte que marcava a fronteira (um risco de separação ao meio da ponte), o médico olhou-a e disse:

Está pálida, com um ar abatido. É tudo medo? Catarina sorriu e abanou os ombros


-Já passa .


A paisagem era invulgarmente bonita. O rio de águas transparentes, saltitante pelos seixos grandes e redondos, originavam pequenas cascatas faíscantes e musicais. Esse rio unia as duas fronteiras (Angola/Congo). Lavadeiras (no lado da Congo), sorridentes, indiferentes às realidades políticas, lavavam a roupa e acenavam ingénuas (ou provocadoras) na sua seminudez, que lhes deixavam o tronco nú. O Dr.Germano encaminhou-se até ao meio da ponte onde já tinham chegado dois guardas da fronteira e um terceiro aproximava-se. Catarina seguiu o médico e ao aproximar-se dele este parou o diálogo que mantinha com os guardas, obviamente armados. Virando-se para eles e conduzindo Catarina para o seu lado, disse-lhes:


-Não a apresento oficialmente mas, particularmente, esta é a jornalista de quem lhes falei.Os interlocutores olharam Catarina com alguma simpatia, (pelo menos sem agressividade visível) e disseram num tom que pareceu cordial:


-Lamento o que aconteceu ao seu amigo. É a guerra! Disse um deles

Falar com o inimigo não era nada normal e provocava uma sensação estranha.Talvez medo misturado com curiosidade. Catarina esboçou um sorriso e baixou ligeiramente a cabeça:


-Obrigada.

O Dr. Germano manteve um diálogo mais prolongado e a sós com os militares e quando voltou o rosto expressava um certo desalento.


-Lamentou não ser portador de boas notícias, mas disseram-me que o Quartel General já teve conhecimento dos corpos de dois oficiais encontrados, não muito afastados do local da emboscada.


- Dois? Mas eram três!


- Eu sei. Espero que o terceiro seja o seu amigo mas francamente, não sei se será bom estar vivo. Pode ter sido capturado. Como lhe disse não soube do aprisionamento de nenhum militar português. Neste caso tem duas soluções: ou entra em desespero ou enfrenta a esperança e luta por essa réstia. Qual escolhe?


- A última, claro...


Não acabou a frase porque a ambulância travou brusca e inesperadamente.


- O que foi? -Perguntou Catarina.


-Temos a estrada bloqueada. Não saia! Disse o médico.


-Desculpe, mas saio. Aqui dentro sou um alvo fácil, perto de si estou mais protegida. Vou sair, suceda o que suceder. Aqui fechada, nem pensar. Abra-me a porta, por favor.


-Não sei se deva...


-Abra Dr., à minha responsabilidade; se sabem tudo, também sabem que vou aqui.


Apesar do médico discordar do raciocínio acabou por abrir a porta e Catarina saltou rápida. Na estrada, um tronco enorme bloqueava o acesso.


-Mas passámos há pouco e tudo estava livre como é que isto aparece aqui?- Perguntou Catarina


-É o cartão de visita, é a forma de me dizerem: nós vimos-te e passas porque queremos. Augusto e o Vítor, empurraram o tronco com a alavanca que estava debaixo do banco.


-Cuidado com as mãos! Catarina não sei qual é a sua ideia e também não sei qual é a deles, mas, pelo que conheço da psicologia é melhor vir para o meu lado. Você aqui não é valiosa, eu valho mais, acredite em mim.

Catarina concordou e limitou-se a pôr as mãos no tronco porque força, claro, não tinha, mas queria ajudar. Passaram mais de quinze minutos em sucessivas tentativas de libertarem o trilho poeirento do obstáculo no percurso. Ao entrarem para a ambulância, Catarina mais serena, diz:


-Afinal eles só nos quiseram assustar.

Inesperadamente do lado esquerdo da mata, veio um aviso bem sonoro:


-Pois sim, passa cá sozinha que vais ver o que te acontece!

