UMA MULHER DESLUMBRANTE
(Gabriel Garcia Márquez)
Ponto de encontro entre a fantasia e a realidade. Alinhar de pensamentos e evocação de factos que povoam a imaginação ou a memória. Divagações nos momentos calmos e silenciosos que ajudam à concentração, no balanço dos dias que se partilham através da janela que, entretanto, se abriu para a lonjura das grandes distâncias. Sem fronteiras, nem limites
O meu nome é Maria Elvira Bento. Gosto de olhar para o meu computador e reconhecer nele um excelente ouvinte. Simultaneamente, fidelíssimo, capaz de guardar o meu espólio e transportá-lo, seja para onde for, sempre que solicitado. http://brumasdesintra.blogspot.com e brumasdesintra.wordpress.com
Hoje, vou deixar cair a noite. Mansamente. Tão de leve e tão silenciosamente que nem a acordarei para nela me aninhar como se a noite fosse o canto do meu ninho onde me envolvo e me aquieto, na longitude dos espaços que conquisto. Hoje, vou mesmo deixar cair a noite. Delicadamente. Como os teus dedos quando tocam a pele e deslizam pelos braços como se fosse seda ou flor. Ou arminho ou tule esvoaçante. Se fosse capaz de mexer no teu mundo quando sinto o teu respirar um Stradivarius apareceria, vindo de qualquer parte do mundo, para entoar a melodia perfeita. Depois, apetecer-me-ia parar o tempo.
http://www.youtube.com/watch?v=O_zo57bqyws
Os tempos actuais caracterizam-se por dificuldades que toca a todos. Tanto os jovens como os idosos são atirados para a vertigem de um mundo tresloucado que há muito parece ter perdido o Norte. Uns, olham para o futuro e receiam-no, sentem-se confusos, fragilizados, perdidos. Outros, vêem a estrada da vida mais pequena e, facilmente, perdem a esperança. Debatem-se entre as memórias e as fragilidades onde a solidão é, quase sempre, forte companheira. Para os que frequentemente se interrogam sobre as capacidades de vencer os desafios da vida, leiam as próximas linhas. Algumas vão (mesmo) surpreendê-los. Sabia que Wiston Churchil reprovou na quarta classe e só foi Primeiro-ministro aos 62 anos. Que Rudyard Kipling (Se...) viu rejeitada uma proposta de um jornal para o qual oferecera colaboração nestes termos...Lamento Sr. Kipling mas o senhor não sabe usar a língua inglesa. O professor do grande cantor de ópera, Enrico Caruso, disse-lhe que ele não tinha voz para cantor. Einstein, só falou aos quatro anos, e aprendeu a ler aos sete. O professor definia-o como ...mentalmente lento, nada sociável e sempre à deriva nos seus sonhos loucos. Pasteur, foi sempre um aluno medíocre, ficou em 15º lugar entre 22 colegas, no curso de Química. A aspirante a modelo Norma Jean viu-lhe negada a possibilidade de o ser numa agência que lhe disse... É melhor tirar um curso de secretária. Anos depois Hollywood abriu-lhe os braços e fez dela Marilyn Monroe. Um executivo da Decca Recording recusou (deve ter ficado arrependido toda a vida) um grupo de rock britânico chamado Beeatles, argumentando...Não gosto da música deles. Os grupos de guitarra estão a ficar fora de moda. Finalmente, Elvis Presley, em 1954, foi despedido pelo gerente do Grand Ole Opry... Não vais a lado nenhum rapaz, devias voltar a conduzir camiões.
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Hoje, vim ver o mar. Sentei-me no meteorito que há longas décadas, nesta praia perto da Ericeira, está encravado nas rochas que as ondas banham ou agridem consoante as marés mansas ou bravias. É pesado e escuro, parece que respira ou que emana energia. Gosto de falar com ele porque veio de outras lonjuras, tem outras vivências, riscou o céu em velocidade tresloucada, suportou temperaturas impensáveis e frios glaciares. Adquiriu saberes que nós, humanos, desconhecemos. Por isso gosto de olhá-lo, gosto de tocar-lhe mansamente como cada dedo fosse uma declaração de admiração numa mistura de mistério que fica bem com a minha ânsia de desvendar o desconhecido. Quando me sento nele a minha coluna fica perfeita, a minha silhueta aperfeiçoa-se. Fico esguia e fico leve, os meus ombros -longe das orelhas-, ficam soltos, sem tensões, e o meu queixo direcciona o meu olhar em frente, abrangendo aquela imensidão de água sussurrante e ondulante que se espraia aos meus pés. Hoje, vim aqui libertar emoções guardadas nas conchas das minhas mãos que viro ao Sol e liberto-as num quase ritual de engrandecimento mental. O mar conta-me, ensina-me tanta coisa! Olha para mim como se eu fosse especial e segreda-me ao coração, amansa-me a Alma, fala-me de amor, decifra silêncios. Abana-me quase até à exaustão quando a apatia tenta desfazer esperanças. O mar abre-me horizontes, lavo-me nele e ultrapasso sete ondas. Fico sagrada. O mar é cúmplice dos meus devaneios e orientador dos meus sonhos... Olha como dançamos bem. Repara como estamos elegantes. Sente como eu respiro.
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A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa coração. Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, criam em torno de si uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, escondem-se. O caminho do coração é o caminho da coragem. É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido. É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser. Coragem é seguir trilhos perigosos. A vida é perigosa. E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos. A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido. O perigo está presente, mas ela assumirá o risco. O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta. O coração nunca calcula. (R.C.M.J)
A noite está delicada, está uma noite de amor. Há incenso pelo ar na brisa fresca que atravessa montanhas depois de beijar mares, e aflora-nos o rosto languidamente em aromas inebriantes que mimam os sentidos. Que bonitas são as noites assim quando nos envolvem, nos enlaçam, e descem pelos braços como se fossem pétalas soltas ou borboletas suaves ou, ainda, movimentos de rios que cantam nos silêncios para as suas heroínas com brilhos de estrelas que gostam de viajar nas costas do vento. A noite está linda, sim. Convida a voos como se fossemos pássaros e faz-nos sentir deusas, amazonas deslizantes nas ondas de Sunset, saboreando sonhos que a saudade prende quando o sorriso terno enche o coração e encontra o olhar que tem o comovente silêncio colorido da ausência no carinho inacabado. O coração bate mais quando as mãos tentam encontrar as tuas e sentem o fulgor da vida nos teus pulsos. A noite está bonita. Transformadora. Melodiosa. Há tanto mundo nos teus olhos. Tantas promessas nos silêncios onde me perco e renasço com a leveza simples dos mortais que ignoram que o sonho se esfuma e voa. É bom saber que estás aí, ao alcance de um breve cerrar de olhos e que dos meus braços és capaz de fazer asas.