Catarina ficou sem pinga de sangue, incapaz de balbuciar qualquer palavra. Entrou na ambulância, sentou-se e escutou o fechar da porta. A viagem decorreu sem mais incidentes.

Chegados ao centro de Teixeira de Sousa ficou combinado encontrarem-se no hotel pelas oito horas. Jantariam e trocariam impressões sobre as últimas novidades que o médico tinha conseguido saber na fronteira. No seu quarto, Catarina pediu uma chamada para Luanda. Ligou para casa de Daniel, o médico da unidade, colega e grande amigo do capitão Fernandes.

A jornalista teve necessidade de esperar uns dias pelo regresso à capital. À partida, Catarina agradeceu todo o apoio dado pelo Dr. Germano, com o qual teve longos e elucidativos diálogos relacionados com a riqueza, o futuro (estava-se em 1969), a divisão angolana, as influências externas e a unificação que um dia seria, na sua visão, uma realidade.


-Terá muito que ver com a futura coesão europeia e com o papel que Portugal conseguir ter frente aos que quererão explorar a riqueza de Angola e não o seu coração. E muito menos o seu povo. Portugal terá que ser sábio perante os tempos terríveis que surgirão. Apesar da conquista da independência, os angolanos percorrerão anos e anos de travessia no deserto. Aguardam-nos muitos sofrimentos

- Confesso, diz Catarina, que não me é fácil acompanhar o seu raciocínio. Não entendo quando me fala na coesão europeia, isso é um sonho que ainda foi realizado! Portugal está de costas viradas para Espanha; a Suíça é uma ilha no meio de países vivendo uma eterna neutralidade; a Bélgica tem divisões; Espanha, idem. A Alemanha dividida, mata quem tenta saltar o muro à procura da liberdade!


-É isso! Quando esse muro cair ( símbolo opressivo, vergonhoso) começará a ouvir-se o Sopro da Liberdade e, simultaneamente, nascerão as convulsões para uma Europa que, para cumprir a sua missão (o Continente antigo, berço da Civilização e da Cultura, correrá riscos de alarmante envelhecimento) terá de mexer nas fronteiras, compreender a ânsia dos povos, e lançar âncoras nos portos agitados que serão o desequilíbrio emocional dos desenraizados, perdidos; dos que sem emprego e sem futuro são capazes de mover massas humanas unidas no desejo de viver. Há povos que não desistirão nunca das suas ânsias.

-Estou absolutamente abismada Dr. Germano, não lhe conhecia essa capacidade de futurologia e o rigor da análise é inquietante. Em que se baseia para pensar assim? Perguntou Catarina, verdadeiramente interessada, mas a resposta do deixou-a intrigada.

-Basta abrir o Mapa do Mundo! Abra-o, assinale onde há convulsões e veja se elas não estão ligadas com as fronteiras. Diz-lhe o médico com um ar tranquilo deixando no ar um enigma de difícil resolução.

Mas Catarina não quer desistir.

-Falou-me da coesão europeia, mas como será possível? Qual foi o Continente mais devastado pela Guerra? A Europa, claro!

-Ah! Sim, foi horroroso, mortífero, foi a convulsão do crescimento, o renascer das cinzas. Nessa altura as pessoas consciencializaram-se da importância da sua força e conseguiram-se feitos épicos: a solidariedade colectiva reerguendo cidades dos escombros. A Paz começa sempre no coração de cada um. -Disse o médico com um olhar perdido no vazio segurando, maquinalmente, um copo de cerveja que não bebia...

-Gente que mais não era do que farrapos humanos no pós-guerra e que souberam ir às reservas mais íntimas da força que ainda lhes restava e readquiriram uma notável capacidade de lutar e trabalhar. Descalços, rotos e famintos, nunca perderam o orgulho nacional e, unidos na desgraça, reergueram, com dignidade, cidades monumentais. Este é o lado positivo da guerra. Faz acordar os acomodados, adormecidos, é o natural instinto de sobrevivência.

-É apologista da guerra? -Perguntou Catarina visivelmente admirada.

-Meu Deus, como eu odeio a guerra. Como eu a odeio! Toda a minha vida não vai chegar para esquecer o que aqui vivi. As guerras são verdadeiras barbaridades humanas. Falava-me na Segunda Guerra e concordo com a sua sensação. Foram números tão dramáticos que nos envergonham de pertencer à raça humana mas ela fomentou, nos sobreviventes, a ambição de vencer. Despertou-os para o trabalho, romperam as ideias e surgiu a dinâmica dos grandes anos, das fábricas em plena laboração, das descobertas sucessivas que fizeram rodar o Mundo.

- E os milhares e milhares de mortos? Murmurou Catarina.

- Falando friamente, não fique indignada comigo, diria que são os acidentes de percurso. Há sempre uns que são apanhados pela rede da pouca sorte, chame-lhe destino, chame-lhe má sorte, chame-lhe os sacrificados, o que quiser, mas houve (e haverá) os que nas grandes catástrofes morrem, e há sempre os outros, os que sobrevivem. Sem culpa, sem razão e sem lógica. Mas é assim! O Kennedy, morto há pouco tempo, era para a América o símbolo do seu sonho, mas acabou por ser morto pelos seus porque ousou defender os mais fracos e apontar situações de corrupção. A América ficará orfã anos sucessivos porque não será capaz de se emancipar da saudade de um homem que, apesar de algumas decisões erradas, fez renascer o orgulho nacional. O povo identificou-se com ele, quando Kennedy voltou a dar brilho a uma América cinzenta. É isso o que falta aos portugueses, esse será um ponto que lhes cobrará altos e terríveis dividendos.

- Explique-se melhor, por favor. Pediu Catarina

-Claro, refiro-me à nítida incapacidade do povo português, de uma forma geral, não estou a analisar casos individuais, de sentir esse orgulho nacional. O português é desunido. O português é muito acomodado, por vezes parece adormecido. Quando a união for uma realidade tudo se modificará e surgirão nos tempos certos os políticos certos e, juntos, povo e governantes, conquistarão o progresso.
Nunca mais esquecerão de apostar e desenvolver a Educação, a Saúde, a Solidariedade, bases de construção sólida de qualquer país Falei muito para tudo se resumir em duas coisas: a Europa precisa de se tornar num continente forte, em todos os sectores. Os portugueses têm de reconquistar o orgulho nacional, parece que perdido na glória do século XVI. Uma Europa forte e unida terá condições de intervir, de ajudar, de defender...

- Defesa pressupõe guerra! Argumenta Catarina, ao que o médico prontamente respondeu:

-Não, é uma forma de preparar a Paz! Daí a necessidade de umas Forças Armadas organizadas, preparadas e moralizadas. Um continente sem defesa é como uma linha de pesca sem anzol, outros acabarão por colocar o isco para que o peixe venha morder. E, enquanto a Europa não for capaz de resolver os problemas dentro da sua própria casa, sem ajudas externas, muitos peixes irão picar no anzol

-Estou completamente fascinada e perplexa, Dr.Germano Vou pensar em tudo o que me disse, mas numa coisa estamos de acordo: que Angola se torne livre e seja inteligente para não deixar que outros venham a ser os seus colonizadores ocultos, impedindo-a de trilhar os caminhos do progresso e da harmonia.

Adeus, Dr.Germano. Catarina acenou-lhe nos degraus da carruagem que a levaria de regresso ao Luso.

-Nunca saberei dizer-lhe como o admiro e como me fascina a sua acção notável que aqui desenvolve desinteressadamente, sem esperar nem louvores nem medalhas. O senhor é um verdadeiro herói. -Disse a jornalista, à janela do comboio que se afastava lentamente, prolongando o adeus que acabaria por ser o último.

Tempos depois Catarina soube que o Dr.Germano fora morto numa emboscada, na zona da fronteira onde habitualmente prestava assistência médica. Todavia, muitos foram os nativos de todos os quadrantes que acompanharam o caixão na sua última viagem de comboio naquela zona angolana, antes de regressar a Portugal. A linha de Teixeira de Sousa teve um movimento desusado. Escondidos na vegetação homens, mulheres e crianças cobriram de cor a urna com flores que atiravam ao comboio do adeus, na tentativa de que algumas ficassem lá. Numerosos grupos ocultos na mata ao longo do percurso disseram-lhe, à sua maneira, adeus, disparando rajadas de G-3. O Dr.Germano teve um “acidente de percurso? Teve pouca sorte? Cumpriu o destino? Ou teria, apenas, terminado a sua missão?”
Quando soube da notícia Catarina chorou e, simultaneamente, recordou o vigor da sua postura perante a vida: na lucidez e na generosidade. Sentiu-se profundamente triste. Chorou, mas sentiu que o tinha no coração.


-Esteja onde estiver, Dr.Germano penso que estará bem. Trouxe uma missão para cumprir na vida e concretizou-a. Merece tranquilidade. Descanse em paz.

sábado, 5 de abril de 2008

OS GOLOS DE MANTORRAS SABEM A MEL


Quando hoje escutava um programa desportivo na Antena Um, apanhei indirectamente no ar uma declaração feita não sei por quem que me deixou verdadeiramente encantada O termo exacto é: deliciada. Achei de uma ternura tocante. Sei que era um alto responsável do futebol angolano (não tive tempo de apanhar o nome) e, referindo-se à breve deslocação do Benfica (o Glorioso) a Angola, quando lhe perguntaram onde gostaria de ver Mantorras jogar, disse esta maravilha:


- Gostava que jogasse na primeira parte no Benfica, e, na segunda, na equipa angolana (não sei se foi por esta ordem), mas esses aspectos técnicos não sou eu que decido, nem sei se é possível, mas gostava...


A pessoa que proferiu este pensamento conquistou-me. É preciso ter uma visão muito ampla, um imenso sentido patriótico e um não menos sentido desportivo para dar esta pérola ao jornalista…Gostava de o ver jogar nos dois lados. Mas, é mesmo lindo! Andámos já, anos e anos, em lutas terríveis (Portugal e Angola) e, hoje, civilizada e democraticamente, pensamos e agimos como pessoas de bem, não permitindo que as más lembranças se cruzem com a actualidade e muito menos com o futuro.


A voragem dos tempos modernos não se caracteriza por uma vastidão homens que não têm receio de unir a inteligência à sensibilidade e torná-la pública. Ele estava a falar do nº 9, avançado do Benfica que, em minha fraquíssima opinião, reconheço, deveria ter sido um segundo Eusébio no Clube das Águias mas, a vida, o clube, os médicos, o destino, ou, simplesmente o joelho, não o têm tratado bem. Apesar disso, e admiro sem reservas essa postura, Mantorras tem demonstrado uma força de vontade e uma verticalidade que impressiona. Já o vi desanimado, mas nunca o vi atirar a toalha ao chão, e a sua luta mental e física, não deve ter sido nada fácil. Já deve ter passado as passas do Algarve.


Quando Mantorras surgiu –eu e as minhas intuições- pensei: vai revolucionar o Benfica. Revolucionar, não revolucionou mas já tirou o Clube da Segunda Circular de muitos apertos quando, em momentos cruciais, funciona como um S.O.S., fita a bola e, poderosamente, remata à baliza. Os golos de Mantorras sabem a mel. São doces, apaziguam. Não sei muitos pormenores sobre a deslocação do Benfica, no final da temporada a Angola onde já esteve em 2002, disputando a Taça da Paz. Sei que vai aí permanecer oito dias, defrontar a selecção angolana, contactar com elementos jovens de vários clubes para fomentar o desenvolvimento do futebol naquele país. A partida do Benfica tanto pode ser a 12 como a 19. Porquê? Simples! Se chegar ao Jamor a 18 (s-i-m), partirá no dia seguinte, mas se as coisas não forem muito místicas, embarcará a 12. Estão a entender, não é? Meias-finais…eliminação ou não.


Enfim, Luanda que se prepare; o Benfica vai chegar aí, com as estrelas do plantel de Chalana, além de Filipe Vieira, Eusébio, a águia Vitória, e realizar-se-ão exposições de troféus, fotos de momentos inesquecíveis, além, claro, de desafios onde Mantorras por certo jogará. Em que lado do campo ele se irá movimentar? E isso é verdadeiramente importante? Temos de admitir que qualquer estratégia é excelente quando os campos cheios de adeptos vibrarem em uníssono e calorosamente frente à dinâmica praticada nos relvados. Essa é a verdadeira missão cultural do futebol: juntar, unir, nas bancadas, apoiantes de clubes diferentes que respeitam e admiram mutuamente.




Não sei se é dos regulamentos ou não um jogador, numa partida de futebol, jogar nos dois campos, mas era bonito!

sexta-feira, 4 de abril de 2008

MANAUS, A DIVA DA FLORESTA



Confesso que tenho uma ideia idílica de Manaus (Brasil), desde há muito tempo, mas a excelente série, creio que da Globo, Amazónia, voltou a reacender a chama do fascínio na minha fértil imaginação. Frequentemente projecto para mim própria a noite que deve ter sido deslumbrante, esplendorosa, emotiva e provocadora, de 31 de Dezembro de 1896, que assinalou a inauguração do Teatro Amazonas (no apogeu do Ciclo da Borracha), uma verdadeira pérola no calor sufocante e exótico da floresta. Deve ter sido algo mais do que gratificante. Foi, seguramente, selectiva, povoada por pessoas maravilhosas, vestidas a rigor onde o frou-frou das sedas de elegantes damas, contrastava com o rigor dos fatos masculinos, num acontecimento mundano e artístico, ímpar na região.


Convidados e artistas, entre eles a soprano Maria Bosi, levados pela mão do maestro e empresário Joaquim Franco, surpreenderam-se a cada descoberta no magnífico, majestoso edifício, que estavam a conhecer na noite que assinalava o terminar de um ano, já de si um tradicional momento festivo. Mas aquele, em Manaus, deve ter superado tudo o que a mais inspirada criatividade tivesse capacidade de sonhar. Nessa noite realizou-se apenas um concerto, mas a 7 de Janeiro de 1897 deu-se início à temporada lírica que durou três meses e contou com 50 espectáculos. Que riqueza de momentos devem ter sido, vividos numa cidade próspera financeiramente, é verdade, graças ao triunfo do látex da seringueira, produto que a Europa e a América disputavam e valorizavam. Vida económica desafogada mas sem vida cultural. Que ousadia foi necessária para, em1881, o deputado Fernandes Júnior apresentar um projecto de construção de um Teatro (ainda hoje é um dos mais bonitos do mundo) capaz de receber uma sociedade exigente que sentia a falta de espectáculos, companhias e artistas que triunfavam em plateias internacionais.




O projecto arquitectónico escolhido (fonte Wikipédia) foi o da autoria do Gabinete Português de Engenharia e Arquitectura de Lisboa, em 1883. O início das obras foi em 1884 mas viria a sofrer algumas paragens e só no governo de Eduardo Ribeiro, recuperou dinamismo e entrou na recta final. Arquitectos, construtores, pintores e escultores da Europa foram levados para a Amazónia e, em conjunto, realizarem uma verdadeira obra de arte: lindíssima, luxuosa, arrebatadora onde se destacava uma salão nobre, com características barrocas; a pintura do tecto A Glorificação das Belas Artes na Amazónia, da autoria de Domenico de Angelis, resplandecia. Cristais de Veneza, quadros de pintores de renome, veludos, brocados no Teatro Amazonas (com capacidade para 685 pessoas), a prova viva da prosperidade, na fase áurea da borracha. Na altura, a inesperada iniciativa (Ópera na selva!) fascinou o mundo rendido à maravilha concretizada em Manaus, cidade que despertou para o mundo da Arte com um vigor e uma elegância exemplares.


Ao longo dos anos passaram pelo palco as melhores companhias de Ópera; cantaram-se e tocaram-se obras dos maiores compositores; dançaram os bailarinos mais disputados. Sucederam-se noites de apoteose, de encantamento, num local que enfrentando o tempo e a história, ainda hoje mantêm a traça original e se mostra com a opulência e o brilho com que se abriu para uma sofisticada plateia, na noite de 31 de Dezembro de 1896 que, rendida, bateu as primeiras vibrantes palmas que ecoaram pelos rios e recantos da floresta Amazónica que, sobressaltada, tentava descodificar os sons que se libertavam das paredes do edifício do novo Teatro.



Rezam as lendas que ainda há madrugadas tropicais e perfumadas, com sons de vozes cristalinas, entoando melodias imortais que se espalham, misteriosamente, pelos luares grandiosos, banhando espaços onde há 112 anos só havia árvores...




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quarta-feira, 2 de abril de 2008

A IMPORTÂNCIA DE SE CHAMAR JOSÉ MOURINHO


Famoso, poderoso e milionário, Mourinho ia para o Inter? Não! Não era entusiasmante. O Inter já é campeão, 3 vezes, que mais resta conquistar? Poderia mudar de táctica, a tradição do futebol italiano mas, a emoção? Essa está no agarrar num clube que nunca ganhou nada e fazer dele campeão. Isso é que é de génio. Inter? Não! Foi manobra de diversão. Ele é assim! The Special One, optou pelo 1º de Dezembro, um Clube de futebol de Chão de Meninos (Sintra). Passava-lhe pela cabeça?


Foi assim que ontem terminei a minha crónica, aliás o meu monólogo com o espaço que vejo da minha janela que se abre para o mundo. É de lembrar que ontem foi dia 1 de Abril, o consagrado e internacional Dia das Mentiras. Assim, o meu delírio com Mourinho não passou disso mesmo. Uma mentira, um delírio imaginativo que, através da grandiosidade da Net tomou direcções e chegou onde foi chamado, cumprindo a missão para que foi criado. Agora só para o ano nos será permitido mentir novamente, com subtileza e criatividade. Não foi o meu caso. Não tive graça, fui só um pouco provocadora.


Graça, graça, teve aquela (já há anos) quando um comandante de um avião, antecedendo a manobra de aterrar pediu aos passageiros que por motivos técnicos, seria necessário levantarem os braços para o avião ficar mais leve quando o trem de aterragem tocasse na pista. E não é que todos levantaram?! Não é uma delícia? E aquela do astrónomo Patrick Moore que avisou através da rádio que as 9h,47 um acontecimento inédito ia acontecer: Plutão iria passar por trás de Júpiter, causando um alinhamento gravitacional o que reduziria a gravidade terrestre. Moore disse que se no momento exacto os ouvintes pulassem, sentiriam a sensação de flutuar. E, insólito, centenas de pessoas disseram que sim: que sentiram! A fleumática BBC fez uma montagem com pinguins voadores que deixavam, voando, o gélido Árctico e rumavam, por certo felizes, às quentes paragens Amazónicas.


Num outro ano a célebre BBC também relatou a alegria de fazendeiros suíços ao apanharem das árvores, esparguete! Tratava-se de uma colheita sensacional, graças ao clima e ao triunfo sobre pragas existentes. E, milhares de telefonemas foram recebidos na redacção para saber mais pormenores sobre o macarrão que se colhia das árvores... Este ano o diário britânico The Sun, lembrou-se de informar que o presidente francês. Nicolas Sarkozy (que não é tão pop como o fazem crer, embora tenha ajudado à ideia, com algumas atitudes tomadas. Mas ele não é só isso), que queria ficar mais alto que a sua mulher, Carla Bruni, se iria submeter a várias intervenções cirúrgicas (em Genebra) para aumentar os ossos, esperando crescer 13 centímetros.


Parece que esta ideia do Dia das Mentiras surgiu em França que desde o começo do século XVI comemorava o Ano Novo no dia 25 de Março, data que marcava o início da Primavera. As festas duravam uma semana e terminavam precisamente no dia 1 de Abril. Em 1564, depois da adopção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX determinou que o Ano Novo passaria a ser comemorado no dia 1 de Janeiro. Mas ficaram resistências à ideia e, ainda hoje, se usa a malícia e a imaginação em cada início de Abril (é o 91º dia do ano no calendário gregoriano, e 92º em anos bissextos). Quer dizer: faltam 274 dias para 2008 terminar.


Qual será o clube que Mourinho estará a levar à vitória, no final deste ano? Vai uma aposta?

terça-feira, 1 de abril de 2008

MOURINHO EM CHÃO DE MENINOS


Pois é! Foi precisamente hoje que o nosso internacional The Special One, José Mourinho (ex-treinador do Chelsea), que todos diziam ir comandar a equipa do Inter de Milão (já se dizia que levaria Lampard e Drogba, decidiu inesperadamente, apanhando todos de surpresa, assumir o destino de uma equipa (fundada em 1880) que até agora participava no Nacional da 3ª divisão, série E. Participava (disse bem), pois a partir do momento em que José Mourinho pisar o relvado viçoso do estádio Conde Sucena, em Chão de Meninos, a vida do clube vai sofrer uma reviravolta de 360º graus e, pelo menos, dentro de dois anos, A Sociedade União lº de Dezembro será o futuro Campeão de Portugal. Conquistará a Taça e, no campo internacional, deixará o mundo do futebol estupefacto, ao arrebatar todos os títulos em disputa.


Esta atitude que poderá no primeiro impacto ser considerada absurda ou caprichosa, tem o seu quê de previsível e de lógica. Vejamos: José Mourinho é o melhor treinador do mundo (foi eleito duas vezes), aprendeu desde adolescente, ao lado do pai (ex-guarda-redes), a entender o futebol por dentro e a assimilar tácticas. Tornou-se num perito nos movimentos dentro dos relvados. A sua trajectória no Benfica (onde esteve 9 jogos. Que falta que ele faz na Luz), no Leiria (deixa-o em 3º lugar) e no Porto os feitos foram tantos que dão vertigens: título de campeão, Taça de Portugal, Taça UEFA. No cinzento Chelsea, Mourinho leva o clube de Abramovich a campeão inglês (o que não acontecia há 50 anos) e conquista a Taça da Liga.


A trajectória de José Mourinho é conhecida de todos. Digamos, resumidamente, que a partir do momento em que se torna o braço direito do treinador inglês Bobby Robson a sua carreira começa a tomar forma e nunca mais pára até ao dia em que por mútuo acordo, a 20 de Setembro de 2007, rescindiu o contrato (por uma soma super aliciante) com o Chelsea. Ficou no defeso, no tempo para saborear a vida familiar. Ficou a estudar, a dar sorte ao Vitória de Setúbal, só por viver na cidade do Sado, as ondas positivas chegavam lá, ao balneário, estádio.


Famoso, poderoso e milionário, Mourinho ia para o Inter? Não! Não era entusiasmante. O Inter já é campeão, 3 vezes, que mais resta conquistar? Poderia mudar de táctica, a tradição do futebol italiano mas a emoção? Essa está no agarrar num clube que nunca ganhou nada e fazer dele campeão. Isso é que é de génio. Inter? Não! Foi manobra de diversão. Ele é assim! The Special One, optou por Chão de Meninos (Sintra). Passava-lhe pela cabeça?